'Os Dez Mandamentos' bate recorde de bilheteria 'esgotando' salas vazias

'Os Dez Mandamentos' bate recorde de bilheteria 'esgotando' salas vazias

'Os Dez Mandamentos' bate recorde de bilheteria 'esgotando' salas vazias

Foto: Divulgação

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O cinema brasileiro tem novo campeão. Neste domingo (10), "Os Dez Mandamentos", versão cinematográfica da novela da Record, bateu "Tropa de Elite 2" e se tornou o filme nacional com mais ingressos vendidos desde a criação da Embrafilme, em 1970 quando a contagem começou. Foram 11,205 milhões de bilhetes, segundo a distribuidora Paris Filmes, com base em dados do site especializado "Filme B". Na contagem da Rentrak, que também analisa o mercado, ainda faltavam 50 mil bilhetes (0,4%) para o recorde.

Porém, o número não significa que o longa bíblico tenha sido visto por mais espectadores do que o filme de José Padilha, que fez público de 11,146 milhões em 2010.Isso porque houve uma espécie de milagre da multiplicação dos ingressos:sessões oficialmente lotadas ostentavam poltronas vazias.Às 16h de uma quinta-feira (31/3), no guichê do Cinemark do shopping Raposo Tavares, uma vendedora disse que não havia mais ingressos para Os Dez Mandamentos. Justificou que a sessão estava fechada para um evento.Questionada, respondeu que um pastor comprara toda a sala em dinheiro vivo (ao menos, R$ 4.185). A gerente confirmou a história. A reportagem contou apenas 15 espectadores nos 279 lugares.

O Cinemark confirma que vendeu sessões inteiras de Os Dez Mandamentos, sem comentar mais detalhes.Em 1º de abril, sexta-feira, a sessão das 16h40 também estava esgotada no Espaço Itaú do shopping Bourbon, zona oeste de São Paulo. A saída, duas horas depois, foi rápida: oito espectadores.

Neste sábado (9), situação semelhante aconteceu no mesmo cinema. Duas salas estavam reservadas para o longa às 10h30: o cinema acabou abrindo apenas uma, e mesmo assim teve a maioria das poltronas vazias.

É NATURAL

Um dos responsáveis pelo cinema afirma que houve vendas coletivas para igrejas e a taxa de ocupação das salas foi de cerca de 70%. E que a venda antecipada é natural em blockbusters, como Os Dez Mandamentos: quem compra nem sempre vai à sessão.Na rede Topázio, que tem duas unidades em Indaiatuba (98 km de São Paulo), representantes da Universal e de outras igrejas compraram, usando dinheiro em espécie, ingressos para fechar de uma a duas salas por semana, segundo o proprietário, Paulo Lui. As salas, diz ele, estiveram sempre lotadas desde a estreia, em 28 de janeiro.

Marcio Fraccaroli, diretor da Paris, distribuidora do filme, diz que houve "alguma coisa de filantropia, mas só no começo da distribuição do filme. Algumas pessoas ganharam convite e não apareceram, a gente entendeu isso como uma coisa natural.""Houve de tudo. Gente que comprou sem ser evangélico, em grupo e igrejas que se organizaram e foram assistir."Fraccaroli, assim como Paulo Lui, ressalta uma virtude da estratégia de compra coletiva e distribuição de ingressos: apresentar o cinema a quem jamais havia pisado em um.

Na quarta passada (6), após o culto das 18h na unidade de Santa Cecília, centro de São Paulo, uma voluntária da Universal pediu o celular da repórter (que não se identificou) e informou que, caso ela não tivesse visto o filme mas tivesse interesse, poderia tentar conseguir um ingresso para o fim de semana.Diferentemente dos EUA que contabiliza seus filmes pelo faturamento em dólares e não dá bola para a quantidade de espectadores, o Brasil historicamente apresenta seus dados em renda e em ingressos vendidos o que se traduz em número absoluto de espectadores.A Ancine (Agência Nacional do Cinema), que regula o setor, não audita se cada comprador usou o ingresso. Por isso, não há como saber o quanto a bilheteria de Os Dez Mandamentos, ou de qualquer outro filme, corresponde ou não à realidade de espectadores efetivos.

Segundo exibidores e distribuidores, fechar sessões de cinema é comum, e ocorre com mais frequência em filmes religiosos, que tendem a mobilizar grupos de fiéis.Eles mencionaram "Maria, Mãe do Filho de Deus" (2003), com Marcelo Rossi, e "Nosso Lar" (2010) –neste, centros espíritas teriam fechado sessões e distribuído ingressos por orientação da Federação Espírita Brasileira. A associação negou.

DISPUTA

A Igreja Universal de Edir Macedo, também dono da Record (e dos direitos do filme), nega ter adquirido ingressos de "Os Dez Mandamentos", conforme reiterado inúmeras vezes à imprensa, que demonstra certa dificuldade em aceitar o fato (leia texto nesta página).Precisa ou não, a bilheteria de "Os Dez Mandamentos" é uma conquista para a igreja e para a Rede Record, ao curiosamente reproduzir nos cinemas a eterna disputa com a Globo na TV Tropa de Elite 2 é da Globo Filmes. Vale notar que parte do dinheiro usado na compra dos ingressos será encaminhada à Record, como produtora do filme.

Além disso, bater um recorde ajuda a promover a curiosidade pela segunda temporada do folhetim (exibida de seg. à sex, às 20h30), que estreou há uma semana e aumentou em 57% a audiência da emissora. No final do longa, um teaser exibe novas cenas da novela, e promete ao público que a história de Moisés ainda não acabou. A propaganda também não.

OUTRO LADO

Questionada, a igreja enviou nota na sexta (8):

"A Igreja Universal do Reino de Deus jamais adquiriu qualquer ingresso para 'Os Dez Mandamentos - O Filme', conforme reiterado inúmeras vezes à Imprensa, que demonstra certa dificuldade em aceitar o fato.""Desde a primeira Nota divulgada deixamos claro o apoio ao filme, juntamente com nossos grupos voluntários e de projetos beneficentes em todo Brasil, para que o público em geral tivesse a oportunidade de assisti-lo. E, ainda, que havia a distribuição de tíquetes adquiridos e doados por adeptos."

"O que negamos enfaticamente é que a Universal tenha comprado ingressos para distribuir, ou para fraudar a bilheteria do filme como veículos de comunicação acusaram, numa uma sórdida e preconceituosa campanha para desvalorizar um sucesso que já é histórico na dramaturgia nacional.""Esclarecemos, por fim, que as únicas sessões de exibição do filme organizadas pela igreja são absolutamente gratuitas, e visam levar a obra a comunidades carentes marginalizadas, como de moradores de rua, detentos em penitenciárias e internos em instituições para menores infratores.

 

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