Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – MOVIDOS A ÁLCOOL *Não se fala em outra coisa. Pelo menos enquanto permanecerem audíveis os ecos da visita do presidente George W. Bush ao quintal do império, a imprensa estará ocupada em desfiar loas ao objeto do que está sendo chamado de a mais importante parceria estratégica que a diplomacia tupiniquim conseguiu costurar desde que o PT passou a comandar o país – o acordo de cooperação na área de biocombustíveis assinado nesta sexta-feira (09) pelos dirigentes do Brasil e dos EUA. É o tal caso: água mole em pedra dura... Nos últimos anos, o presidente Lula da Silva pareceu obcecado pelo tema. Falou dos benefícios do biodiesel e do etanol a todo chefe de Estado que o visitou e em todas as suas viagens mundo afora, enquanto seus ministros tentavam acordos com o Japão, a Coréia do Sul, a Índia e o escambau. *De tudo quanto se fala, no entanto, o que mais se repete diz respeito aos benefícios de toda ordem dos tais biocombustíveis, empoleirando-se no topo da lista as vantagens ambientais. No resumo, de acordo com as parolagens marteladas por Lula e corriola, é energia limpa, renovável, farta e barata. Enfim, ambientalmente correta e socialmente justa. Conquanto Bush, Lula e a mídia a serviço do “establishment” teimem em escamotear, já não são tão raros os estudos sérios mostrando que essa coisa não é bem a oitava maravilha do planeta. Senão, vejamos: *Num destes, a especialista em genética e bioquímica, professora Mãe-Wan-Ho, da Universidade de Hong Kong, explica que os biocombustíveis têm sido propagandeados e considerados erroneamente como neutros em carbono, como se não contribuíssem para o efeito estufa na atmosfera. Segundo ela, quando “são queimados, o CO2 que as plantas absorvem quando se desenvolvem nos campos é devolvido à atmosfera. Ignoram-se assim os custos das emissões deste gás, de energia, de fertilizantes e de pesticidas utilizados nas colheitas, dos utensílios agrícolas, do processamento e refinação, do transporte e da infra-estrutura para distribuição”. *2 – ENCANTO QUEBRADO *Noutro, este do Gabinete Belga de Assuntos Científicos, mostra-se resultados semelhantes. "O biodiesel provoca mais problemas de saúde e ambientais porque cria uma poluição mais pulverizada, libera mais poluentes que promovem a destruição da camada de ozônio". Sobre a produção de etanol, explica que "não foi levada em consideração a enorme liberação de carbono do solo orgânico provocada pela cultura intensiva de cana-de-açúcar que substitui florestas e terras de pastagem que, se fossem regeneradas, poupariam mais de sete toneladas de CO2 por hectare por ano do que o etanol". Além disso, cada litro de etanol produzido consome cerca de quatro litros de água, o que representa um risco de maior escassez de fontes naturais e aqüíferos. *Como que para compensar a teimosia em não assinar o Protocolo de Kioto, Bush passou a oferecer incentivos fiscais para que a indústria aumente o percentual de biodiesel no diesel comum. No entanto, seria necessário utilizar 121% de toda a área agrícola dos EUA para substituir a demanda atual de combustíveis fósseis. Assim, o papel do Brasil seria fornecer energia barata para países ricos, o que representa uma nova fase da colonização. As atuais políticas para o setor são sustentadas nos mesmos elementos que marcaram a colonização brasileira - apropriação de território, de bens naturais e de trabalho, implicando em maior concentração de terra, água, renda e poder. *Não bastasse, já se sabe que a expansão da produção de biocombustíveis coloca em risco a soberania alimentar e pode agravar profundamente o problema da fome aqui e alhures. No México, por exemplo, o aumento das exportações de milho para abastecer o mercado de etanol nos Estados Unidos causou um aumento de 400% no preço do produto, que é a principal fonte de alimento da população. Ou seja, tudo bem pesado e bem medido, em termos de potencial de causar danos ao ambiente, parece que o que se estará fazendo é não mais do que trocar “seis por meia dúzia”. Mas ainda é cedo. *3 – ASSEADOS E FELIZES *Quanto aos demais desdobramentos da visita, como acontece em ocasiões em que altos dignitários inspecionam as colônias – depois Bush faz escalas no Uruguai, Colômbia, Guatemala e México -, sempre sobram aspectos ridículos para a diversão daqueles que não gostam de tais incursões, mas são obrigados a pagar as contas. *No Brasil e no varejo, chama a atenção o esforço das autoridades locais na tentativa de apresentar a Bush e comitiva um país tranqüilo, asseado e feliz. Todas as ruas de São Paulo pelas quais o comboio presidencial vai passar foram limpas e pintadas, chegando-se a remover barracos situados na que dá acesso ao estacionamento do hotel que abrigará os insignes visitantes e até a proibir várias atividades na região, principalmente escorraçando ambulantes e mendigos das imediações. *Da suíte onde se instalará Bush enxergará ao longe uma favela, mas os favelados com quem manterá contato serão os abrigados por uma ONG chamada “Meninos do Morumbi”, onde cerca de 4 mil crianças paupérrimas recebem comida, roupa e escola, incluindo prática de esportes educação artística – que é para dançar e cantar sempre que a instituição recebe gente dessa estirpe. Por lá já passaram o ex-secretário do Estado dos EUA Colin Power, o presidente francês Jacques Chirac e mais uma pá de gringos ilustres para ver como o Brasil trata seus pobres. Sem tirar nem por, para inglês ver. *Nas mais das vezes, porém, esse povo assiste a isso tudo com enfado e desdém. Há quem não saiba nem direito de que país se trata. Como Ronald Reagan, em dezembro de 1982. Na ocasião, ao erguer um brinde ao presidente João Figueiredo, tascou um “voto de felicidade ao povo da Bolívia”. Quando se deu conta da gafe, tentou corrigir dizendo que aquele seria o país que visitaria em seguida. Caso típico da emenda pior que o soneto. Sua próxima escala era Bogotá, na Colômbia. Ao que um jornal venezuelano não deixou barato estampando na manchete principal – Reagan não sabe onde está e nem para onde vai.
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