Política em Três Tempos
1 – APOSTA TUCANA
De novo, não tem mas, nem meio mas. Na hipótese de que o governador Ivo Cassol (afastado do PPS) insista em sancionar uma chapa encabeçada pelo vice-governador João Cahulla (PPS) para disputar o governo em 2010, entre outras possibilidades concorrentes, agora pode contar como certa a pré-candidatura ao mesmo posto do senador Expedito Júnior (PR). Circulando desde meados da semana que passou, a notícia segundo a qual a direção nacional do PSDB abriu as portas da seção estadual da legenda para acolhê-lo e à sua gente, nas bastasse verdadeira, implica necessariamente no compromisso de montar e comandar no Estado o palanque principal para dar suporte à postulação presidencial da agremiação tucana – seja ela capitaneada pelo paulista José Serra (a mais provável) ou pelo mineiro Aécio Neves (ainda no páreo).
Não fora a lei da infidelidade partidária, a notícia de que se fala já teria dado conta do retorno de Expedito Junior ao ninho tucano – o que não está descartado, caso o Congresso se lixe para a opinião pública e termine por aprovar a “janela” (expediente que abriria prazo de 30 dias para troca de partido). Em todo caso, de comum acordo com a atual direção estadual do PSDB rondoniense (tanto que a presidência regional permanecerá nas mãos de um Casara, no caso, Astrobaldo, irmão de Hamilton), um novo diretório tucano está sendo montado de modo a assegurar que, na convenção de junho do ano que vem, ou o partido acolhe uma eventual postulação do senador à candidatura da legenda ao governo ou aprova incondicionalmente a coligação com o PR sob cuja bandeira Expedito Junior disputará a sucessão governamental.
Sob pena de nunca mais ser levado a sério nos bastidores da política nacional, dessa consigna o senador Expedito Júnior não poderá se esquivar. Eis que, segundo confirmou à coluna o próprio Astrobaldo, antes de fazer as mudanças locais a direção nacional do PSDB encomendou pesquisa no Estado envolvendo todos os pré-candidatos ao governo, aí incluído principalmente Cahulla.
2 – OUTROS PLANOS
Ou seja, sempre tiveram o maior fundamento os rumores recentes segundo os quais João Cahulla estava na iminência de ingressar no PSDB. De fato. Tanto assim o é que, ciente de que o nome do vice-governador estava sendo avaliado pela pesquisa com essa finalidade, Cassol não economizou esforços para mantê-lo em grande destaque na mídia. Debalde. Com a notícia referida no início, desnecessário enfatizar que, para os interesses da agremiação, deu Expedito Júnior disparado na cabeça.
Com base nesse resultado é que foram feitas as negociações em Brasília, tendo o senador, em troca do comando fático local da sigla, assumido o compromisso de - ou, caso aprovada a “janela”, se filiar no partido para ocupar a candidatura da legenda ao governo ou, a partir mesmo do PR, encabeçar uma chapa de partidos coligados de modo a dar suporte ao projeto presidencial do tucanato em Rondônia.
Isto posto, mudam os planos de uma pá de políticos do pedaço, a começar pelos do próprio Cassol, que contava com todo seu pessoal unido em torno da candidatura do vice-governador – seu projeto predileto. A partir de agora, das duas, uma: ou governador larga Cahulla de mão e trata de assegurar o apoio do Palácio Presidente Vargas à candidatura de Júnior; ou insiste com seu atual projeto e abre uma séria dissidência nas hostes situacionistas.
Pode tirar o cavalo da chuva quem imaginar uma solução tipo a verificada na eleição porto-velhense do ano passado, ocasião em que o Palácio apoiou duas candidaturas de prefeito no primeiro turno. Na eleição do ano que vem, Cassol vai estar visceralmente envolvido, pedindo votos diretamente para manter-se a si e ao seu grupo no poder e mais diretamente ainda para si próprio, já que tão certo como dois e dois são quatro é a sua candidatura ao Senado. Na hipótese de que vislumbrasse aí uma praia para chamar de sua, uma eventual candidatura de Expedito Júnior até que viria a calhar, porquanto com o de Cahulla teria dois palanques a partir dos quais pedir votos. Mas só se não fosse quem é.
3 – RACHA À VISTA
Prussiano perfeito e acabado, Cassol e o parlamento (qualquer parlamento) são incompatíveis. Não por acaso, nunca esquentou a cadeira de um. Tendo trilhado os caminhos mais dilaceradores da política e ainda arrebatado por ela, tornou-se uma temeridade ficar sem mandato. O Senado, pois, seria uma espécie de purgatório, de onde, segundo seus planos, ao cabo de quatro anos, empreenderia o retorno ao Presidente Vargas. Nessa perspectiva, eleger Cahulla é imprescindível.
Primeiro porque, com Cahulla no governo, permanecerá mandando e desmandando no Estado tanto ou mais do que tem feito. Depois, como em outubro do ano que vem, depois de ter assumido o governo em abril com a desincompatibilização do titular, Cahulla já estará, de direito, disputando a reeleição, caso vitorioso, não poderá mais fazê-lo em 2014, possibilitando o empreendimento de Cassol nas condições planejadas. Quer dizer, dificilmente ele (Cassol) desistirá dessa empreitada.
Júnior, por seu turno, está diante da oportunidade pela qual empenhou praticamente toda sua vida ativa. Por antigas e valiosas ralações, sabe que pode, além do DEM rondoniense, atrair para o seu projeto um contingente insondável de políticos, aí incluídos uns tantos muito próximos de Cassol, porquanto sabem-no infinitamente mais político do que o atual mandatário. Ou seja, sabem que, enquanto com Cassol terão que se resignar em obedecer, com Júnior podem vislumbrar compartilhar o poder.
Ademais, na hipótese de que uma candidatura peemedebista não passe aqui do primeiro turno, sabe, até por ter participado ativamente da eleição de José Sarney (PMDB) à presidência do Senado, que são suas as chances de ser apoiado pelo partido caso vá para o segundo turno. E por aí vai.
Significa que, dora em diante, Júnior e Cassol vão estar nas pontas de um soturno cabo-de-guerra, um tentando puxar o outro para o pólo dos seus propósitos. Se um deles concluir que é melhor salvar os dedos, ter-se-á uma candidatura com o perfil atual do grupo governista. Se não, racha.