Política em Três Tempos
1 – EXPEDITO JÚNIOR
Tê-lo-á ajudado, numa ordem de grandeza incomensurável, a “fortuna”. Mas diante do aspecto negativo, quase trágico, que representa a cassação de um mandato, o senador Expedito Júnior (PSDB), ao ser interpelado, na quarta-feira (28), pela decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que o deixou sem saída quanto à manutenção do cargo, teria tido um dia com lembranças povoadas apenas pela melancolia e o opróbrio não fora a “virtu” que fez uma das suas marcas. Necessário, em nome da clareza, um parêntese para dedicar algumas palavras ao que se entende por “fortuna” e “virtu” antes de prosseguir.
Informe-se, para começo de conversa, que esses dois conceitos inauguram um novo momento da filosofia política, porquanto a partir deles, introduzidos por Maquiavel no século XVI, começa-se a pensar, sem inferências tautológicas da coluna, a política de forma política. Quando nada, algo ao contrário de antes, em que se abordava o tema a partir de análises apenas religiosas ou morais.
Grosso modo, “Fortuna” diz respeito às circunstâncias, ao tempo presente e as necessidades da hora – ou, para facilitar o entendimento, à “sorte” da pessoa, enfim. É a ordem das coisas em todas as dimensões da realidade que influencia a política, é externa ao homem e desafia suas capacidades. “Virtú” (virtude, porém aconselha-se a não confundir com a virtude moral) é justamente a capacidade do indivíduo (político) de controle das ocasiões e acontecimentos, ou seja, da fortuna.
O político com grande “virtú” vê justamente na “fortuna” a possibilidade da construção de uma estratégia para controlá-la e alcançar determinada finalidade, agindo frente a uma certa circunstancia, percebendo seus limites e explorando as suas possibilidades. No popular, é a capacidade de fazer rapidamente do limão uma limonada. Pois bem.
Quis o destino que a decisão derradeira da Justiça a respeito do mandato de Expedito Júnior fosse tomada no mesmo dia em que ele era objeto da expectativa de boa parte do seu Estado.
2 – UMA CONSAGRAÇÃO
Na quarta-feira (28), enquanto os ministros do STF selavam a sorte do seu mandato ao acolher e julgar favoravelmente o mandado de segurança do senador diplomado Acir Gurgacz (PDT), resultando numa sentença mandando a mesa do Senado empossá-lo, o senador Expedito Júnior protagonizava – junto com os colegas Valdir Raupp (relator da matéria) e Fátima Cleide (autora, mãe, por assim dizer, da iniciativa) - um dos momentos mais elevados e produtivos da representação rondoniense no Congresso Nacional – a aprovação de uma medida capaz de beneficiar milhares de servidores estaduais e, por intermédio deles, o Estado como um todo na proporção em que a economia proporcionada pela execução da lei retornará a todos os contribuintes.
Pois justamente nesse dia calhou de a notícia sobre a cassação definitiva do mandato do senador em questão começar a circular. Assim, o que era para ser percebido com a conotação negativa que a decisão do STF sugeria, o foi por toda Rondônia de uma forma que ficaria melhor numa consagração. Para não dizer que o mundo virara de ponta cabeça, ou seja, que a notícia foi recebida com entusiasmo carnavalesco, o que predominou foi um destemor coletivo permeado por tons lamentosos nas manifestações de solidariedade e apreço. Expedito Júnior começou a ser objeto de manifestações dessa ordem ainda no Senado, quando ocupou a tribuna para defender a PEC da Transposição.
Pudera! Segundo noticiou a Agência Senado, para aprovar a PEC, a instituição – fustigada pelos três representantes rondonienses na Casa, quebrou prazos de votação com objetivo de agilizar a votação da matéria. Ademais, Expedito Júnior também coletara assinaturas de colegas para conseguir viabilizar a votação da matéria, em dois turnos, na sessão plenária daquela quarta-feira. Conforme a notícia, foi como uma espécie de desagravo ao senador Expedito Júnior (PSDB-RO) que o Senado aprovou PEC que efetiva 15 mil servidores de Rondônia dos quadros estaduais para os federais do Estado.
3 – CORPO PRESENTE
A partir daí, com discursos de apoio ao empenho do parlamentar pela aprovação do texto, pontilhando as manifestações com referências à sua trajetória, os senadores homenagearam Expedito Júnior – que, óbvio, terá ficado emocionado ao ouvir elogios dos colegas.
O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), disse que o senador terá um "belo" futuro político pela frente apesar da cassação. "Vossa Excelência tem o direito de ir ao recurso máximo, mas muito do que colocarei no voto em favor dessa matéria tem a ver com a sua luta, o seu caráter", afirmou.
Para o líder do DEM, José Agripino Maia (RN), Expedito Júnior pode deixar o Senado com a "missão cumprida" por aprovar um projeto que beneficia o Estado de Rondônia. É preciso que o Senado e o seu Estado tenham conhecimento disso. Rondônia lhe deve essa, senador Expedito. Que Deus o proteja", disse Agripino.
Flexa Ribeiro (PSDB-PA) lembrou que o santo cristão Santo Expedito é o santo das causas urgentes. Renan Calheiros (PMDB-AL) afirmou que Expedito "tem sido um trabalhador obsessivo" no Congresso Nacional. Arthur Virgílio (PSDB-AM) leu carta em homenagem a Expedito assinada por associações e sindicatos de Rondônia. Tião Viana (PT-AC) classificou a aprovação como a "recuperação de uma dívida histórica". Ideli Salvatti (PT-SC) afirmou que a aprovação da PEC demonstra uma inequívoca unidade entre os representantes de Rondônia. Paulo Paim (PT-RS) lembrou os tempos em que foi deputado junto com Expedito ressaltando suas qualidades. E por aí foi.
Era, salvo melhor juízo, o que faltava para coroar um período de conquistas. Em 2009, Expedito Júnior foi colocado pelo portal “Transparência Brasil” entre os 10 parlamentares que apresentaram projetos mais relevantes para o País desde o ano de 2003. E foi premiado com o troféu Prêmio Mérito Legislador, concedido Instituto de Estudos Legislativos Brasileiros (Idelb) e o Instituto Legislativo Brasileiro (ILB), pela apresentação de uma das propostas - Projeto de Lei nº 11/2008 – mais relevantes entre todas apresentadas por senadores, deputados federais, deputados estaduais, deputados distritais e vereadores do Brasil. Pois!