O convívio democrático pressupõe a inexistência de discriminações, quaisquer que sejam seus fundamentos.
Somente isso, no entanto, bastaria para levar-nos à compreensão de quanto estamos distantes de desfrutar de uma verdadeira democracia, não obstante os discursos inflamados e as profissões de fé reiteradamente proclamados.
Muitas vezes, contudo, essas manifestações e exercícios de oratória servem exatamente para esconder a pouca vocação dos que as praticam para a convivência na liberdade.
Interrogado por um jornalista a respeito de um adesivo promocional, o prefeito de Porto Velho, Roberto Sobrinho (PT), saiu do ponto, perdeu a compostura e passou a agredir o repórter verbal e fisicamente.
Mas o prefeito não era assim. Mudou depois que foi alçado à chefia do Executivo Municipal. Como líder sindical, muitas vezes saiu às ruas para protestar contra o autoritarismo dos dirigentes de plantão e em defesa da liberdade de pensamento.
Paradoxalmente, apela para a força e vai aos tribunais na tentativa de fazer calar os que discordam de sua administração, que anda caindo pelas tabelas.
Aqui e acolá, o prefeito ainda enche a boca para falar de modernidade. Acredita que estamos passando por um processo de modernização.
Para ele, pouco importa que os métodos rotineiramente usados na condução dos negócios públicos estejam exatamente iguais aos praticados pelo seu antecessor.
De igual modo, não interessa que as práticas políticas continuem a marcar-se pelo renitente autoritarismo que se pensava superado com a chegada do petismo ao poder.
É que, neste país de poucas letras e luzes, a cantilena demagógica impressiona com mais força que a evidência dos fatos.
Neste momento complicado da vida municipal, com as clínicas e os hospitais conveniados com o Ipam ameaçando suspender o atendimento aos servidores municipais, por falta de pagamento, é preciso ter tirocínio político-administrativo e humildade.
O prefeito precisa, imediatamente, sepultar a sua postura imperial. E que a modéstia, diante da grandeza dos problemas que se lhe antepõem, passe a ser a nova tônica de seu governo.
E mais: que o destempero verbal, que o tem caracterizado, ceda lugar à ponderação e ao equilíbrio, extremamente necessários, sobretudo num município com dificuldades colossais, que se aprofundam cada vez mais.
A palavra chave é entendimento. Primeiro com os servidores municipais, que andam decepcionados com o prefeito, principalmente depois do paupérrimo reajuste salarial, recentemente concedido à categoria.
Depois, o prefeito precisa pedir desculpas à população, por não haver cumprido promessas de campanha, especialmente nos setores da saúde, educação, do transporte coletivo e saneamento básico.
O prefeito já deve ter lido ou ouvido falar no princípio da autoridade. Pois é. Quando o dirigente público não dá o exemplo, fica difícil cobrar dos seus concidadãos, principalmente dos que o cercam, conduta semelhante.