EMPRESÁRIO: Conheça um pouco de Fábio Sphera por trás das câmeras

Jovem empreendedor ficou conhecido por propagandas de TV e memes na internet

EMPRESÁRIO: Conheça um pouco de Fábio Sphera por trás das câmeras

Foto: Arquivo Pessoal

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Muita gente conhece o Fábio da televisão e dos memes na internet. Porém, não tem ideia da história de luta e superação dele, antes de fundar uma construtora e virar garoto propaganda da sua marca.
 
Fábio Sphera nasceu no interior de Rondônia, mas ainda recém-nascido veio para a capital com a família, em busca de melhores condições de vida. 
 
“Nasci em Ji-Paraná e com um mês de vida, viemos para Porto Velho. Estou aqui há 31 anos. Meu primeiro emprego foi em uma distribuidora de alimentos. Fiquei lá seis meses. Tinha dos 17 pros 18 anos. Saí de lá, fui trabalhar como vigilante de uma empresa que prestava serviços para uma companhia telefônica ali na Lauro Sodré, em frente ao Parque de Exposições”.
 
Fábio Freitas, mais conhecido como Fábio Sphera, viveu o “boom” das Usinas de Santo Antônio e Jirau. 
 
Por isso, se encantou com engenharia e encarou o desafio de ter que trabalhar, fazer um curso puxado, além de entrar no mundo dos esportes, até para ajudar a pagar a mensalidade da faculdade.   
 
“O pessoal falava muito em Engenharia. Falavam pra eu fazer e fui fazer o curso. Gostei, mas não tinha condição de pagar. A mensalidade era 600 reais e eu ganhava isso. Tinha um professor de basquete, que era meu amigo, e falou: - Fábio, fiquei sabendo que você gosta de jogar basquete. Vem jogar basquete pela faculdade e consigo te dar meia bolsa de desconto”.
 
Para quem pensa que foi fácil, aliar trabalho, estudo e esporte, não foi. Pelo contrário, segundo ele.
 
“Eu jogava basquete e conseguia pagar o curso. Ganhava 600 e sobrava 300. O treino era depois da aula. A gente pegava o ônibus para o Sesi [da Rio de Janeiro], das 11 da noite até 02 da manhã. Eu não tinha meio de transporte. O treino era intensivo. A gente corria ali do Sesi, pegava pelo Cemetron [na Guaporé] até voltar ao Sesi novamente. Quase todos os dias, no mínimo, três vezes por semana”.
 
A volta para casa, em vez de se tornar um alívio, ainda era um problema:  
 
“O treino acabava três da manhã. Eu não tinha meio de transporte e essa hora não passava ônibus. Eu morava no Bairro Aponiã, na Calama com a Mamoré, com minha mãe. Depois de correr tudo isso, saía caminhando. Era mais ou menos uma hora, uma hora e pouco de caminhada por conta do cansaço”.
 
 Fábio, ainda adolescente, aluno do Colégio Militar Tiradentes, de Porto Velho - Foto: Arquivo Pessoal
 
Mais luta
 
Em alguns momentos, Fábio ainda tinha que escolher se descansava um pouco ou se alimentava. 
 
“Chegava em casa lá pelas 04, 04 e pouquinho. Aí tirava um cochilo, pois o primeiro ônibus passava às 05:30 da manhã no Conjunto Guajará. Às vezes eu decidia se ia fazer uma janta, pra comer alguma coisa ou ia descansar, pois eu ia assumir o posto. Das 06 da manhã às 06 da tarde”.
 
Um alento para o jovem empresário era a fé, muitas vezes inabalável. Em outras, o refúgio para tanto sofrimento. 
 
“Algumas vezes nessas caminhadas [na volta do treino de basquete], eu chorava. Depois de você correr depois de não sei quantos quilômetros, não ter carro. Meu corpo estava em pé mesmo, só pelo esforço. Por ser evangélico, eu também orava pra Deus no caminho. Falava: me dá oportunidade de sair daqui”. 
 
Apesar de tanto sofrimento, o ainda Fábio Freitas teve as revelações dentro do seu ambiente de conforto e esperança. 
 
“Sou evangélico, mas é importante ressaltar que já desviei algumas vezes da igreja. Sou muito firme, fui criado em berço evangélico. Sou da Assembleia de Deus da Missão, mas já fui da Maranata, gosto da Deus é Amor”. 
 
E completa: “Fui na Igreja Deus é Amor, na Avenida Brasília, onde soube que tinha um pastor de fora, que fazia revelações. O nome dele é Carlos. E a Igreja Pentecostal Deus é Amor é diferente da minha igreja e ora por essas revelações”. 
 
Aí veio a surpresa para o então vigilante: 
 
“Era um pastor do Rio de Janeiro. Eu estava sentado e ele falou: esse rapaz aí de trás, de camisa rosa, vem aqui na frente. Ele me perguntou se eu acreditava em revelação. Falei que acreditava e ele disse: - Deus vai te levantar dentro dessa cidade como empresário. Você não vai ser qualquer empresário! Vai soprar seu nome nos quatro cantos dessa cidade”.
 
E o pastor ainda completou a profecia, apesar de Fábio não confiar tanto nas palavras: 
 
“‘Vejo você fazendo propagandas na televisão da sua empresa. Vejo você comandando várias pessoas’. Lá na Sphera já tivemos cerca de 80 homens, diretos e indiretos. Saí dali não acreditando, porquê era muito fora da minha realidade. De guarda pra empresário!? Não tinha como”.  
 
Fábio durante trabalho na construtora que o fez abrir a Sphera Engenharia, cerca de 10 anos atrás - Foto: Arquivo Pessoal
 
Mudanças
 
Porém, a virada de chave aconteceu mais rápido do que o então universitário imaginava... “Em dois ou três meses, saí de guarda e do basquete e virei estagiário da construtora. Dentro da minha cabeça eu achava que o pastor não batia bem. Eu cheguei a ganhar R$ 2 mil na empresa”. 
 
Nesse novo caminho, a Sphera Engenharia começou a nascer:
 
“Eu trabalhava em dois condomínios e eu era responsável por entregar os apartamentos. Eu entregava e o cliente falava: - Ah, eu comprei com cerâmica, mas queria com porcelanato. Aí eu falava: - Vou te indicar alguém pra colocar isso. Comecei a indicar e as pessoas: - Por que você monta sua empresa e pega essas reformas? Eu falei: - É mesmo!”
 
Como todo novo caminho, foi difícil recomeçar:
 
“Em 2011, montei a empresa na frente da casa da minha mãe no Aponiã. Como eu era fichado [carteira assinada], eu não conseguia conciliar. Pegava uns serviços dentro da construtora, pegava outros por fora, mas estava difícil. Tive que sair pra investir no meu negócio”. 
 
E o apoio da mãe foi extremamente necessário:
 
“Montei a Sphera dentro de um quartinho, de 3 por 2, na casa da minha mãe. Eu era tudo: secretária, eu que atendia o cliente. Mas não tinha dinheiro pra mídia. O que eu fiz? Peguei o dinheiro da minha rescisão e mandei fazer uns cartões. Na época, fora era mais barato. Aí comecei a entregar na porta dos condomínios”.
 
Os porteiros, que muita gente trata mal, viraram aliados de Fábio nesse início de história:  
 
“Falava pra eles: - Ó, me indica aí, que te dou uma comissão, que eu te ajudo, pago um refrigerante aí pra ti. Peguei o carro da minha mãe emprestado e comecei a rodar. Fiz 4 mil cartões. Foi dando certo, tudo com muito esforço”. 
 
Fábio Sphera diz ao Rondoniaovivo que nunca fez curso de oratória. Por isso, gravar comerciais de TV não foi fácil - Foto: Arquivo Pessoal
 
Fama
 
Muita gente acredita que o talento para se comunicar veio de berço... Pelo contrário: Fábio não tinha facilidade em falar em público. 
 
“Fiz um curso em São Paulo, Fator X, com o Pedro Superti. Ele falava que a gente tinha que mostrar as dores para os nossos clientes e as dores que você resolve. Cheguei de São Paulo e conversei com o Jeferson da Agenciarte, que tem o mesmo tempo da Sphera e falei pra ele que precisava fazer umas propagandas pra televisão”. 
 
Apesar da internet e das redes sociais estarem começando a ganhar força na época, o empresário em início de carreira, queria ir para a televisão. 
 
“Eu insisti que queria ir pra TV, apesar de me falarem que as redes sociais estavam mais fortes. Passei pra ele as ideias, ele escreveu o roteiro. Sempre fizemos tudo juntos. Aí ele me falava: - Fábio, o maior problema hoje é o pedreiro. Ele diz que vai entregar tua obra em 6 meses e entrega em 1 ano. Ele vem um dia, falta três. Pega o dinheiro e não termina a obra”. 
 
O empresário com o apresentador/mediador do debate, jornalista Domingues Júnior, e um ator, em um dos comerciais de maior sucesso da Sphera Engenharia - Foto: Arquivo Pessoal
 
Foi nessas reuniões de discussões de ideias, que surgiu a frase que ele leva todos os dias na sua vida. 
 
“Ainda disse: tem desperdício de material. Diz que vai gastar 100 mil e gasta 200. Aí o que veio na nossa cabeça: o cara tem que ficar tranquilo. Ele contrata uma construtora, ele tem uma condição financeira boa. Ele quer estar numa reunião, ganhando seu dinheiro. Não precisa sair de uma reunião e o pedreiro dizendo que acabou o cimento e está indo embora”.
 
E detalha: “Foi quando surgiu: venha para a Sphera e fique tranquilo. Fui e não desenvolvi bem. Assim como empresário, foi na raça. Não recomendo. Tem que fazer um curso juntamente ao Sebrae... Eu gostei da ideia de ser empresário e fui aprendendo. Só que com isso, perdi muito dinheiro. Já desembolsei muita grana pra consertar coisas”.
 
Segundo ele, o processo para as gravações dos comerciais não era fácil nem rápido.
 
“A gente começava a gravar 1 da tarde e parava 7 da noite. Às vezes, 08. Pra você ver como eu era ruim! Quem é desenrolado, faz em meia hora, uma horinha. Eu lia o texto, gravava, voltava. Passavam horas e horas para dar os 30 segundos de comercial na televisão. Aí mostrávamos os problemas e dizia para as pessoas ficarem tranquilas que eu resolvia!”
 
Mas, isso trouxe um processo de confiança e intimidade com os clientes, que ele respeita e preserva muito.
 
“Quando você vai para a televisão dizer que vai resolver os problemas das pessoas é uma grande responsabilidade. Mas até hoje tem gente que chega na empresa e diz que quer falar com o rapaz da propaganda.  Nem quase sempre consigo, mas se o cliente tem interesse, se eu não consegui na segunda, encaixo na terça ou quarta”. 
 
Fábio relaxando um pouco antes da gravação, sob o cuidado de Jeferson Marques, publicitário e diretor da Agenciarte - Foto: Arquivo Pessoal
 
Outro mundo
 
Colhendo os bons frutos de fazer propagandas bem-humoradas, Fábio Sphera conheceu um novo caminho: a internet e os memes. Mas ele não aceitou isso muito bem em um primeiro momento.
 
“Em 2019 e 2020, a gente estava em todos os canais. Mas eu não era muito ligado nessa coisa da internet. No começo da pandemia, comecei a receber: Seu vizinho fez um churrasco e não te convidou? Chame o 190 e fique tranquilo, com minha foto lá”.
 
E pontua: “Na minha cabeça, a gente estava fazendo um investimento altíssimo em TV aí vem uns caras bagunçar. Quer saber? Vou processar essa página. Vou pedir que eles parem com isso. O pessoal tá com outra visão minha”. 
 
O dono da Sphera Engenharia em uma campanha que acabou virando meme - Foto: Arquivo Pessoal
 
Com um almoço despretensioso, as ideias mudaram por conta de um admirador no restaurante.
 
“Final de semana, fui comer um peixe com minha família e o garçom disse: - Senhor, fique tranquilo! Aí ele perguntou se podia tirar uma foto comigo e eu falei que sim. Perguntei qual canal de TV que me viu. Mas ele falou que me viu na internet, no Humor em PVH. Foi aí que mudei minha opinião, percebi que eles tinham uma audiência gigantesca”. 
Figurinha do jovem empresário circulou em grupos de WhatsApp com a frase: "Fique tranquilo" - Arquivo Pessoal
 
Aí, com uma boa conversa, tudo foi resolvido:
 
“Hoje são meus amigos e me mandam antes de postar. Não pago nada, mas cedi os direitos da minha imagem para fazerem a zoação. Tinha algumas coisas, no meu ponto de vista, que eram pesadas. Eles bagunçam com todo mundo. Os memes viralizaram. Entrei em grupos de WhatsApp com minha figurinha e o ‘fique tranquilo’. No geral, ficou muito bom”.
 
Base
 
Hoje, um dos seus pilares de sustentação na vida e na carreira é a esposa.
 
“Sou casado há 4 anos com a Michele. A conheci por meio de uma amiga minha. A gente foi almoçar, olhei pra ela e gostei. Comecei a conversar, na época era solteiro. Vou dar uma namorada com essa menina, mas não tinha intenção de casar. Casei com ela”. 
 
 
Fábio Sphera coloca o botton da OAB na esposa, após pegar as credenciais de advogada - Arquivo pessoal
 
Mesmo ainda namorando e recém-saída de um emprego, Michele ajudou bastante no crescimento da Sphera Engenharia.
 
“Ela é advogada, tem quatro anos de formada e de OAB. Ela saiu de uma fábrica de refrigerantes e foi me ajudar com a parte administrativa. Ela descobriu os furos da empresa e como gratidão, falei que ia montar um escritório para ela. Arquei com um ano e meio, dois anos de despesa. A família dela achava que tinha que pegar experiência e era contra”. 
 
Outro ponto de estímulo em continuar trabalhando bastante, é o filho de quase 2 anos de idade, Arthur, já conhecido como “Spherinha”.
 
“Fomos tirar o visto em São Paulo para conhecer os Estados Unidos. Foi aprovado e na volta, Michele descobriu que estava grávida. Hoje, com quase dois anos, já que ele faz no dia 26 deste mês, minha vida mudou completamente. Toda a decisão que tomo, penso nele. Hoje eu vivo mais em função dele, em proporcionar pro Arthur, o que eu não tive”.
 
Fábio, o filho Arthur e a esposa Michele em uma festa de aniversário de um aninho dele - Arquivo Pessoal
 
O pai quer que o filho siga a mesma carreira dele, mas admite ficar feliz em que faça seu caminho.  
 
“Quero ser um pai presente e com condições. Ele é fanático por Polícia, Corpo de Bombeiros... O levei pra conhecer o comando-geral dos Bombeiros. Me satisfaz muito ver o Spherinha feliz! Um dos meus compromissos de vida, é que ele estude. Eu tinha um sonho de ter um filho homem e tive. O outro é que ele prossiga com a Sphera. Mas não vou impor isso”. 
 
E ainda dá um "spoiler" sobre o futuro do garotinho:
 
“Se ele quiser ser advogado, se ele quiser ser médico. Vamos proporcionar isso. Se quiser ser policial ou bombeiro, vou apoiar. Mas eu não quero que seja. É que ele toque a Sphera e seja o Spherinha. E em breve, ele vai participar das próximas propagandas comigo”. 
 
Relaxamento
 
Fábio Sphera conversa com o Rondoniaovivo sobre outros assuntos, principalmente como se desliga dos problemas do dia a dia.
 
“Hoje, meu esporte preferido é ser atirador. Sou CAC [caçador, atirador e colecionador]. Pelo menos uma vez por semana, vou para o estande de tiros e tiro o estresse. Ainda tenho também muita paixão ainda pelo basquete e descobri o ciclismo, que é ótimo”.
 
Fábio Sphera treina em um dos seus esportes preferidos: atirador - Arquivo Pessoal
 
Ele também é bem ligado na política rondoniense:
 
“Eu acho que tem que haver uma renovação na Assembleia Legislativa. Tenho muitos amigos lá dentro, converso com todos. Eu vejo que trabalham, mas tem muita gente que prometeu e não cumpriu. Não tem feito nada pela sociedade. Pelo que tenho visto nas redes sociais, nomes bons, acredito que vá renovar uns 50% na questão de deputados estaduais”.
 
Porém, por enquanto, Fábio não tem interesse em participar diretamente como político, e sim, atuar nos bastidores. 
 
“É a primeira pessoa que me pergunta sobre isso. Eu gosto de avaliar, mas não gosto de me impor. Gosto de acompanhar política. Dou meus palpites, principalmente quando é pra ajudar a melhorar. O pessoal elegeu o cabra, então deixa ele lá. Na próxima eleição, a população troca. Sou mais de ficar nos bastidores, acompanhando com os amigos”.
 
Fábio Sphera gosta de política, mas prefere dar palpites e conversar com amigos que são políticos - Arquivo Pessoal
Direito ao esquecimento

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