CRÍTICA - Enfim, teatro para adultos em Porto Velho? - Por Humberto Oliveira

Quando li a notícia de que o teatro municipal seria inaugurado com a apresentação da peça de Nelson Rodrigues, confesso que fiquei exultante, afinal de contas, não é todo dia que um teatro é inaugurado e ainda mais com uma obra de um dos gênios da dramatu

CRÍTICA - Enfim, teatro para adultos em Porto Velho? - Por Humberto Oliveira

Foto: Divulgação

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Quando li a notícia de que o teatro municipal seria inaugurado com a apresentação da peça de Nelson Rodrigues, confesso que fiquei exultante, afinal de contas, não é todo dia que um teatro é inaugurado e ainda mais com uma obra de um dos gênios da dramaturgia mundial. Porém, como a entrada seria gratuita, logo imaginei que não seria fácil ver o espetáculo, pois a concorrência seria maciça. Não me enganei e acabou sendo ainda pior para mim e outros mais.

Apesar da frustração de não ter assistido a estreia de A Falecida, de Nelson Rodrigues, na sexta-feira (20/06) por conta da sessão fechada para meia dúzia de autoridades, entre tantos convidados e ainda o transtorno de esperar mais de duas horas na fila, à espera que, por um milagre, surgissem lugares para quem não conseguira pegar um ingresso para a apresentação de sábado (21), mas para minha alegria, graças a uma amiga que me presenteou com uma entrada, consegui, finalmente, apreciar ao espetáculo. O novo teatro é aconchegante, confortável e bonito. Gostei.

O cenário da peça apresenta apenas uma trave com rede, um piso verde simulando a grama de um campo de futebol e decorando o fundo do palco, duas bandeiras enormes. Uma do Fluminense e outro do Vasco. No lado esquerdo, disposta uma escrivaninha com máquina de escrever antiga, abajur, telefone, e outros adereços. Um personagem vestindo terno como se fosse o autor datilografa e ao mesmo tempo narra as rubricas das cenas, entrada e saída de personagens e mudanças de ambientes, como se fosse um comentarista de uma partida de futebol. Com exceção da atriz Lucélia Santos, interprete de Zulmira, os demais atores do elenco vestem uniformes de times de futebol.

Nelson Rodrigues sempre elogiou o diretor burro, ou seja, o diretor que respeita seu texto encenando sem mudanças ou improvisos. Não foi o caso de Marco Antônio Braz, que tentou imprimir uma nova dinâmica para o texto levado ao palco à primeira vez em 1953. Um dos pontos a destacar nesta versão foi à pegada mais para a comédia do que para a tragédia, conforme bem definiu Sábato Magaldi ao enquadrar A Falecida como obra inaugural das chamadas tragédias cariocas em seus definitivos ensaios englobando o teatro completo do autor de Vestido de Noiva.

Como brasileiro ri da própria desgraça e da alheia, o público gargalhou muito durante os 70 minutos da apresentação e para os desavisados ou pouco afeitos ao teor dos textos de Nelson Rodrigues, certamente foram pegos de surpresa ao se deparar com uma comédia rasgada. Confesso que não ri, pois não vejo nada de engraçado no que ocorre no palco com Zulmira, o marido Tuninho, Timbira, Pimentel e demais personagens. Todos são vítimas e culpados, pois como pessoas acabam logradas umas pelas outras, num circulo vicioso. Zulmira é enganada pela cartomante e pelo médico ao não constatar a tuberculose que acaba matando-a. O marido Tuninho é traído por Zulmira com o bicheiro Pimentel. Por sua vez, a encomendar um enterro de luxo ao agente funerário Timbira, este também é ludibriado. Tuninho atendendo ao pedido da mulher procura Pimentel para pedir o dinheiro do velório e apresenta-se como primo de Zulmira. Mas ao ser revelada a traição, Tuninho chantageia o bicheiro, pega o dinheiro e paga um enterro de indigente, desta forma frustrando o desejo da mulher morta. Como se percebe, A Falecida é uma sucessão de equívocos e traições, culminando com Tuninho apostando todo o dinheiro, durante uma partida do Vasco, contra todo o Maracanã.

O espetáculo não apresenta nenhuma performance merecedora de nota. Nem mesmo Lucélia Santos se sobressai como protagonista e entrega ao público uma interpretação apenas correta. Quanto aos demais atores, não há muito a acrescentar, pois seguem o mesmo ritmo da atriz principal. No entanto, esta versão desmerece ou deturpa o texto de Nelson Rodrigues, consegue mesmo ser até reverente. Não constitui, em meu ponto de vista, um grande espetáculo e tão pouco supera expectativas ou causa maiores decepções. De forma alguma. Está tudo lá. Principalmente o texto curto, entrecortado, direto, enxuto, assim como as expressões como “Batata”; “Até ai morreu o Neves”; “Piada mais besta”; dentre tantas outras, constituindo o saboroso tempero que somente Nelson Rodrigues sabia mesclar a suas peças.

Mesmo não sendo nenhuma obra prima o espetáculo agrada, no entanto, em se tratando de uma produção de fora, posso afirmar sem medo de ser taxado de bairrista, que o mesmo texto encenado por atores locais e um diretor prata da casa, não deixaria nada a desejar e se sairia tão bem quanto. Basta lembrar a ótima versão de Álbum de Família, terceira peça de Nelson, levada há algum tempo ao palco do Teatro do SESC por um grupo de atores de Porto Velho.

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