Política em Três Tempos - Por Paulo Queiroz

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Foto: Divulgação

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1 – LAVAGEM CEREBRAL Nos chamados anos de chumbo – período da ditadura militar que vai da decretação do Ato Institucional nº 5 (AI-5 para os familiarizados) ao final da censura férrea (que o regime chamava prévia) aos veículos de comunicação (aí incluídas realizações teatrais e cinematográficas) – era até compreensível: para se saber o que estava ocorrendo no país só mesmo por intermédio da imprensa estrangeira. Não obstante incompreensível e até inimaginável nos dias que correm, a julgar por uma reportagem publicada no dia do Natal pelo jornal francês “Le Figaro” e razoavelmente comentada por aqui (o noticiário do sistema Global foi um dos raros que a ignorou), até parece que aqueles tempos voltaram. Aliás, seguramente não é coincidência alguma o fato de que o colossal sistema de comunicações (televisão, jornal, rádio e portal na Internet) que não repercutiu a reportagem do “Figaro” é mesmo através do qual, de uns tempos para cá, a sociedade brasileira vem sendo informada de que as mazelas do país não são bem como tradicionalmente estamos acostumados a conhecê-las e a comentá-las. De acordo com o que o sistema global vira e mexe vem informando, por exemplo, o problema não é bem o do desemprego – como se achava que era alguns anos atrás -, mas o da empregabilidade. Ou seja, empregos existem, as pessoas é que não estão qualificadas para o mercado de trabalho. Quer dizer, o país está maravilha, as pessoas são quem não prestam. Seguindo esse mesmo enfoque, de uns tempos para cá o sistema vem martelando noutra grande descoberta, qual seja, o de que a miséria e a fome são coisas do passado – do mesmo modo como a renda média baixa, o crescimento econômico pífio e a desigualdade entre as mais altas do mundo. Em termos de alimentação, o problema dos brasileiros agora é a obesidade. Mudar o foco da miséria e da fome para a obesidade é um conforto para as classes dominantes. Miséria e fome são causadas pela estrutura social. Obesidade é culpa das pessoas individualmente. E por aí vai. 2 – FARTURA ALIMENTAR As reportagens insistem que o problema ataca principalmente as crianças. Ainda outro dia a televisão do sistema Global – de longe, a maior e mais influente do país – divulgou que o número de crianças obesas no Brasil triplicou nos últimos 20 anos. Não sem esquecer de enriquecer o dado com a preciosa informação segundo a qual “os cientistas atribuem o aumento da obesidade infantil à prosperidade social, que faz com que as crianças comam mais e se exercitem menos”. É ou não é formidável! Não parou aí. Acrescentou-se que “o estudo analisou dados obtidos durante mais de 20 anos no Brasil, na China e nos Estados Unidos, único país desenvolvido a participar do estudo. E que, “enquanto no Brasil o número (de crianças acima do peso) triplicou, na China (só) aumentou em um quinto e, nos Estados Unidos, dobrou”. Ou seja, nos abastados EUA a obesidade infantil apenas dobrou. No Brasil, triplicou. Triplicou! Um espanto. A idéia que fica é a de que as crianças brasileiras estão se alimentado mais do que as norte-americanas. É preciso parar com essa comilança desembestada entre nossas crianças. Muito certamente por conta disso é que a ONG “Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida” – aquela fundada pelo sociólogo Herbert de Souza (o “Betinho”) em 1993 a partir do “Movimento pela Ética na Política” -, também responsável pela campanha que atendia pelo nome de “Natal sem Fome”, no ano passado mudou o enfoque da promoção. Até então mobilizava milhares de pessoas pelo país afora arrecadando comida para distribuir entre os miseráveis nesta época. Em 2006, mudou o nome da campanha para "Natal sem Fome dos Sonhos” e passou a arrecadar brinquedos e livros para distribuição entre os desvalidos argumentando, segundo os responsáveis pela mudança, que isso “é sair do emergencial para o estrutural. A comida é fundamental para que as pessoas sobrevivam, mas ela não transforma. Somente através da educação e da cultura é que, de fato, se faz a inclusão social”. É a maior! 3 – NATAL COM FOME Estamos, pois, arrecadando e distribuindo brinquedos e livros entre nossas crianças pobres obesas quando vem o jornal francês e diz que “comida - e não os tradicionais brinquedos - ocupam o topo da lista de desejos das crianças brasileiras neste Natal”. Publicado na terça-feira (25), o artigo relata a experiência da chamada “Operação Papai Noel”, em que os Correios expuseram em suas agências parte das dezenas de milhares de cartas enviadas todos os anos por crianças e endereçadas ao bom velhinho. "O projeto desencadeou o entusiasmo da classe média, que já se via oferecendo bonecas e automóveis em miniatura às crianças desfavorecidas", descreve o jornal. "A abertura das cartas revelou uma realidade bem mais triste: a maioria (das crianças) não pede brinquedos ao Papai Noel, mas alimentos. Em Pernambuco este é o caso de 60% das 11 mil cartas recebidas. As crianças desejam receber bolos, queijo, peru. Geralmente, querem apenas uma cesta básica”.A reportagem transcreve trechos de cartas de crianças e pais que pedem alimentos. Para o “Figaro”, as cartas "têm um efeito ainda mais chocante porque o consumo explodiu neste fim de ano no Brasil. Tirando proveito de um crescimento que deve superar os 5% neste ano, e de crédito fácil, a classe média se lançou às lojas, que conhecem os seus melhores resultados em 11 anos". E acrescenta: "Apesar de uma ligeira melhoria, o Brasil exibe um mais dos elevados índices de desigualdade do mundo. A operação “Papai Noel” demonstra que o programa de subsídios sociais instaurado pelo governo Lula não é suficiente nem para reduzir os desvios estruturais, nem para erradicar a fome." E por aí foi. Os meninos pobres obesos de antanho eram chamados de barriga d´água. Dá para lembrar das caras sujas, da barriga grande, das pernas finas e do olhar triste. Não se sabe como essa gente os qualificaria hoje. Mas desconfia-se que muita criança tida como nutrida faz parte do imenso contingente cuja única fonte de renda é a caridade pública
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