O Brasil tem uma bomba-relógio para desarmar. Pode parecer exagero, mas essa é a situação de nosso país quando falamos em obesidade. Dados do Ministério da Saúde, obtidos em um levantamento inédito, apontam que a obesidade atinge 6,7 milhões de brasileiros.
O número de pessoas com obesidade mórbida ou índice de massa corporal (IMC) grau III, acima de 40 kg/m², atingiu 863.086 pessoas no ano passado. As informações públicas estão sendo divulgadas pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM).
Em 2019, 407.589 pessoas foram diagnosticadas com obesidade grau III, o que representava 3,14% das pessoas monitoradas. Já em 2022, o número subiu para 863.083 brasileiros diagnosticados com o mais grave nível de obesidade, totalizando 4,07% da população. Esse ponto percentual representa um crescimento de 29,6% em apenas 4 anos.
A obesidade grau I atinge 20% e a obesidade grau II já é 7,7% da população, o que representa 1,6 milhões de pessoas em 2022. Já o sobrepeso atinge atualmente 31% ou 6,72 milhões dos brasileiros que participaram da tabulação do SISVAN(Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN).
330 Kg
Dr. Thiago Patta, diz que a Bolívia e o Peru fazem mais cirurgias de metabolismo que o Brasil
Para o médico rondoniense, Thiago Pata, especialista em Videocirurgia e Tratamento da Obesidade e que comanda o Instituto Vigor, em Porto Velho, centro que atua com as questões relacionadas ao excesso de peso, é uma lenda afirmar que esse tipo de tratamento é estético.
“Geralmente, quem fala que é estético, são profissionais que tratam pacientes com baixo peso, baixas metas. Aquele obeso de 200 kg e até 330 kg, como já recebemos, esses veem a cirurgia bariátrica como uma salvação de vida. É a possibilidade de ele sair de uma cama e voltar a andar, amarrar um cadarço, entrar em um avião ou carro. É a chance de ele ter um mínimo de uma qualidade de vida”, enfatizou.
No entanto, observou, fazer cirurgia bariátrica ou metabólica no Brasil, ainda é um tratamento acessível à uma pequena parcela da população. Diferente do que ocorre em outros países e que poderia trazer uma série de benefícios se fosse vista com a devida importância por parte dos políticos.
“É um assunto que está ignorado e abandonado pelos gestores públicos. O Brasil tem hoje 16 milhões de diabéticos e a metade tem indicação para essa cirurgia. Mas a metade não sabe que são diabéticos e os que sabem não tem controle da doença. Essa é uma das principais causas de afastamento de pessoas produtivas do trabalho e de diminuição da expectativa de vida. Os americanos adotaram a cirurgia metabólica por que eles fazem conta e sabem dos benefícios econômicos dela”, declarou.
O médico lamenta que apesar da necessidade e das vantagens, a cirurgia não está nos planos de saúde ou nos convênios. Segundo ele, o impacto nos planos de saúde, dessa cirurgia é de R$ 0,10 por vida no primeiro ano, no segundo ano já reporiam esse custo e, a partir do terceiro ano, já começavam a ter lucro.
“Mas isso depende de vontade política, de pressão, de prioridade. Infelizmente, essas coisas ficam em segundo plano, você não houve falar. Enquanto isso, as pessoas estão morrendo. É uma tragédia. A Bolívia faz mais cirurgia bariátrica que o Brasil. O Chile e o Peru também. É uma cirurgia que resgata a vida do paciente”, lamentou.
Thiago afirmou que a maioria das pessoas que procuram para fazer bariátrica é formada por mulheres. Ele explica que isso também se deve à algumas questões relacionadas à própria genética feminina.
“A mulher tem uma questão hormonal muito mais impactante que o homem, como a questão do ciclo menstrual ou gestação. Geralmente, a primeira gravidez é tranquila, mas a segunda e terceira já impactam. Outro motivo são os transtornos emocionais que as mulheres são mais susceptíveis a ansiedade, depressão e os medicamentos para isso, melhoram a qualidade de vida, mas tem um impacto no acúmulo de gordura”, finalizou.