A professora Nair, por Osmar Silva

Por Osmar Silva

A professora Nair, por Osmar Silva

Foto: Divulgação

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Nada a ver com o Dia do Professor comemorado no último domingo. Mas tem conexão. O fato é que, há dias, venho me lembrando da minha professora Nair, do terceiro ano primário, lá pela década de 50. E com saudade.

Ela foi muito importante em minha vida. Me ensinou muito, me corrigiu muito, me aconselhou muito e me castigou muito por minhas indisciplinas. Mas valeu. Agradeço.

Era um tempo em que o professor representava, de fato, a maior autoridade da sala de aula e alvo das mais altas considerações e por todos respeitada. Para nós, crianças e alunos, era como se fosse nossos país. Tinha todo o direito de corrigir nossas falhas e erros.

- Professora, meu filho está em suas mãos. Pode corrigir. E mande um bilhete relatando o acontecido que, em casa, eu cuido do assunto.

Essa procuração era passada na frente da gente, para não haver dúvidas quando fosse necessária correção.

- Olha Osmar, preste atenção no que seu pai está falando. E observe: sua mãe está confirmando. Se comporte!

Tive poucos professores nesta fase da vida. O comum era o mesmo professor dá aula para várias séries ao mesmo tempo.

Mas no terceiro ano só tive a professora Nair. Que nos recebia na porta da escola, colocava a gente em fila e nos ensinava a cantar o hino nacional, o hino da bandeira e o hino da República entre outros.

Ela ensinava todas as matérias. Uma pessoa carinhosa, atenciosa, brincava com a gente, dava conselhos, mas, diante da indisciplina ou da desobediência, mudava completamente.

Todos sabíamos que a palmatória de cedro encima da mesa não era enfeite. E ela fazia questão de lembrar:

- Seu Francisco! Tá vendo aquela palmatória ali? Sabe para que serve? Hem!!! Não ouvi, fale mais alto! Ah sim! É isso mesmo. E você quer experimentar?

Eu experimentei.

Certe vez, mandou um bilhete para o meu pai. Eu andava bagunçando.

No caminho para casa, joguei fora. Dias depois meu pai passou frente à janela da escola. Ela o chamou. Conversaram. Só do olhar que ela me deu, eu gelei.

- Seu Osmar, devolva o bilhete que mandei para seu pai. Se o senhor não tiver, vai ficar de joelho de frente para a parede durante o recreio.

Liberou todo mundo. Fiquei de joelhos. Ela me vigiando e corrigindo provas.

Certo momento, levantou:

- Vou beber água. Se comporte!

Ela saiu, eu levantei. Fui à sua mesa, peguei o pincel de goma arábica e fui passando nas páginas de num livro que ela estava lendo. Voltei para o meu castigo. Ela entrou. A turma chegou e a aula recomeçou. Saí do castigo. Mal sentei:

- Quem fez isso com o meu dicionário?

Silêncio mortal. Veio caminhando em minha direção. Parou na minha frente e me encarou. Derreti.

- Foi você! Foi ou não foi?

Nem é preciso dizer: uma dúzia de bolos. Seis em cada mão. Mais um bilhete. E uma surra de minha mãe, que acabou de completar 86 anos.

Falo de um tempo em que menino aprendia, professor era autoridade e tinha sua dignidade respeitada.

Tão diferente de hoje, em que o mestre apanha do aluno e até do pai do aluno. Vive sem motivação, com medo, humilhado.

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