*A monotonia das condições meteorológicas em que se encontra Rondônia é
preocupante a cada dia que passa. Como fase normal do ciclo de renovação da
natureza, esta é a época em que mais se gasta no Estado, sejam gastos
públicos ou de interesse próprio.
Como também é do saber do povo rondoniense apenas na época de estiagem é que
as obras andam em ritmo acelerado ou deveriam andar em muitos dos casos.
*Há exatos 100 dias não cai uma gota sequer de água na região central do
Estado. Em Ji Paraná a cada dia aumenta o número de pessoas com doenças
respiratórias e outras associadas ao tempo seco. Sai mais caro para o
governo tratar dos doentes do que asfaltar uma rua contínua da cidade.
Ainda bem que temos em mente que Rondônia é um Estado novo, alguns troncos
da densa floresta derrubada são vistos por várias cidades e junto a esses
mesmos troncos está o desenvolvimento que devido à atuação de nossos
governantes continuam atrasando a vida do seu povo.
*Não bastasse às condições de infra-estrutura precárias de norte a sul do
Estado, o tempo não tem colaborado com ninguém.
A intensa massa de ar seco e quente que há meses atua no Brasil Central é a
mais forte dos últimos 7 anos no País. Em 1999 enfrentamos uma situação de
bloqueio atmosférico onde várias cidades brasileiras, assim como 90% das
cidades rondonienses ficaram sem chuva significativa por quase quatro meses.
Os níveis de umidade relativa do ar estão em patamares críticos com valores
registrados nos últimos dias, dignos de um grande deserto. Segundo a OMS
(Organização Mundial de Saúde), valores de umidade entre 20% e 30% são
considerados como estado de atenção, entre 12 e 30% como estado de alerta, e
abaixo de 12% como estado de emergência.
*A baixa umidade do ar, como a registrada nos últimos dias em Rondônia, não
prejudica só quem sofre de doenças respiratórias. Mesmo no caso de quem não
tem asma ou bronquite, é comum sentir irritação nos olhos, nariz e garganta.
O corpo inteiro sofre com a falta de umidade e problemas de pele também são
comuns. A pele resseca e a pessoa elimina mais líquido, o que pode provocar
o surgimento de fungos e dermatites.
*Alguns cuidados podem ser adotados pela população a fim de amenizar os
efeitos do tempo seco:
*• Não fazer exercícios físicos depois das 10 horas;
*• Evitar a exposição por muito tempo ao Sol entre as 10 e 17 horas;
*• Evitar aglomerações em ambientes fechados;
*• Usar soro fisiológico para lavar os olhos e narinas;
*• Em caso de sangramento no nariz, pressionar levemente o local para
estancar o sangue, sempre em pé ou sentado e nunca com a cabeça para baixo;
*• Dentro de casa é bom deixar vasilhas com água ou toalhas molhadas em
alguns cômodos;
*• Ingerir líquidos durante todo o dia;
*Em alguns Estados como São Paulo e Goiás até as aulas de educação física dos
colégios foram suspensas em virtude da estiagem. Muitos alunos passam mal e
acabam desmaiando. Pela terceira vez no mês, os carteiros de Ribeirão Preto
suspenderam as entregas domiciliares das 11 às 15 horas. A decisão da
Empresa de Correios e Telégrafos (ECT) segue orientação da OMS para casos
que, simultaneamente, a temperatura fica acima dos 30 graus e a umidade
abaixo de 20%. Na cidade a umidade relativa do ar atingiu na terça-feira(22),
o menor valor já registrado no Brasil, incríveis 5% de umidade na
atmosfera. Nem em desertos como o Saara na África, registram índices tão
alarmantes como o verificado em Ribeirão Preto.
*Em Rondônia os menores índices estão concentrados na região central do
Estado. Por três dias consecutivos, Ji Paraná e Ariquemes registraram
umidade de apenas 15%. Na terça-feira o calor bateu recorde em Ji Paraná com
temperatura máxima chegando a 39,2°C às 16 horas. Essa é a maior temperatura
registrada no mês de agosto na cidade desde 1999.
*Outras áreas do Estado consideradas de clima mais brando também estão em
estado de alerta. Em Vilhena a temperatura máxima tem alcançado facilmente
os 35°C e umidade em torno de 20%.
*No Cone Sul apesar de a umidade estar um pouco mais elevada e o calor não
ser tão sufocante, a preocupação é muito grande. Um outro fator que
contribui para as doenças respiratórias é a emissão de gases poluentes na
atmosfera. Entre o norte e noroeste de Mato Grosso e todo o sul de Rondônia,
os valores de emissão de monóxido de carbono e ozônio estão alarmantes.
*Numa escala de 100 a 5000 ppm (partes por milhão) Vilhena registrou em
altitude 4000 ppm de poluentes graves. O principal fator para a concentração
desses poluentes na região é o número de focos de queimadas registrados nos
últimos dias. O elemento se torna poluente na atmosfera a partir da reação
entre compostos orgânicos voláteis (partículas de gasolina, diesel e álcool)
e óxido de nitrogênio, em dias claros e sem ventos. O horário de pico de
ação do ozônio vai das 13 às 16 horas.
*Um dos fatores preocupantes são os focos de queimadas. Segundo dados
preliminares do Ibama houve uma considerável diminuição dos focos de calor,
principalmente na região central do Estado onde se concentra a maior parte
dos parques e reservas biológicas, mais se compararmos os dados atuais, os
focos que predominam em grande escala estão próximos a capital Porto Velho e
na divisa com o Acre como nunca antes havia sido registrado. Do dia 1° de
agosto até ontem foram detectados pelo satélite NOAA-12, cerca de 1654
focos de queimadas em Rondônia, 70% só na região de Porto Velho.
*A fumaça das queimadas que antes rodeavam a capital do Acre agora avançam
para o interior rondoniense encobrindo parcialmente o céu. Já faz uma semana
que o sol não aparece firme e forte na região, a fumaça deixa o céu
acinzentado por todo o período e a sensação de secura aumenta ainda mais.
Para agravar a situação, os ventos estão trazendo toda a fumaça das
queimadas registradas na Bolívia para Rondônia e Acre, o que denota sérios
problemas de saúde a população Amazônica.
*Em Brasília, a Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec) mantêm o alerta
de tempo seco em Rondônia e nos Estados das Regiões Sudeste, Centro-Oeste e
Nordeste pelo menos até segunda-feira próxima.
*As esperanças se voltam agora para a formação de um novo sistema frontal na
Bacia do Chaco entre Paraguai, Bolívia e Argentina. A nova frente fria é
vista por enquanto como fraca a moderada, onde os principais modelos de
previsão numérica sugerem que o sistema não vai conseguir furar o monstro do
bloqueio atmosférico que domina 70% do território brasileiro. Se os ventos
mudarem de posição em altos níveis da atmosfera, a cerca de 12 mil metros de
altitude, existe sim a possibilidade ainda que mínima, de ocorrência de
algumas chuvas esporádicas em Mato Grosso do Sul, oeste de Mato Grosso e
Rondônia, mais em se tratando de temperaturas o calorão não se despedirá tão
cedo, estamos agora entrando no auge da estiagem no Estado, com focos cada
vez mais acentuados de queimadas e ilhas de calor de até 40°C dentro dos
centros urbanos.
*Por outro lado, se dependesse do monitoramento do Sistema de Proteção
da Amazônia (Sipam) a população de Rondônia, leiga mas não burra, estaria as
mínguas com a atual situação do tempo. É lastimável que um programa da
categoria do Sipam com investimentos bilionários e centros super equipados,
seja ineficiente em não relatar e passar os laudos meteorológicos aos
veículos de imprensa. Simples fosse a justificativa da incumbência dos
profissionais que o compõe, mas não há como serem tão hipócritas vendo o
problema que é sério, escancarado na cara de todos.
Monitoraram por todo o período a seca de 2005 na Amazônia e não tomaram
providências cabíveis, monitoraram a elevação dos rios Acre e Madeira no
início deste ano e deixaram que as águas desabrigassem milhares de famílias.
*O projeto Sipam possui um dos programas de computação mais eficientes da
América Latina em se tratando de monitoramento e previsão meteorológica. Em
toda a região são mais de 500 postos de coletas espalhados coletando dados
diariamente.
A parceria entre Sipam e o Instituto Nacional de Meteorologia (INMT) de
Brasília, não tem a menor importância em Rondônia. E ainda com alguns
veículos de imprensa batendo duramente em cima do assunto, negam que é mais
importante para o Ministério da Integração Nacional por exemplo, aparecer em
público entregando cestas básicas aos desabrigados como se estivessem
solidários com os problemas, do que antes de qualquer coisa, fazerem um
projeto concreto de alerta antes de o fenômeno ocorrer.
*Na última semana, técnicos do Sipam e Inmet divulgaram a imprensa, laudos
comparativos com os de 2005 onde deixaram claro a população que não há
motivos para alarme com relação à estiagem na Região Norte. Em Rondônia a
principal preocupação é para com o nível dos rios, principalmente o Madeira,
importante meio de escoamento da produção estadual e porta de entrada de
outros produtos e matérias-prima produzidos pelo Brasil e mundo afora.
*Nos enoja que pessoas tão serenas com a população de Rondônia sejam
incapazes de não detalhar ao pé da letra a situação real dos rios. O nível
do Madeira por exemplo, em média chega a ter até 16 metros no período da
cheia e agora na seca varia entre 5 e 8 metros, volume que para a Capitania
dos Portos é suficiente para a transição de grandes embarcações. O
interessante que ninguém da Capitania dos Portos e muito menos os
profissionais do Sipam informaram, é que o nível real do Madeira hoje é de
nada menos que 2,98 metros.
*Basta olhar as embarcações paradas no porto e outras tanto vindo de Manaus
tentando trazer a produção para Rondônia, lutando contra os bancos de areia
no trajeto.
*O que falta para que os inúmeros colegas de imprensa que sempre gostam de
atacar os textos publicados e que para muitos chegam a ser ilusionistas,
caírem atrás não dos pesquisadores do Sipam ou INMET e sim do Governo
Federal e Estadual responsáveis pela negligência de informações repassadas
aos mesmos institutos e centros de pesquisa?
*Será que nenhum colega da imprensa rondoniense tem em mente que os problemas
não estão nos funcionários que compõe os institutos mas sim quem os governa?
*A seca do Madeira, ao contrário do que o próprio Ministério de Minas e
Energia informa, será altamente prejudicial ao desenvolvimento do Estado
esse ano. Estamos apenas entrando no período crítico de estiagem e não há
modelo de previsão numérica algum no mundo que venha nos dar uma notícia
satisfatória antes da segunda quinzena de outubro.
*A corrupção, marca registrada em todos os âmbitos dos poderes em Rondônia e
no Brasil, adentra até em serviços vistos antes como, parte sem tanta
importância a população. O mais triste é que a mesma corrupção vista na
política está cada vez mais presente na tão comentada imprensa estadual.
*-
*Daniel Panobianco – pesquisador - Ji Paraná-RO