Lembrou Confúcio que a presença e a trajetória do ICB-5 na Amazônia Ocidental Brasileira foram relatadas em 2021 pela jornalista Mônica Teixeira no livro “ICB-USP na Amazônia: 30 anos de ciência nas fronteiras do Brasil”, lançado no ano passado.
O senador destacou a constatação científica, segundo a qual, na Amazônia Brasileira “caminham de braços dados as antigas doenças infectoparasitárias e as recentes doenças crônicas não transmissíveis: câncer, hipertensão arterial, dislipidemias, diabetes e doenças crônicas do pulmão.
O livro de Mônica Teixeira relata que em 1997, com a chegada do recém-aposentado professor Luiz Hildebrando a Porto Velho, o médico Marcelo Aranha, com anuência do então Departamento de Parasitologia, “migrou” para Monte Negro com o objetivo de auxiliar a prefeitura a montar um “modelo amazônico” de atenção e promoção da saúde. E até hoje ali ele acumula diversos estudos de outras endemias, entre as quais, micoses sistêmicas, leishmaniose tegumentar, hanseníase, carrapatos (e suas doenças), “barbeiros”, mosquitos e mais recentemente o processo de envelhecimento da população.
Em 2017, o cientista e médico Erney Plessmann de Camargo, pai de Marcelo Aranha, narrava “o por quê” da presença do ICB-5 em Rondônia: “A população do estado cresceu de 100 mil habitantes para 1 milhão (10 x) em 20 anos e o número de casos de malária subiu de 6 mil para 300 mil (5 x) casos por ano. O atendimento à saúde era precário, uma vez que o estado não estava preparado para esse crescimento explosivo da população. Em muitos assentamentos, a situação tornou-se de absoluta calamidade, particularmente em Ariquemes, Machadinho do Oeste e mesmo Porto Velho.”
“Nos anos 1980, relatou Erney de Camargo, o pesquisador chefe do Laboratório de Malária do Instituto Pasteur de Paris, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, havia recentemente migrado da Escola Paulista de Medicina para a chefia do Departamento de Parasitologia do ICB da USP. Ele eu, ambos discípulos de Samuel Pessoa e originários do assim chamado Departamento Vermelho da Faculdade de Medicina, entendemos que era parte de nossas obrigações sociais atuar de alguma forma a entender e minorar as consequências dessa nova epidemia malárica.”
“Procuramos nosso amigo, o professor Marcos Boulos, que já atuava em Rondônia, para nos pôr a par da situação e nos apresentar aos serviços e alguns profissionais de saúde de Rondônia. A partir daí, Luiz Hildebrando começou a vir com frequência ao Brasil e ambos passamos a visitar Rondônia com relativa assiduidade. Luiz Hildebrando progressivamente convenceu-se de que seu lugar era lá e, a meu convite, decidiu prestar concurso para professor titular no Departamento de Parasitologia do ICB. Ele e eu começamos a submeter projetos de pesquisa a várias instituições nacionais e internacionais.”
A USP conseguiu auxílios da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Organização Mundial da Saúde (OMS), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) e assim recrutou sua primeira equipe constituída pelos médicos Marcelo Urbano Ferreira (hoje professor da Parasitologia do ICB) e Luís Marcelo Aranha de Camargo, então pesquisador da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen-SP).
“O doutor Erney, membro titular da Academia Brasileira de Ciências e membro honorário da Academia Nacional de Medicina, viveu para ver que atualmente caminhamos para 2 milhões de habitantes”, disse Confúcio.
“O começo foi muito difícil. Ficávamos em hotéis muito simples ou casas de conhecidos. Inicialmente, juntamente com alguns docentes da Universidade Federal de Rondônia, pudemos documentar o caráter explosivo da malária em Candeias do Jamari, então, pequena vila-dormitório de caminhoneiros”.