Lula troca "Brasil decente" por "força do povo"

Lula troca "Brasil decente" por "força do povo"

Lula troca

Foto: Divulgação

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Sem a bandeira ética que levantou na campanha de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva, 60, assume hoje a candidatura à reeleição dizendo que deseja um segundo mandato para "aprofundar as mudanças" em benefício dos mais pobres. *O Lula candidato hoje é diferente do oposicionista de 2002 --quando adotou uma linha moral sintetizada no slogan "Por um Brasil decente, vote Lula presidente". Após a crise do mensalão e de três anos e meio de gestão, a condição de presidente pede um discurso com menos "bravata", como o próprio Lula já classificou a antiga retórica petista. Agora, perdeu o diferencial ético e a liberdade de promessas típicas da oposição. *Não por acaso, o slogan desse ano busca reforçar seu elo com os mais pobres para os quais diz ter governado e que sustentam, por ora, seu favoritismo nas pesquisas. "Lula de novo, com a força do povo" é o jingle da convenção nacional do PT, que acontece hoje a partir das 10h em um clube de Brasília. *Para rebater críticas da oposição, Lula lançará "vacinas" contra as eventuais mudanças da política econômica e farra fiscal a partir de 2007. Dirá que o combate à inflação continuará prioritário e que manterá o controle dos gastos públicos, segundo apurou a Folha. *FHC e Alckmin *Nas palavras de um ministro, o discurso "terá alto teor comparativo" com os dois governos de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). A intenção é ligar o ex-presidente ao atual candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, Geraldo Alckmin. *Repetindo análise feita no Encontro Nacional do PT em abril, Lula dirá que recebeu de FHC um país em crise e fará um balanço de governo, enfatizando que promoveu ações de inclusão social superiores à de governos anteriores. *"Nós temos o que apresentar à sociedade. Não precisamos entrar no clima de baixaria. Não vamos sucumbir a essa tentação", afirma Marco Aurélio Garcia, assessor especial de Lula para assuntos internacionais e coordenador do novo programa de governo. A orientação é evitar ataques diretos ao PSDB e ao PFL. *Alencar e propostas *Melhoria da educação básica, reforma política e um governo de coalizão serão destacados no discurso. Priorizar a educação seria uma segunda etapa na área social. A reforma política é uma resposta à crise do mensalão, que deteriorou as relações entre Executivo e Legislativo, além de destruído o pilar ético do PT. Ao abordar o governo de coalizão, Lula afagará aliados, especialmente o PMDB, deixando claro que o PT não consegue governar sozinho. *O vice-presidente José Alencar (PRB), que repetirá a dobradinha com Lula, também receberá atenção especial, sobretudo depois das negociações fracassadas com PMDB e o PSB que desgastaram a relação entre os dois. Antes de fechar com Alencar, o presidente ofereceu a vaga aos outros dois partidos. *Lula citará o que nas reuniões os ministros chamam de "projetos estruturantes". Dirá que começou a implementar mudanças nas áreas de energia, infra-estrutura e social e que pretende continuá-las por serem estratégicas para o futuro do país. Um exemplo é a obsessão presidencial pelo biodiesel. *O discurso deve ser lido por volta das 12h. O texto foi preparado principalmente por três auxiliares: os ministros Luiz Dulci (Secretaria Geral) e Tarso Genro (Relações Institucionais) e o seu novo marqueteiro, João Santana. É possível que Lula improvise, apesar de auxiliares dizerem que a intenção é fazer um discurso em tom sóbrio e de estadista. *Presidente-candidato *Por cálculo político e para evitar problemas com a Justiça Eleitoral, Lula passou os últimos meses agindo como candidato sem admissão pública. No auge da crise do mensalão, em agosto passado, hesitou em concorrer. Foi quando o publicitário Duda Mendonça admitiu ter recebido recursos do valerioduto em pagamento da campanha de 2002. Lula chegou a temer um impeachment e caiu nas pesquisas. *No entanto, em viagem à Europa em outubro, disse a dirigentes de partidos de esquerda de Portugal e Itália que concorreria a um segundo mandato por avaliar que superaria a crise. Desde então dedicou-se a uma série de inaugurações pelo país que substituirá por "vistorias" a partir de 1º de julho, data em que a campanha começa oficialmente. Nesse período, recuperou o cacife eleitoral e se mantém favorito na pesquisas.
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