Mulheres ameaçam deixar Igreja Católica se Vaticano não lhes reconhecer a igualdade - Por Paulo Queiroz

Mulheres ameaçam deixar Igreja Católica se Vaticano não lhes reconhecer a igualdade - Por Paulo Queiroz

Mulheres ameaçam deixar Igreja Católica se Vaticano não lhes reconhecer a igualdade - Por Paulo Queiroz

Foto: Divulgação

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Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

 
 
 


 

1 – DEUS MULHER

 


 

"Em nome da Mãe, da Filha e da Espírita Santa”. É como se indica recitar o sinal da cruz. E a oração que Jesus nos ensinou bem que também poderia começar assim: “Mãe nossa, que estás no céu..." Conforme se pode ler na edição eletrônica de 16.08 do jornal “El País” - aviso aos navegantes: aprendendo espanhol, entre as tarefas escolares do digitador está a captura de textos na Internet. Desconfie, pois, o leitor da tradução -, as teólogas feministas (da Espanha) estão propondo subverter a linguagem de gênero da liturgia católica como forma de comprovar a apropriação masculina da própria idéia de Deus realizada através dos séculos.

 

Pensam que, de tanto representar o Altíssimo com figuras masculinas e de excluir a mulher dos estamentos do poder religioso, as hierarquias católicas acabaram "violando a imagem de Deus nas mulheres", apagando do mundo a parte feminina do Supremo Criador. Um dos problemas – entre os vários levantados pelo jornalista do “El País”, José Luis Barbería - é que poucas imagens podem ser tão obscenas em nossas sociedades católicas quanto a exposição pública de uma mulher nua pregada na cruz. E poucas coisas irritam tanto o Vaticano quanto o questionamento do papel atribuído à mulher na Igreja.

 
 

Segundo Barbería, há uma revolta feminista travada surdamente há décadas nas catacumbas da Igreja oficial, seguida clandestinamente em não poucos conventos, uma rebelião que o “Monitum” (advertência canônica oficial) editado há seis anos pelo então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé (antiga Inquisição) e hoje papa, Joseph Ratzinger, não conseguiu silenciar. Tampouco adiantaram as posteriores ameaças de excomungar quem participasse da ordenação de mulheres.

 
 

A democratização-feminilização modificaria sem dúvida a visão interior e exterior da Igreja e desbarataria a trama vertical do poder: bispo, cardeal, sumo pontífice, de forma que a eleição do papa, ou papisa, não mais caberia apenas aos 118 purpurados homens cardinalícios reunidos em conclave.

 
 


 

2 – ATÉ QUANDO?

 

Não é preciso ser mulher e crente para constatar que as pregações e litanias, os cânticos e as preces que os fiéis católicos elevam ao céu surgem majoritariamente de gargantas femininas. Que são as mãos de mulheres que cuidam da limpeza e do funcionamento dos templos, desde as flores e as toalhas dos altares até o ar-condicionado, passando pela coleta das esmolas e o cuidado dos hábitos sacerdotais. O que aconteceria se, como propõem algumas teólogas feministas, as mulheres decidissem não ir às igrejas até que se reconhecesse sua igualdade?

 

A aceitação do sacerdócio e do bispado feminino entre os protestantes e anglicanos deixa a Igreja Católica diante de uma pergunta: até quando o Vaticano poderá continuar ignorando o fato da emancipação feminina e da igualdade dos sexos? De quanto tempo a Igreja vai precisar para mudar o olhar que os santos padres - desde santo Agostinho a santo Tomás de Aquino - atiraram sobre a mulher, esse ser que, assim como Aristóteles, também eles julgaram inferior, submisso, de natureza defeituosa, incompleta, "imbecilitas", impura?

 
 

Quanto ainda vão demorar os doutores da Igreja para livrar a mulher do sentimento de culpa por ter entregado a maçã a Adão, para libertar-se inteiramente dos preconceitos que proibiam as mulheres de entrar nos templos durante seus períodos de menstruação, ou simplesmente de tocar nos vasos sagrados? Os bispos, os cardeais e o papa acreditam verdadeiramente que as novas gerações de mulheres aceitarão submissamente um lugar subalterno na Igreja, por mais que ultimamente venham pela mão dos movimentos mais fundamentais?

 
 

A ausência de uma perspectiva razoável de evolução e o conservadorismo dos bispos que dominam a Conferência Episcopal Espanhola desesperam boa parte da militância cristã reformista. Mas o machismo da sociedade também tem suas raízes na cultura cristã e continua vigente na idéia, exposta na primeira encíclica do papa Bento 16, de que a mulher foi criada por Deus "como ajuda para o homem".

 
 

3 – IGUALDADE JÁ

 


 

A brecha que separa as mulheres da atual hierarquia é tão profunda que os grupos mais radicais atuam à margem da Igreja oficial. Suas missas se desenrolam no fio da legalidade eclesiástica ou em clara ilegalidade. Alteram o rito litúrgico em busca de maior espontaneidade e liberdade, consagram pão e vinho normais em vez das hóstias e do vinho de missa, e não é raro que algumas dessas missas sejam oficiadas por mulheres que assumem por sua conta e risco a tarefa de consagrar, desafiando a pena de excomunhão.

 

E essas mulheres, peritas teólogas, percorreram seu caminho, descobriram muitas coisas para se conformar com o argumento curioso - a Igreja do século 21 transfere seu machismo ao próprio Jesus Cristo - de que não é possível ordenar as mulheres porque o Salvador estabeleceu que os 12 apóstolos fossem homens.

Do ponto de vista teológico, porém, não há um empecilho dogmático que proíba o celibato opcional ou a ordenação da mulher. De fato, os apóstolos eram casados e parece igualmente comprovado que na Igreja primitiva houve diaconisas e presbíteras, mulheres consagradas. As historiadoras religiosas se empenham em obter argumentos para demonstrar que a teórica impossibilidade de ordená-las sacerdotes não é uma verdade revelada, mas sim, como ocorre no islamismo e no judaísmo, produto da interpretação masculina da história ao longo de séculos de marginalização social da mulher.

A esta altura, no entanto, os subterfúgios dialéticos encontram já cansadas muitas dessas católicas que exigem que a hierarquia seja coerente com a igualdade. Sua mensagem é que a Igreja Católica perderá as mulheres, como já perdeu os intelectuais e os operários. Elas, que são as que amam a Deus em maior número, já não aceitam que o sexo masculino atribuído ao Supremo Criador sirva para perpetuar a servidão e a submissão secular da mulher. É que, a não ser que se insulte a condição feminina, não há resposta justificada possível para a pergunta: “Por que não mulheres sacerdotes?".

 

 

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