ARTIGO - Linha Direta Justiça jornalismo investigativo e teledramaturgia - Por: Humberto Oliveira

“A Primeira tragédia de Nelson Rodrigues” foi o título escolhido pela equipe do programa Linha Direta Justiça levado ao ar pela TV Globo...

ARTIGO - Linha Direta Justiça jornalismo investigativo e teledramaturgia - Por: Humberto Oliveira

Foto: Divulgação

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“A Primeira tragédia de Nelson Rodrigues” foi o título escolhido pela equipe do programa Linha Direta Justiça levado ao ar pela TV Globo na última quinta-feira, 7 de junho, abordando o assassinato do desenhista e jornalista Roberto Rodrigues por Sylvia Seraphim Thibaú, que o alvejou com um tiro de um revólver calibre 22. O crime ocorreu no dia 26 de dezembro de 1929. “Quem definirá, um dia, essa maldade obscura e inconsciente das coisas, que inspirou aos gregos a concepção indecisa da Fatalidade?” Esta frase do escritor Euclides da Cunha cabe como uma luva para tentarmos entender a sucessão de acontecimentos trágicos que ocorreram na vida do jornalista e dramaturgo Nelson Rodrigues depois do assassinato de seu irmão, Roberto, morto com um tiro em plena redação do jornal Crítica, do pai, Mário Rodrigues. A produção do Linha Direta Justiça caprichou na reconstituição de época, e chegou a requintes como a presença de Jofre Rodrigues que interpretou ninguém menos que seu pai, Nelson Rodrigues, na fase adulta. Um dos netos de Mário Rodrigues Filho aparece como Nelson jovem. Outros detalhes que podemos destacar – a caracterização de Mário Filho, com suas sobrancelhas e cabelos avermelhados, e ainda a gagueira do implacável proprietário de Crítica, Mário Rodrigues. No momento do disparo fatal, na redação do jornal Crítica, além de Roberto, estava seu irmão mais novo, Nelson, na época com dezessete anos, o redator Carlos Cavalcanti, o auxiliar de redação, Juracy Drummond, e o investigador de polícia, Garcia de Almeida, que inclusive foi quem desarmou Sylvia que se resignou a fazer este comentário – “Vim para matar Mário Rodrigues, matei o filho. Estou satisfeita”. Enquanto isso, Nelson tentava ajudar seu irmão que agonizava no chão. Roberto agonizou durante três dias. Nelson ficou rezando pelo restabelecimento do irmão, mas a medicina em 1929 era muito precária. A bala se alojara na espinha de Roberto que morreria de falência múltipla dos órgãos por causa da Peritonite. A morte do irmão seria fator decisivo na obra do futuro dramaturgo Nelson Rodrigues. No velório de Roberto um ensandecido Mário Rodrigues não saía de perto do caixão e falava o tempo todo - “Aquela bala era para mim”. Mário Rodrigues, morreria 77 dias depois do filho - como disse Nelson Rodrigues numa crônica sobre o assassinato do irmão, "de paixão”. Com a perda de dois de seus membros, nunca mais a família Rodrigues seria a mesma. Bastou apenas um tiro deflagrado por Sylvia Seraphim. O julgamento de Sylvia Seraphim aconteceu em 22 de agosto de 1930, tendo como advogado de defesa, Clóvis Dunshee de Abranges e na promotoria, Max Gomes de Paiva. Sylvia foi absolvida. Os Rodrigues sofreriam, depois das mortes de Roberto e de Mário, mais um duro golpe quando explodiu a revolução de 1930 e Getúlio Vargas ascendeu ao poder. O "Crítica" era um dos poucos jornais que faziam campanha contra Getúlio e por isso com a vitória de Vargas, o informativo foi empastelado, invadido e destruído por simpatizantes do novo presidente. No entanto, o destino da assassina de Roberto Rodrigues também foi trágico. Depois do escândalo, Sylvia, separada do primeiro marido, se envolveu com outro homem. Ficou grávida. Da relação nasceu um menino. Sylvia foi abandonada. Desgostosa, tentou suicídio, mas foi salva e internada. No entanto teria sucesso em sua segunda tentativa. O programa "Linha Direta Justiça" contou com os depoimentos de Nelson Rodrigues Filho, do jornalista e escritor Ruy Castro, autor da biografia definitiva de Nelson Rodrigues – O Anjo Pornográfico, do diretor de teatro Caco Coelho, que assumiu o posto deixado por Ruy Castro como organizador da obra não teatral de Nelson publicada pela Companhia das Letras, e também depoimentos de parentes de Sylvia Seraphim. "Linha Direta Justiça", que estreou em 2003, o programa nestes mais de três anos exibiu histórias sobre casos famosos como: “A Fera da Penha”; “Irmãos Naves”;”Zuzu Angel”; “O Crime da Mala”; “Vladimir Herzog”; “Ângela Diniz”; “O desaparecimento do menino Carlinhos” entre tantos outros. BOX A Paixão no banco dos réus – Casos passionais célebres – de Pontes Vergueiro a Pimenta Neves – de Lúcia Nagib Eluf – 2002 – Editora Saraiva. A autora discorre sobre 14 casos famosos envolvendo crimes passionais. Crimes que abalaram o Brasil – Editora Globo – 2007. Organizado por George Moura e Flávio Araújo, o livro traz reportagens dos jornalistas Marcelo Faria de Barros e Wilson Aquino, da equipe do programa, sobre os casos mostrados no programa Linha Direta Justiça - O Crime da mala; Dana de Teffé; Chico Picadinho; Irmãos Naves; A Fera da Penha; Crime do Sacopã e o Menino Carlinhos. Dvd Linha Direta Justiça (2004). O disco traz quatro casos mostrados no programa apresentado por Domingos Meirelles e com narração de Nina de Pádua. São eles - Fera da Penha, que conta a história de Neyde Maia Lopes que ao descobrir que o amante, Antônio, era casado, resolve se vingar. Neyde ficaria conhecida como “A Fera da Penha” ao assassinar a tiros e depois incendiar o corpo da menina Taninha, 4 anos. O crime aconteceu em 30 de junho de 1960.Uma história digna de Nelson Rodrigues e a “A vida como ela é”, por sinal, Neyde era fã da coluna assinada diariamente pelo dramaturgo no jornal Última Hora. Dana de Teffé é o outro caso mostrado. Dana de Teffé tinha como amigo e advogado Leopoldo Heitor, conhecido como “Advogado do Diabo”, ao apresentar uma testemunha no caso do Crime da Rua Sacopã, quando o Tenente- Aviador Alberto Jorge Franco Bandeira assassinou a tiros o ex-namorado de sua noiva, Marina, o bancário Afrânio Arsênio de Lemos. Quanto ao desaparecimento de Dana de Teffé que estava com Leopoldo Heitor, depois acusado pela sua morte, apresentaria nada menos que três versões para o caso. Leopoldo foi a julgamento três vezes e foi absolvido em todos. O advogado morreu em 2001, aos 78 anos levando para o túmulo um dos maiores mistérios da crônica policial brasileira: o que aconteceu realmente com Dana de Teffé. A morte da estilista Zuzu Angel, num misterioso acidente automobilístico também faz parte da série do programa. Zuzu buscava descobrir o que aconteceu com seu filho, Stuart Angel, morto sob tortura no quartel da Base Área do Galeão no auge da ditadura militar no país. E encerrando o dvd, o rumoroso crime passional que abalou o Brasil nos anos 70 – O assassinato da chamada “Pantera de Minas”, Ângela Diniz, morta com quatro tiros, três no rosto e um na nuca, disparados à queima roupa pelo seu então namorado, Doca Street. O crime aconteceu na conhecida Praia dos Ossos, situada em Búzios, que ganhou notoriedade graças à atriz francesa Brigitte Bardot. O dvd traz extras como reportagens de época, entrevista com as atrizes, bastidores. *- Humberto Oliveira é jornalista (DRT/RO 906)
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