O Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGG) da Universidade Federal de Rondônia (Unir) realizou na sexta-feira (30) a defesa da dissertação de mestrado “Transformações Territoriais no Alto Rio Madeira: Hidrelétricas, Tecnificação e (Re) Organização”, da mestranda Maria Madalena de Aguiar Cavalcante. A banca examinadora foi composta pelos professores Dorisvalder Dias Nunes (orientador) e Januário Amaral, do Departamento de Geografia da Unir, e também pela professora Rosa Ester Rossini, da Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a pesquisadora, sua dissertação busca compreender como grandes obras de infra-estrutura na Amazônia repercutem em mudanças no contexto geográfico. Ela explica que os objetivos do trabalho se pautaram na periodização das transformações territoriais no Alto Rio Madeira, a partir da inserção de grandes obras de infra-estrutura - no caso, a construção das Hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau -, na identificação dos principais atores e estratégias de atuação na transformação do território e, por último, nos conflitos de uso desse território frente à implantação das hidrelétricas, considerando os agentes atuantes e as normas legais e jurídicas.
ALTO MADEIRA - Ela diz que a escolha da área de estudo ocorreu pelo fato de ser a região de maior impacto em termos de extensão da área alagada com a construção das Hidrelétricas do Madeira. Além disso, ela cita também as próprias características históricas do processo de integração da região com a dinâmica econômica nacional. “Diante da história de transformação do Alto Rio Madeira, esta região foi (re)funcionalizada mediante as necessidades externas e, em cada momento de (re)funcionalização, tem-se na área a implantação de infra-estrutura, fato que atraí pessoas em busca de trabalho”, explica.
A pesquisadora aponta, por exemplo, o caso dos períodos econômicos da borracha, da exploração do ouro no Rio Madeira, da exploração madeireira, da pecuária e, atualmente, o cultivo de grãos, em particular, a soja. Entretanto, ela argumenta que estes períodos são intensos nas fases iniciais, mas sem capacidade de construir estabilidades econômicas, sociais e ambientais.
NÍVEIS E TEMPORALIDADES DOS IMPACTOS - Nesse contexto, Maria aponta que a construção das Hidrelétricas implica na forma de organização da população, onde determinados setores serão dinamizados como é o caso da exploração madeireira, da pecuária e da soja. Por outro lado, as atividades existentes há décadas, como a agricultura de várzea, o garimpo, as atividades extrativistas e a pesca serão restringidas com a formação do lago gerado pelas usinas. “São atividades que não possuem link com a nova (re)funcionalização”, enfatiza.
Seu trabalho deixa como sugestão aos gestores públicos a importância da compreensão dos níveis e temporalidades dos impactos, pois, segundo a pesquisadora, as transformações ocorrem mesmo anteriormente à materialização dessas obras, constituindo os chamados impactos especulativos. “Um exemplo disso seria a especulação imobiliária, o aquecimento na construção civil e a própria mobilização da população pela perspectiva de trabalho mesmo antes de sua materialização”, diz.
A partir daí, Maria explica que com a construção propriamente dita das Hidrelétricas tem-se os impactos imediatos, como a formação do lago, que somente ocorrem com a concretização da obra. Por fim, há os impactos processuais, que se constituem na soma dos impactos gerados pelas Hidrelétricas com os problemas já existentes, como é o caso da pressão em áreas de preservação. “É importante que os gestores tenham esta noção para traçar planejamentos e, sobretudo, prevenir problemas sociais e ambientais”, finaliza.
Maria Madalena de Aguiar Cavalcante é licenciada e bacharel em Geografia pela Unir. É pesquisadora do Laboratório de Geografia e Planejamento Ambiental (Labogeopa). Tem especialização em Gestão Ambiental e iniciou o Mestrado em Geografia na Unir em 2006.