Um autêntico “cult movie”, o filme de Brian de Palma, que mistura musical (ópera-rock), com suspense, humor negro, num misto de “O Fantasma da Ópera” e “Fausto”, de Goethe, retrata bem a época que foi realizado, anos 70, com toda aquela mania “kitsch” (ma
*Foto/legenda: Reprodução dos cartazes originais do filme quando lançado em 1974
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*Por: Marcos Souza
*Para o cinéfilo algumas coisas referentes àqueles filmes “cult” acabam se tornando um retrato saudosista de uma época. O “cult” é uma expressão antiga e que designa um culto a determinada obra de expressão intelectual. A expressão para o cinema vem de “cult movie”, que deriva das famosas “sessões da meia-noite” (midnight movie) que nasceram na década de 70 quando um filme de “classe B” chamado “Rock Horror Show” (The Rock Horror Picture Show/EUA/1974), de Jim Sharman, foi lançado em alguns cinemas norte-americanos.
*Misto de musical, com paródia aos filmes de horror, embarcando na onda “glitter” por qual passava o rock naquela época – referência a bandas como New York Dolls e T-Rex -, “Rock Horror Show” acabou sendo um fracasso, mas alguns proprietários de cinema para não perder o lucro em cima obra, resolveram exibi-lo em sessões a meia-noite e o filme se tornou mania quando um grupo de estudantes começou a imitar alguns números dentro das salas de cinema, executando performances de canto e dança durante as projeções – fato esse mostrado de forma emocionante no musical de Alan Parker, “Fama” (Fame/EUA/1980) -. No Brasil “Rock Horror Show”, estreou com atraso de 5 anos e não foi tão bem recebido, mas ficou em cartaz na Inglaterra por 4 anos seguidos.
*Tirando as qualidades técnicas do filme, que são boas por sinal, trata-se de um filme atípico com uma linguagem voltada para o público da época, com uma história surrealista envolvendo sexo, ETs, transsexuais, sadomasomaquismo, num misto de musical e paródia de filmes de terror. Com o seu charme “kitsch” (mau gosto), onde o exagero é permitido a partir do momento em que se utiliza o humor como recurso (o que em filmes dessa categoria é sempre bem vindo), o filme então ganhou um “culto” em sua volta e se tornou referência no que se designou a essência do termo “Cult Movie”.
*”O Fantasma do Paraíso” (Phantom of the Paradise/EUA/1974), do diretor Brian de Palma, chega a ser quase um co-irmão de “Rock Horror Show”, com sua postura surrealista, na mistura de suspense, rock, musical e humor negro. O filme foi um fracasso no Estados Unidos, mas foi bem recebido no Brasil se tornando um sucesso e também a primeira obra cinematográfica a ganhar o status de “cult” em terra tupiniquins.
*Na sua coluna no UOL, o crítico de cinema Rubens Ewald Filho comenta sobre esse processo de transformação de “cult”, “(...) Quando estreou em São Paulo, ficou apenas dois dias em cartaz. Mas o antigo cine Bijou o resgatou, e o filme passou a fazer sucesso.”
*Pois é, o filme foi lançado finalmente em DVD (numa versão magra, sem extras) e é um dos melhores exemplares do diretor, um mestre na narrativa visual, com domínio completo na arte de levar a platéia aonde quer, é dele obras-primas como: “Carrie, a estranha" (Carrie/EUA/1976), “Vestida para Matar” (Dressed to Kill/EUA/1980), “Doublê de Corpo” (Boddy Double/EUA/1985) e “Os Intocáveis” (The Untouchables/EUA/1987).
*Apesar de datado, na direção de arte e no figurino (boa parte da ação se passa numa discoteca típica dos anos 70), o filme é uma óbvia paródia de “O Fantasma da Ópera”, de Mary Philbin. Outro tema referente é a lenda de Fausto,
de Goethe, quando um desconhecido e talentoso compositor, Winslow Leach (Gerrit Graham), apaixonado por uma cantora (Jessica Harper), escreve uma cantata que retrata a trajetória de Fausto, o lendário mago, que vendeu sua alma ao diabo para ganhar a imortalidade, e tem suas composições roubadas por Swan (interpretado pelo cantor e compositor Paul Williams, que compôs a trilha sonora), que acaba incriminando Winslow, condenado à prisão perpétua como traficante, sendo enviado para a prisão de Sing Sing. O produtor planeja usar a cantata roubada para inaugurar "O Paraíso", uma nova casa de espetáculos que está planejada para ser o novo templo do rock. Winslow consegue fugir da prisão e resolve então sabotar a gravação do disco com suas músicas indo até a fábrica, mas lá sofre um pavoroso acidente, quando o seu rosto é prensado numa máquina de vinil. Tempos depois ele surge na discoteca como um fantasma mascarado que busca vingança causando acidentes que vão atrapalhando o espetáculo e descobre que a cantora por qual está apaixonado é a estrela principal da casa.
*Um dos bons momentos do filme é quando o astro da peça é literalmente eletrocutado no meio de uma apresentação. E outro grande momento, que remete ao estilo do diretor Brian de Palma, é toda a seqüência da bomba realizada numa única tomada, homenageando o filme de Orson Welles, “A Marca da Maldade” (Touch of Evil/EUA/1958).
*O filme recebeu uma indicação ao Oscar de melhor Trilha Sonora e ganhou Grande Prêmio do Festival do Cinema Fantástico de Avoriaz, na Espanha - o mais importante festival de cinema dos gêneros ficção e terror.
*“O Fantasma do Paraíso” é um lançamento da distribuidora Oregon, com produção original da 20th Century Fox e tem 91 minutos, sem contar que da filmografia do diretor, é um dos mais esperados por seus séquitos fãs, o que inclui esse
que vos escreve.
* Marcos Souza é jornalista e editor de cultura do site