Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – ANIMAIS POLÍTICOS Aristóteles definiu o homem como um animal político. Nada obsta. Das manhas das crianças ao mais complexo conchavo no Congresso, o homem está o tempo todo calculando o melhor meio para obter determinado fim – constatou Maquiavel. E a moeda de troca mais freqüente nesses processos é a concessão: para conseguir algo, concede-se alguma coisa. É assim que se faz política. Que o diga o companheiro presidente Lula da Silva (PT), que em busca de assegurar os votos peemedebistas no Congresso, acaba de conceder ao PMDB o seu quinto ministério no governo – o das Minas e Energia. Nem o avaro governador Ivo Cassol (afastado do PPS) escapa da regra, como ficou demonstrado com o festival de liberações de emendas com que obsequiou os deputados no final do ano, independente do partido (até o PT entrou na dança). Lula e Cassol à parte, do que nem Aristóteles e nem Maquiavel desconfiaram foi que, além do homem, outros bichos também são animais políticos. Isto é, pelo menos, o que informou a edição desta terça-feira (22) do jornal “The New York Times”, em artigo cuja tradução está na seção “Mídia Global” do site UOL. De acordo com o texto – da jornalista Natalie Angier - assim como existe uma infinidade de estratégias abertas para o animal político humano que alimenta a ambição de chegar ao poder, também há animais não humanos que se comportam como os políticos típicos. Os pesquisadores que estudam espécies altamente gregárias e relativamente inteligentes - como os macacos rhesus, os babuínos, os golfinhos, os cachalotes, os elefantes e os lobos - descobriram recentemente indicações de que essas criaturas se envolvem em formas extraordinariamente complicadas de política, freqüentemente através de amplas redes sociais. Segundo os cientistas, onde quer que os animais invistam os seus talentos em grupos sociais coesos com o objetivo de se defender melhor de predadores, aumentar o território ou adquirir parceiros sexuais, surgem condições para o exercício de habilidades políticas. 2 – OS MACAQUIAVÉLICOS Por habilidades políticas entenda-se a capacidade de agradar e aplacar, manipular e intimidar, trocar favores e coçar as costas dos outros ou, melhor ainda, retirar carrapatos e outros parasitas das costas dos companheiros. Com o passar do tempo, as exigências da vida social dos animais podem sobrepujar todas as outras pressões seletivas no ambiente, possivelmente atuando como o impulso dominante para a evolução de cérebros ainda maiores e caçadores de votos. E embora nós humanos possamos desaprovar vagamente os nossos impulsos políticos e alimentar fantasias de nos livrarmos gloriosamente da política que nos constrange, o fato é que para nós e outras espécies altamente sociais não há mais retorno. Um lobo solitário é um lobo fraco, um fracassado, sem nenhuma chance de prosperar. Dario Maestripieri, primatologista da Universidade de Chicago, observou um dilema similar em humanos e nos macacos rhesus que estuda. "O paradoxo de espécies altamente sociais - como o macaco rhesus e os humanos - é o fato de a nossa sociabilidade complexa ser a razão do nosso sucesso, mas também a fonte dos nossos maiores problemas", diz ele. "No decorrer da história humana, vemos que os piores problemas para as pessoas quase sempre são oriundos de outros indivíduos. O mesmo ocorre com os macacos. Você pode colocá-los onde quiser, mas o principal problema deles será sempre os outros macacos rhesus". Qualquer semelhança com a constatação de Sartre segundo a qual “o inferno são os outros”, portanto, não é mera coincidência. Segundo Maestripieri, os macacos rhesus encarnam o conceito "maquiavélico" - que ele, apropriadamente, intitulou no seu recente livro sobre macacos de "Macachiavellian Intelligence", algo como Inteligência Macaquiavélica. "Os indivíduos não brigam por comida, espaço ou recursos", explica Maestripieri. "Eles lutam por poder. Com poder e status eles contam com controle sobre tudo o mais". Ou seja, tudo a ver com o que a melhor literatura traz sobre o assunto. 3 – BRECHT REVISITADO “A luta nunca é algo que ocorre entre dois indivíduos", diz o cientista. "Outros se envolvem o tempo todo. E as chances de sucesso dependem de quantos aliados se tem e da dimensão da rede de apoio". Os macacos cultivam os relacionamentos sentando-se perto dos amigos, coçando-lhes a pelagem sempre que surja oportunidade e correndo ao auxílio deles - pelo menos quando há uma platéia observando. "Os machos rhesus são o supra-sumo do oportunismo", afirma Maestripieri. Entre os elefantes, são as fêmeas as políticas natas, cultivando laços sociais robustos e duradouros com pelo menos cem outros elefantes, uma tarefa facilitada pelo poder que elas têm de se comunicar através de infra-sons por distâncias de quilômetros pelas savanas. Os lobos, ao que parece, alteram as suas sociedades altamente hierarquizadas com exibições ocasionais de ressentimento populista, e caso o líder de uma alcatéia comporte-se de uma forma demasiadamente tirânica, os lobos subordinados podem conspirar para derrubá-lo. Os golfinhos machos, por sua vez, organizam-se em pelo menos três grupos de amigos e cúmplices, diz Richard C. Connor, da Universidade de Massachusetts, de maneira similar àquela como as sociedades humanas são construídas com base em pequenos grupos familiares, em tribos maiores e em nações-estados ainda maiores. Bem que Bertolt Brecht ensinou: "O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo da vida, os preços do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos - que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio." Considerando – como ficou esclarecido – que até os animais sabem disso, é porque Brecht estava mesmo certo.
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