POSICIONAMENTO: Zé de Abreu diz que Globo 'não mexe em ninguém' por político

Ator de 'Mar do Sertão' acredita que o personagem, Coronel Tertúlio, votaria em Bolsonaro

POSICIONAMENTO: Zé de Abreu diz que Globo 'não mexe em ninguém' por político

Foto: Divulgação

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Zé de Abreu, intérprete do Coronel Tertúlio em "Mar do Sertão", garante que não existe retaliação por declaração de voto na Globo. O ator também explica o motivo de ter abandonado a ideia de uma carreira no Congresso e sugere que o personagem da novela das seis votaria em Bolsonaro nas "Eleições de 2022".
Em entrevista ao iG Gente, Zé observa que dono do maior açude de Canta Pedra, cidade fictícia da novela da Globo, é um "homem preso ao passado". "Ele [Coronel Tertúlio] tem aquela coisa da dignidade, da honra, é contraditório até. Ele e esse tipo de gente tem nenhuma consciência social", analisa Zé.
 
 
Para Zé de Abreu, o personagem seria alinhado com as pautas do atual governo de Jair Bolsonaro (PL). "Nunca que ele votaria na esquerda, por princípios dele, mas ele respeita a Candoca (Isadora Cruz), por ela enfrentar ele de peito aberto e olho no olho", comenta.
O ator entrega que interpretar um personagem que é o oposto da personalidade dele é mais divertido. "É mais fácil fazer o que está longe, o oposto da gente é mais fácil, porque você enxerga melhor. Quando é algo próximo, não fica claro quando é o ator e quando é o personagem. Por isso gosto tanto de fazer vilões", indica. 
 
Apesar das atitudes dúbias do personagem e os toques de vilania, Zé defende que o Coronel age a partir da defesa da honra. "Ele é muito honrado, tanto que ele gosta do Zé Paulino (Sérgio Guizé) e não gosta do filho. Tertulinho (Renato Góes) não é honrado, apesar de ter extrema delicadeza, é capaz de desligar os aparelhos de Zé Paulino", analisa.  
 
 
"Achava ter obrigação de doar quatro anos da vida para a política, mas não posso"
 
 
 
 

 

Filiado ao PT, Zé de Abreu sentia a necessidade de fazer mais pela política além de ser ativo no partido. O ator até cogitou se lançar para concorrer para uma vaga no Congresso, mas desistiu ao ver que a decisão afetaria filhos e netos. 
"Eu desisti devido à questão das pessoas politicamente expostas [PPE], eu não poderia trabalhar em nenhuma emissora de televisão, nem meus filhos, porque até os streamings têm essa questão das 'PPE's'", explica. 
 
Zé explica que os dois filhos trabalham em relações com o governo e teriam de sair dos empregos caso ele se candidatasse e ganhasse uma vaga de deputado federal. "Já seria um sacrifício abandonar a carreira por quatro anos, doaria, mas não posso arriscar meus filhos, o trabalho deles extrapola minha vontade", afirma. 
 
Ele até conta que não pretende investir na carreira política caso os filhos mudem de emprego. "Eu até poderia trabalhar na Funarte, na EBC, órgãos de arte, mas essa lei me impediria de trabalhar durante o tempo no governo e mais cinco anos depois. Eu teria 80 e poucos [anos], não dá", analisa Zé, que está com 76 anos. 
 
"É preciso separar o artista da arte"
 
Zé não concorda com os que param de consumir a arte ou o conteúdo de pessoas que se posicionam de maneira diferente a dele. "Não deixei de cantar 'Inútil' porque descobri que o Roger é um inútil, eu acho a música boa, gosto do grupo. Tem que separar o artista da obra", exemplifica. 
 
"Tem quem fale que pega ranço de bolsonarista, não sei o que lá, mas se for pegar ranço de quem for de esquerda, vai pegar 70% de toda a arte. Ultimamente quem vem do teatro tem essa visão que chamam de esquerda, né?", questiona. 
 
Para ele, a relação política na Globo é bem tranquila. Tanto, que Zé afirma que a emissora não interfere na vida pessoal dos contratados. A não ser que o artista cometa um crime, como no caso de José Dumont, preso por armazenar fotos e vídeos de pornografia infantil. 
 
"Isso já é justa causa, não tem nem o que discuta. A Elizângela, também, por não se vacinar. É questão de saúde pública, quem não tomava vacina não poderia nem entrar no Projac. Agora, lado político, a emissora sempre deixou claro que não mexia em ninguém por declarar voto", analisa. 
 
O ator até diz que se sentia solitário por se posicionar politicamente até alguns anos atrás. "Era uns cinco ou seis, eu, o Paulo Betti, o Osmar Prado. A maioria só se manifestava nas eleições, ia em reuniões, agora todo mundo participa. Não que todos viraram de esquerda, mas pelo menos tem uma posição política", celebra. 

 

 

Zé de Abreu celebra a maioria nordestina no elenco
 
Paulista, Zé de Abreu sente que é "muito bom ter um elenco" com maioria nordestina. Ele relembra até a vez em que se tornou "um ator gaúcho" e demorou para retomar a carreira na atuação. "Estar na Globo é ter um reconhecimento nacional, vibro muito ao ver isso. Eu fui para o Rio Grande do Sul, ganhei um prêmio e voltei para a Globo, tive a mesma sensação", relembra. 
"E ainda tem o tesão, chega todo mundo entusiasmado para contar uma história nordestina, isso também dá uma emoção", entrega. Zé até relembra que a Globo mudou após o movimento que ocorreu em "Segundo Sol", quando a emissora foi criticada por ter maioria branca em um elenco que retrata uma história ambientada na Bahia. 
 
"Eu gravei na Bahia e eles já discutiam isso, tivemos uma reunião com o diretor e o João Emanuel Carneiro e ele falava dos personagens e protagonistas negros da novela. Na época eles não pensaram realmente em negros em uma novela na Bahia. Para mim, foi o primeiro passo para a Globo ampliar a participação", analisa. 
 
Após as gravações em "Segundo Sol", em que interpretou Dodô, Zé de Abreu diz que sentiu que a Globo mudou na maneira de escalar pessoas negras. "Passei oito meses na Europa e, quando voltei, reparei que a GloboNews já tinha mudado de cara. Nas novelas também, a Claudia Di Moura é uma protagonista da novela das 19h, por exemplo", diz. 
 
 
 
 
Trabalhando entre amigos
 
Zé de Abreu se sente feliz por interpretar o personagem ao lado de amigos como Débora Bloch, que atua como a esposa de Coronel Tertúlio, Renato Góes, Isadora Cruz e Sérgio Guizé.
 
"É muito bom, já tinha trabalhado com Débora e Renato, mas pouco. O Guizé fiz 'A Dona do Pedaço' e ele foi meu genro, gosto muito dos três, estamos fazendo uma quadradinha incrível. A Isa é maravilhosa, muito alto astral e gente boa", elogia. 
 
Ele conta que o núcleo central da novela se diverte. "E o elenco inteiro, o pessoal que veio de fora, vem com uma garra, gana e alegria de trabalhar. Os bastidores são muito agradáveis, estamos sempre cantando. Aqueles dois malucos também sempre estão lá cantando, sempre tem uma viola, é o maior barato", se diverte, relembrando Juzé e Lukete, a dupla que canta os próximos capítulos da novela para os telespectadores.
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