1 – ELEIÇÕES NO PT
Com dois candidatos de uma mesma chapa invectivando contra o grupo adversário e o postulante à reeleição no plano estadual, será encerrado nesta sexta-feira (30), a partir das 19h, na sede da legenda, em Porto Velho, o ciclo de debates que antecede a disputa pelo comando do Partido dos Trabalhadores (PT) nos três níveis – municipal, regional e nacional.
E em que importe um aparente acirramento da contenda por aqui – pela primeira vez na história do partido em Rondônia há três candidatos disputando a direção regional -, o presidente Tácito Pereira dos Santos não deverá encontrar dificuldades para se reeleger. A não ser que a concorrência leve o pleito para o segundo turno, hipótese algo remota. Não bastasse a corrente do dirigente ter emplacado em agosto cinco dos oito delegados ao 3º Congresso e contar com o apoio de dois dos três parlamentares federais (além do prefeito da Capital), dos 6 mil 920 filiados no Estado aptos para votar, 1 mil 57 (todos do interior) só poderão fazê-lo na instância municipal, o que – como se verá – tende a prejudicar as candidaturas divergentes.
Representante da tendência antes denominada “Campo Majoritário” e agora “Construindo um Novo Brasil”, no dia 02 Tácito Pereira tentará permanecer no cargo, agora postulado por José Carlos Monteiro Gadelha (secretário municipal de Desenvolvimento Sócio-Econômico da capital) e por Mariton Benedito de Holanda (o “Padre Ton”), prefeito de Alto Alegre dos Parecis. Não obstante três candidatos, há apenas duas chapas em disputa – a de Tácito, “Construindo um Novo Brasil” e "Por Todos os Sonhos Por Todas ás Lutas: PT Para Todos e Todas", apoiada pela tendência “Movimento PT”. Vale informar que, no Processo de Eleição Direta (PED), os petistas vão escolher ainda as direções municipais e, entre sete candidatos, o novo presidente nacional do PT.
A disputa nacional envolve o atual presidente Ricardo Berzoini (chapa “Construindo um Novo Brasil”), Jilmar Tatto (“Partido é pra Lutar”), José Eduardo Martins Cardozo (“Mensagem ao Partido”), Valter Pomar (“A Esperança é Vermelha”), Markus Sokol (“Terra, Trabalho e Soberania”), José Carlos Miranda (“Um Programa Socialista para o PT”) e Gilney Viana (“Militância Socialista”). Concorrem ainda duas chapas que não apresentaram candidatos à presidência nacional: “Democracia pra Valer” e “Movimento Popular”.
2 – SEGUNDO TURNO
Tanto quanto a candidatura de Tácito Pereira no plano local, no âmbito nacional a postulação de Ricardo Berzoini é, salvo um cataclismo político de última hora (ressalva que vale para os dois casos), a favorita. Com a ajuda do diretório rondoniense, a força política representada pela tendência da dupla – “Construindo um Novo Brasil” -, conseguiu eleger praticamente metade dos delegados que participaram do citado congresso, no início de setembro. A outra metade dos participantes do conclave dividiu-se em quase uma dezena de outras tendências.
Ademais, como o PED é um processo que envolve todos os filiados da legenda – diversamente do processo congressual -, o peso de lideranças políticas que ocupam cargos eletivos - vereadores, prefeitos e parlamentares estaduais e federais - costuma influir bastante no seu resultado. No caso de Rondônia, Tácito conta com o apoio declarado da senadora Fátima Cleide e do deputado federal Eduardo Valverde, além do prefeito Roberto Sobrinho, não obstante a candidatura de um dos seus secretários. No PT isso tem nada a ver. O deputado federal Anselmo de Jesus apóia Gadelha e os deputados estaduais Néri Firigolo e Professor Dantas apóiam “Padre Ton”. Cristão novo, o deputado Ribamar Araújo deve apoiar Tácito, mas conta pouco.
Caso haja segundo turno, as apostas indicam que este se dará entre Tácito e “Padre Ton”, que é apoiado pelo “Movimento PT” (a segunda maior tendência da legenda) e pelas demais correntes do partido, que em Rondônia são pouco significativas. Na verdade, a candidatura de Gadelha – um porto-velhense cuja militância petista remonta aos primórdios do partido em Rondônia - é uma tentativa do “Movimento PT” de rachar o eleitorado da Capital, que tende a votar pesadamente em Tácito. Difícil dar certo. Caso se consiga levar a disputa para a segunda etapa com Tácito e “Padre Ton”, a presunção do “Movimento PT” é a de que os eleitores de Gadelha votem no representante do interior no turno decisivo. Nessa hipótese, a lógica indica que o novo presidente do PT deverá ser o prefeito de Alto Alegre.
Mas a realidade político-eleitoral do PT rondoniense não é tão cartesiana assim. Tanto que, segundo especulações consistentes, grande parte dos eventuais eleitores de Gadelha deverá votar na chapa oficial, a de Tácito – “Construindo um Novo Brasil”. E no caso de Gadelha ficar na terceira colocação no cogitado e remoto segundo turno, esses mesmos eleitores tenderão reverter o voto sufragando Tácito na etapa final.
Além disso, os concorrentes de Tácito devem ser prejudicados já neste domingo com a exclusão daqueles 1 mil 57 eleitores que, por pertencerem a diretórios inadimplentes com a tesouraria regional, não podem votar para os pleitos estadual e nacional, o que opera contra “Padre Ton”, único representante do interior na rinha. O que torna a remota hipótese do segundo turno ainda mais improvável.
3 – CHANCES NACIONAIS
Em Porto Velho, o ex-vereador Inácio Azevedo, candidato da chapa “Construindo um Novo Brasil” à presidência do diretório municipal, não deverá suar a camisa para derrotar o advogado Anderson Machado. A capital registra 1 mil 253 eleitores aptos e representa 18% dos filiados estaduais. Mas por conta do impedimento dos 1 mil 57 eleitores do interior, representará mais de 21% dos votantes.
No plano nacional, além da de Berzoini, há três chapas/candidaturas com maior força política e eleitoral, a saber: as de Jilmar Tatto (“Partido é pra Lutar” – chapa apoiada aqui pela candidatura Gadelha), Valter Pomar (“A Esperança é Vermelha”, sem apoio local); e José Eduardo Cardozo (“Mensagem ao Partido”, apoiada pelos correligionários de “Padre Ton”).
A totalidade das análises indica que nenhuma dessas chapas e candidaturas conseguirá, sozinha, mais de 50% dos votos. A que tende a ser mais votada, “Construindo um Novo Brasil”, deve atingir cerca de 42%. Cogita-se que Berzoini só correrá risco na hipótese de disputar o segundo turno com Tatto, que é apoiado pelo “Movimento PT”. Caso o seu candidato fique fora da disputa na etapa complementar do pleito, a segunda maior força do partido tenderá a descarregar seus votos em Berzoini – até porque o grupo também ocupa espaços no governo petista.
No último PED, em 2005, em todo país participaram 315 mil filiados no primeiro turno e 230 mil no segundo. Na ocasião, Berzoini venceu a disputa no segundo turno contra o candidato Raul Pont, da “Democracia Socialista” e apoiado por outras tendências da esquerda do PT. A vitória de Berzoini deu-se por uma diferença de pouco mais de 7 mil votos, cerca de 3,5% do total.
Em todas as instâncias o quorum para validar PED é de 15%. No PED de 2005 os petistas rondonienses conseguiram mobilizar menos de 40% dos filiados para votar. Neste domingo, por causa da disputa, a previsão é a de que o comparecimento às urnas passe dos 50%. Onde houver, o segundo turno está previsto o dia 16 próximo.