Pela primeira vez o Brasil inteiro parou para refletir sobre negritude. Na quarta-feira (20), todo o país celebrou o Dia da Consciência Negra. O Rondoniaovivo entrevistou e ouviu quatro pessoas pretas, moradoras de Rondônia, que analisaram a importância da data.
O novo feriado, sancionado pela Lei 14.759/2023, remete a data da morte de Zumbi dos Palmares. Zumbi foi chefe do Quilombo dos Palmares e líder do maior reduto de resistência à escravidão do período colonial.
Como contou o jornal, a data, segundo o Ministério da Igualdade Racial, é uma conquista que marca a relevância da cultura e história afro-brasileira no país. A celebração, entretanto, foi recebida de maneira mista.
Apesar de 68% da população de Rondônia se identificar como preta, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), parte da população não gostou tanto assim do novo feriado - como é o caso de Cariolano Cardoso, microempresário pardo e morador de Porto Velho.
“Acho que a data foi sim, muito importante - é importante que o negro seja valorizado e tratado como igual - mas, de uns tempos pra cá (sic), virou [uma data] política”, disse Cardoso ao Rondoniaovivo. “O Dia da Consciência Negra é um dia que todo o país parou de produzir”.
Ele, que contou ao jornal que já foi vítima de episódios racistas, diz que o racismo deve ser combatido - mas pessoalmente mantém uma postura tranquila quanto ao problema. Diferente de Silvania Souza, advogada preta e membro do Coletivo de Mulheres Pretas Empoderadas de Rondônia.
A jurista, que também estuda a história da cultura negra no Brasil, defende que o Dia da Consciência Negra foi e ainda é importante, e ativamente luta para que o abismo racial do país seja remediado. “A consciência negra é uma consciência de todos”, cravou Silvania durante uma entrevista para o Rondoniaovivo.
“Por que a gente fala ‘consciência negra?’ Porque nós [pretos] somos os mais invisibilizados. A humanidade quis nos segregar. E, em função dessa segregação, é que nós resistimos em função - e vivemos resistindo o tempo todo. A ‘consciência negra’ é para chamar a atenção mesmo”, afirmou.
De acordo com um levantamento realizado pelo Datafolha, 59% dos brasileiros consideram que a maior parte da população do país é racista - apesar do país ser composto, em sua maioria, por pessoas não brancas (isto é, pretos, pardos, indígenas, asiáticos e etc…) Mesmo assim, de acordo com outro levantamento, realizado pelo Instituto de Referência Negra Peregum e pelo Projeto Seta (Sistema Educacional Transformador e Antirracista), mostra que o brasileiro vê o racismo - mas não se considera racista.
Isso se deve ao mito da democracia racial. Uma ideia incorreta, mas persistente no senso comum. Os quatro entrevistados ouvidos por Rondoniaovivo acreditam que isso acontece pela falta de conscientização, educação e letramento racial - sentimento sintetizado na fala de Ana Carla, mãe de santo ouvida pelo jornal.
“O preto precisa amar a sua cor”, disse Ana Carla em entrevista a Ivan Frazão no
Conexão Rondoniaovivo. Quando questionada sobre sua perspectiva para o futuro da comunidade negra de Rondônia, a mãe de santo orientou para que a juventude buscasse o letramento racial. “Se agarre a qualquer oportunidade. Estudem e sigam com a luta”.
Neste quesito - da sabedoria como motor de mudança - até Cariolano Cardoso concorda. “O único jeito de vencer o racismo é pela educação”.