Política em Três Tempos - por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – ESTACA ZERO Vida boa é a do vizinho. E vice-versa. Achamos que a vida do considerado ao lado é melhor do que a nossa por acreditar que no espaço adjacente existe uma pá de itens que a existência teima em nos sonegar. Do ponto de vista dele, no entanto, é na sua vida que está faltando o que ele enxerga sobrando nas nossas. Isso ocorre, segundo explicam os especialistas, por conta de uma propensão inerente à natureza humana de idealizar justamente o que nos falta. Ou quase isso. O certo é que em lugar algum o anseio por liberdade é tão grande quanto na cadeia. Destarte, há um mandamento recomendando não cobiçar a mulher do próximo. E não por acaso a excelência dos temperos é a fome. Mas só enquanto não é saciada. Diz o provérbio: nunca se deve desejar demais alguma coisa, pois se corre o risco de obtê-la. “Para aqueles que suam pelo pão diário”, observou Keynes, “o ócio é um prêmio ardentemente desejado – até que eles o conquistam”. Também na política existe algo parecido. A experiência de uma longa temporada na oposição tende a suscitar vigorosas ilusões acerca das possibilidades de transformação da sociedade por meio do poder político. À distância, os limites esvaecem e as miragens resplandecem. Tudo é uma questão de vontade política. Após a conquista do poder, tudo parece voltar à estaca zero. Robert Michels, que pertenceu ao mais antigo partido socialista do mundo, o social-democrata alemão, pode ajudar-nos a entender isso. No emblemático livro “Sociologia dos Partidos Políticos”, chegou à conclusão que partidos e movimentos de esquerda sempre tenderam a perder em radicalização, aburguesando-se à medida que vão aumentando de tamanho, influência e poder. Assegurada a própria revolução social, o radicalismo se modera e se volta contra toda e qualquer política militante que possa ameaçar a continuidade da organização e seu novo estilo de vida. Os líderes trocam de hábitos. Os de consumo se refinam, tornando-se uma necessidade da qual não conseguem mais se libertar. 2 – FRUSTRAÇÕES VÁRIAS Na história política brasileira, é possível identificar pelo menos três experiências coletivas de frustração desse tipo – todas associadas ao naufrágio de generosas ilusões acalentadas no ostracismo e nutridas ao abrigo de longa temporada oposicionista. A primeira foi a República Velha. Visto dos estertores do 2º Reinado, o ideal republicano resplandecia. Abolido o trabalho escravo e instaurada a república, a nação finalmente encontraria o seu norte e caminharia a passos firmes e largos rumo à verdadeira democracia e à realização de seu grande potencial econômico. Os EUA que se cuidassem. Como era bela a república no crepúsculo da monarquia! Mas a república que nasceu das entranhas do império em nada se parecia com aquela sonhada pelos republicanos de primeira hora. Daquela semente de idealismo, prenhe de intenções progressistas, brotou a República Velha do “café com leite” e do “para os amigos tudo, para os inimigos a lei”. O que acabou vingando, como se sabe, não foi a república dos conspiradores radicais, mas a das oligarquias agrárias e do “coronelismo, enxada e voto”. O desapontamento com o novo sistema de poder foi geral. O clima de desilusão resultante reflete-se, por exemplo, no veredicto amargo de Sergio Buarque de Holanda, em “Raízes do Brasil”: “A democracia no Brasil foi sempre um lamentável mal-entendido”. A segunda experiência típica de frustração oposicionista nos moldes descritos foi a Nova República, de Sarney a Itamar. Sob este aspecto, o período foi bastante semelhante à ressaca republicana do início do século. Vista dos estertores do regime militar, a democratização resplandecia. Conquistada a democracia, a nação reencontraria o seu norte e seria possível imprimir ao desenvolvimento brasileiro um novo rumo, diferente do capitalismo selvagem e excludente do "milagre". Qualquer que fosse o problema, a resposta era democracia – ou então mais democracia. Como era belo o futuro democrático no crepúsculo da ditadura! 3 – GETULISMO TARDIO Mas a democracia que nasceu das entranhas do regime militar acabou se revelando uma caricatura grotesca daquela sonhada na longa noite dos generais. O capitalismo selvagem ficou ainda mais selvagem e menos parecido com o ideal do Estado democrático de direito. A terceira decepção que a política logrou pespegar aos brasileiros foi a conquista do poder por um partido que se imaginava dos trabalhadores. O PT, que nascera crescera denunciando a decrepitude da Nova República, consolidara-se como força política fazendo a mais furiosa oposição à descendência da democratização. Pudera! Sob os auspícios de um simulacro de social-democracia, instalou-se no país o chamado neoliberalismo, dando início ao período Fernando Henrique Cardoso, de resto, marcado por escândalos que foram do caso Sivam, passando pelo Proer (alguém lembra dos bancos Econômico, Marka e Fonte-Cidam?), prosseguindo com compra de votos para reeleição – tudo isso emoldurado por um gigantesco programa de privatização apropriadamente batizado de “privataria” e decorado com reformas corrosivas dos direitos dos trabalhadores. Vista dos estertores da era FHC, a eleição do ex-torneiro mecânico parecia a chegada da classe operária, senão ao paraíso, ao menos às cercanias. Qual o quê! Sem reverter as reformas “neoliberais” do antecessor, Lula rasgou o discurso e até avançou neoliberalismo adentro, iniciando um desmonte da previdência e implementando uma espécie de getulismo tardio, esmerando-se na política clientelista dos antigos caciques das oligarquias. Aqueles que o idealizavam logo encontraram motivos para ficar decepcionados com o populista tosco que se revelou. De uma hora para outra, os petistas se viram fazendo as mesmas coisas que passaram anos criticando. O PT, que surgiu como uma organização de massas e de esquerda, mostrou-se um equívoco estratégico, pois em vez do partido modificar a ordem existente, essa ordem o subverteu, levando-o a deixar de representar a classe que está no seu nome.
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