O ano de 2024 foi marcado por uma série de lançamentos de filmes que prometiam serem surpreendentes ou, no mínimo, curiosos, com elenco de estrelas e diretores com um certo apelo de sucesso – entre eles os diretores M. Night Shyamalan (responsável por O Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais) e Zack Snyder (de Watchmen e Liga da Justiça) -, mas confesso que nunca vi um ano com tantas produções ruins, péssimas, decepcionantes e puxadas por excessos, muitos excessos, que o diga a Netflix, que ao alimentar o seu catálogo de serviço de streaming lançou muita porcaria.
Outros serviços de streaming também tiveram seus momentos ruins. A colheita no caso para o público consumidor de entretenimento foi bem deficitária. Eu mesmo assisti muitos filmes esse ano que daria para preencher laudas e laudas com a lista de piores.
Assim como eu fiz com os melhores de 2024, selecionei só cinco, e sem ordem de preferência. Para ser sincero, são desgraças que podem até causar uma vergonha alheia ao assistir.
Claro, é uma escolha subjetiva, opinativa, e selecionada a partir dos meu parâmetros de qualidade fílmica – observando, premissa, história, condução narrativa, desempenho artístico, elenco, técnica e direção.
Um filme pode ter uma excelência na parte técnica, com ótima fotografia e efeitos, mas se não tiver uma história sólida, coerente e sem arroubos pretensiosos, o rumo dele é a indiferença.
Para esse fim criei o troféu “Que Desgraça é Essa?” para filmes ruins. Segue a linha abaixo. Diversão garantida. (Marcos Souza).
O CORVO
Uma refilmagem ou como queria a produtora Lions Gate uma reinterpretação do filme clássico de 1994, que ficou marcado por um acidente fatal que matou o ator principal Brandon Lee (filho do lendário Bruce Lee). No caso aqui, o diretor Rupert Sanders realizou um feito e tanto ao tornar medíocre o belo material base – até mesmo a HQ clássica de James O’Barr – mostrando o personagem Eric Draven (Bill Skasgard, mais perdido que cego em tiroteio) como um rapaz viciado em drogas que se apaixona por uma moça com o mesmo problema, Shelly (a cantora rapper FKA Twigs, péssima). Os dois são mortos por um misterioso homem, rico e financiador de um grupo de assassinos. Através do poder de uma entidade, a Morte, representada pelo Corvo, Eric faz um pacto e volta para se vingar indo atrás dos criminosos que o mataram. O diretor Rupert comanda um banho de sangue, com extrema violência plástica, porém sem coordenação narrativa. Fica tudo jogado e perdido. A história não funciona, a química do casal é pura noise sem sal algum. Não tem emoção, não fede e nem cheira. O filme foi um fracasso retumbante. Custou 50 milhões de dólares e rendeu menos de 30 milhões.
Disponível na PRIME VÍDEO.
MERGULHO NOTURNO
A produtora Blumhouse, que tem uma parceria com a produtora Universal para realizar filmes de terror, lançou essa bomba de efeito imoral como uma grande novidade no gênero. Escrito e dirigido por Bryce McGuire, é um daqueles filmes com uma premissa surpreendente (de ruim), pois é curioso no prólogo, mas depois vem um pastiche sem pé e nem cabeça, onde uma enorme piscina é o terror de uma família que adquiriu a casa. No caso, um ex-jogador de beisebol, chamado Ray (Wyat Russel), relativamente famoso, se aposenta por causa de uma doença degenerativa e acaba comprando uma casa nova, um local grande e que tem uma piscina bem convidativa, então ele, a sua esposa e dois filhos acham que encontraram o lar dos sonhos. Quando passam a usar a piscina acabam descobrindo que é um pesadelo, até para o espectador, que é obrigado a engolir que tem uma maldição que mata e toca o terror quando as pessoas tomam banho nela e mortes vão acontecendo. Nada funciona com uma premissa besta dessa. É ruim. E o spoiler final é tão horrível que logo no primeiro bocejo você fica se perguntando porque fizeram esse filme.
Disponível na PRIME VÍDEO.
REBEL MOON 2 - MARCADORA DE CICATRIZES
E o “visionário” diretor Zack Snyder que assinou um contrato de exclusividade com a Netflix para fazer as suas produções cinematográficas. Depois de um filme de zumbi horrível passado em Las Vegas, ele no ano passado criou a sua própria saga derivada de Star Wars, onde um grupo de guerreiros rebeldes buscam a liberdade ao confrontar o império galáctico comandado por uma força militar tirânica. Sim é quase uma cópia da obra do diretor George Lucas. Mas Rebel Moon, que estreou ano passado com uma primeira parte péssima, cometeu a continuação, tão ruim quanto a primeira e excessivamente pretensiosa e – pasmem – quase uma cópia do primeiro filme. A diferença é que agora, os agricultores da Lua – a do título – são treinados pelo grupo rebelde a combater no braço os militares repressores. E Snyder está num nível alto com todos os seus cacoetes artísticos, ou seja, fotografia com muita contra luz, câmera lenta para todas as cenas de ação mais impactantes (se é que filmar a colheita de arroz e soja com filtros estourados seja algo relevante). A história é medíocre, os atores até que se esforçam para dar coerência, mas é tudo tão forçado. E eu acho o cinismo do diretor impressionante, ele declarou que seria capaz de fazer mais cinco continuações e se divertir com isso. Ele só esqueceu de que quem assiste pode não concordar depois de ter assistido essa bomba. A coisa foi tão ruim que a Netflix não sabe se vai ter terceira parte e talvez a história fique inconclusiva.
Disponível na NETFLIX
MADAME TEIA
A Marvel não tem nada a ver com esse universo da produtora Sony e que envolve os vilões do herói Homem Aranha. Esse universo iniciou com Venon (que acabou gerando mais dois filmes, o terceiro foi lançado esse ano, e é ruim também), depois veio Morbius, com certeza o pior filme de 2023. E aí a Sony após fazer todo o disse me disse nas redes sociais e no marketing anunciou esse filme, “Madame Teia”, que é uma personagem de 3º escalão do Homem Aranha, com a atriz Dakota Johnson no papel título. E lançou. O filme foi mal recepcionado tanto por crítica quanto público, pois é o suprassumo de tudo de ruim que o gênero de super-herói poderia cometer com um trabalho masoquista na mediocridade absurda. Nada, nada funciona nesse filme, pois é tudo uma previsão de que talvez aconteça. A Madame Teia tem como poder prever o futuro das pessoas em sua volta. Um dia ela prevê que três jovens estão predestinadas a ter poderes derivados do Aranha e que enfrentarão um vilão assassino chamado Ezekiel, que vai querer matar todas por achar que elas serão responsáveis por sua morte. As cenas de ação se resumem a perseguição com uma ambulância, nenhuma das jovens ainda tem poderes, são apenas previsões (é isso mesmo). E o filme fica reduzido a um roteiro fechado e cheio de furos. O final deixa uma porta aberta para uma continuação que nunca vai acontecer. Fracasso de bilheteria e vergonha alheia de todos os envolvidos. Se não assistiu ainda, fuja.
Disponível no MAX.
ARMADILHA
O diretor, produtor e roteirista M. Night Shyamalan já foi um nome forte em filme de suspense e com apelo dramático. Tem uma carreira irregular por ter escrito e dirigido alguns filmes bem abaixo da sua qualidade artística. Ele é mais lembrado por ter feito do seu primeiro filme, “O Sexto Sentido” (1999), uma obra prima com o que é considerado o melhor plot twist da história do cinema depois de “Psicose”, de Alfred Hitchcok. Aí caímos nessa “Armadilha”, o mais recente filme dele. E o que prometia no trailer e material promocional ser um dos grandes filmes de serial killer de 2024 se revelou uma grande, gigante decepção. Um homem, o ótimo ator Josh Hartnett, leva a sua filha adolescente a um show de uma estrela da música pop que leva milhares de jovens a loucura e veneração – por sinal essa estrela é a filha do diretor. No local ele percebe uma movimentação gigantesca de policiais e agentes do FBI, alguns infiltrados. Por meio de um atendente descobre que na verdade o show é uma grande armadilha, uma operação “secreta” (entre aspas mesmo) para prender um assassino em série que está assistindo o show. E descobrimos em seguida que o serial killer é esse pai. Então com esperteza e essa informação privilegiada ele vai driblando a vigilância e cuidando da sua filha no show. Até conseguir sequestrar a cantora do show numa das cenas mais absurdas que eu já vi. Uma vez em casa a situação só piora e o filme também, com soluções beirando o ridículo, uma polícia extremamente incompetente e primária. E o final tem o que eu considero o mais mal feito e pior plot twist que ele já fez em seus filmes. Que lástima.