BOM EXEMPLO: Projeto Reca chega aos 35 anos, produzindo doces, licores e remédios

Esse momento especial coincide com o maior fumaceiro de queimadas sobre a Amazônia Ocidental Brasileira, entre os estados do Acre e Rondônia

BOM EXEMPLO: Projeto Reca chega aos 35 anos, produzindo doces, licores e remédios

Foto: Reprodução

Sem agredir o ambiente, o Projeto RECA (Reflorestamento Econômico Consorciado e Adensado) inteira 35 anos e comemora a resistência da agricultura familiar para o fomento de políticas públicas no distrito de Nova Califórnia, em Porto Velho. Esse momento especial coincide com o maior fumaceiro de queimadas sobre a Amazônia Ocidental Brasileira, entre os estados do Acre e Rondônia.
 
Do Acre e de Rondônia até o Rio de Janeiro, alguns mercados já sabem de onde vem o melhor palmito, por exemplo. São trezentas famílias distribuídas em dez grupos de cooperados com ativa participação no plantio, colheita e negócios. A representação dos grupos respeita a liderança e coordenação perlas pessoas, com revezamento a cada dois anos.
 
Na divisa entre Rondônia, Acre, Amazonas e Bolívia, a 360 quilômetros de Porto Velho e a 150 Km de Rio Branco (AC), prospera um oásis habitado por pequenos produtores conscientes e cooperativados.
 
Nesse lugar, a conservação ambiental há tempos se tornou a regra número 1 para pequenos produtores conscientes e cooperativados. Sérgio Lopes, fundador e produtor, celebra a organização: “O grande sucesso do Reca se dá pela interatividade e pela ocupação do solo (mil hectares) sem impactar  a natureza; as pessoas deram conta de fazer a união da ocupação produtiva e empresarial”, ele diz.
 
“Tanto funcionou, deu tão certo que não conseguimos atender a todos os contratos de vendas de produtos tão nobres”, assinala Lopes. “O cupuaçu é um exemplo: obtemos 2 mil toneladas por safra, e dele extraímos a manteiga; a linha artesanal de licores e remédios também se destaca.”
 
O extrativismo como prioridade
 
No Projeto RECA evitou-se o caos destruidor de terras vizinhas que cederam à expansão da pecuária e da soja. Tudo com inteligência, sem o risco da destrambelhada expansão da monocultura que caracteriza os grãos destinados à exportação. Este é o triste exemplo da antítese do que se faz no RECA, onde a opção pelo extrativismo deu oportunidade de mobilização a centenas de pessoas.
 
A Secretaria Estadual de Agricultura em Rondônia possui câmaras técnicas do leite, café, carne e de grãos, mas, incrivelmente, nunca decidiu criar a câmara do extrativismo. Com isso, perde a cada ano nos segmentos de castanha e do látex. Não muito distante dali, ao lado de uma rodovia estadual que liga Candeias do Jamari e Itapuã do Oeste ao distrito de Triunfo, uma imensa área de floresta nativa foi derrubada em 2021, abrindo-se no chão arado uma imensidão de soja.
 
Segundo Lopes, o RECA desenvolveu diversos projetos com parceiros nacionais e internacionais. “São parcerias, geralmente técnicas, que proporcionam capacitação para melhoria do manejo de SAFs (sistemas agroflorestais); formação técnica das famílias de agricultores, educação para as crianças, certificações e comercialização.
 
Tamanha fortaleza de resultados trouxe à região visitantes do Brasil e do mundo, desde estudantes de diversos países. “Vieram pesquisar para suas teses acadêmicas de mestrado e doutorado”, diz Lopes.
 
 
Qual a missão do RECA? “Ser uma organização social, produtiva e de base familiar comunitária, referência pelo seu jeito de caminhar solidário que promove a sustentabilidade e o bem viver respeitando a sociobiodiversidade da Amazônia. Contribuindo para uma sociedade mais humana e justa.”
 
Ao longo dos anos, o Reca trouxe para Nova Califórnia o apoio dos seguintes parceiros:
 
Amigos da Terra Agência de Cooperação Técnica do Governo Alemão (GIZ) Banco do Brasil
Comissão Pastoral da Terra (CPT)
Comitê Católico Contra Fome para o Desenvolvimento no Mundo (CCFD) Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Acre)
Grupo de Pesquisa e Extensão dos Sistemas Agroflorestais do Acre (Pesacre) Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
Movimento Leigo para América Latina (MLA), da Itália
Ministério do Meio Ambiente
Projeto de Desenvolvimento da Amazônia (PDA)
 
O RECA também se consolida pela incorporação da experiência e dedicação de famílias de agricultores migrantes vindas de diversos municípios brasileiros.
 
No começo, em 1989, faltava infraestrutura, amparo às famílias pioneiras, quase todas vítimas da malária que incluiu alguns lugares de Rondônia entre os maiores surtos da doença no mundo. Os índices de Ariquemes e Jaru, por exemplo, comparavam-se aos de países africanos.
 
 
Primeiros duzentos hectares
 
Nos 35 anos, o Reca traz à memória o trabalho de Dom Moacyr Grechi,  falecido bispo da antiga Prelazia Acre Purus e arcebispo diocesano de Porto Velho. A ideia do projeto foi levada para ele e sua aceitação possibilitou rapidamente os primeiros passos. “Dom Moacyr nos colocou em contato com o Centro de Estatística Religiosa e Investigação Social, no Rio de Janeiro, e recebemos ajuda na reformulação do projeto”, conta Lopes.
 
Graças ao bispo, o Reca entendeu-se com a instituição holandesa CEBEMO (organização católica para cofinanciamento de programas de desenvolvimento), e a proposta fora aprovada. Atualmente, o projeto é apoiado pela Cordaid (organização de ajuda emergencial), também holandesa.
 
E assim foram cultivados os primeiros duzentos hectares de castanha, cupuaçu e pupunha. “Hoje produzimos frutos o ano inteiro”, informa Lopes.
 
“Com o crescimento das famílias que formam o RECA nos sentimos em casa em Nova Califórnia. Respeitamos a Amazônia, e isso nos garante a produção o ano todo e a preservação da biodiversidade.” (Sérgio Lopes)
 
Os plantios de SAFs resultam em mais de 40 espécies – de árvores e plantas frutíferas a espécies de madeira e medicinais. O projeto hoje reúne notável diversidade: bacaba, copaíba, sangue de dragão, rambotã, seringa e outras espécies.
 
Da mesma forma, destaca-se no conhecimento do público consumidor, em menor proporção: abacaxi, acerola, doces, geleias, goiabas, licores e mel.
 
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