R$15 milhões em menos de um ano. Este é o primeiro cálculo da Polícia Federal para o rombo provocado por um grupo de deputados nos cofres públicos de Rondônia.
*A pasta carregada por um policial federal contém um computador que é a caixa preta da corrupção na Assembléia Legislativa de Rondônia. O computador foi apreendido na última quinta-feira, no departamento financeiro da Assembléia, durante uma operação de busca e apreensão autorizada pela Justiça.
*Nos arquivos, os peritos encontraram um banco de dados clandestino usado para gerar folhas de pagamento paralelas na Assembléia Legislativa de Rondônia. Segundo a Polícia Federal, isso é uma fraude montada para desviar dinheiro público. Os relatórios mostram que, só nos últimos 11 meses, R$ 15 milhões foram pagos para servidores que não existem.
*De acordo com a PF, o esquema funcionava assim: 23 dos 24 deputados estaduais de Rondônia mantinham nos seus gabinetes folhas paralelas de pagamento a servidores comissionados. Esses servidores, na verdade, eram laranjas, pessoas que não tinham conhecimento de que seus nomes estavam sendo usados para desvio de verbas da Assembléia.
*"O que nós temos efetivamente comprovado é que o pagamento destes funcionários da folha paralela era feito através de cheques entregues aos deputados", afirma Joaquim Mesquita, superintendente da Polícia Federal.
*Em depoimento prestado, funcionários da Assembléia confirmaram que os cheques eram entregues diretamente aos deputados.
*"O início dos exames já demonstrou números alarmantes. Nós temos, por exemplo, deputados que teriam recebido, durante 11 ou 12 meses, cerca de R$ 750 mil. E não são valores de verba de gabinete, porque seria impensável um deputado ter R$ 750 mil de verba de gabinete durante um ano", relata João César Brasil de Moraes, perito criminal federal.
*Em Rondônia, a lei permite que cada deputado gaste com servidores comissionados, no máximo, R$ 13,5 mil por mês.
*Veja alguns exemplos da fraudes em Rondônia apenas de maio de 2004 a abril de 2005, período coberto pela contabilidade encontrada no computador:
*- O deputado que mais recebeu em folha paralela foi o presidente da Assembléia, Carlão de Oliveira, do PFL: R$ 1,4 milhões. Quem assina o recibo dos cheques em nome de Carlão é o irmão dele, Moisés de Oliveira, que ocupa o cargo de assessor especial da presidência;
*- Em segundo vem o deputado Kaká Mendonça, do PTB, com um R$ 1,130 milhões. Apenas em abril de 2005, através de 48 laranjas, Kaká mendonça recebeu R$ 272,3 mil;
*- Em terceiro lugar, entre os deputados que mais dinheiro desviaram da Assembléia de Rondônia, está Emílio Paulista (sem partido): R$ 935 mil em 11 meses;
*- O quarto lugar é do deputado Ronilton Capixaba, que pediu afastamento do PL: R$ 919 mil;
*- E a deputada Ellen Ruth, afastada pelo PP, ficou em quinto lugar, levando R$ 900 mil dos cofres públicos de Rondônia no período.
*Os três deputados da base aliada do governador Ivo Cassol constam da lista: Beto do Trento e Everton Leoni - ambos do PSDB - e Neodi Oliveira - sem partido. Beto do Trento recebeu R$ 172 mil, Everton Leoni, R$ 683 mil, e Neodi Oliveira, R$ 344 mil.
*Dos 24 deputados estaduais de Rondônia, apenas Neri Firigolo, do PT, não aparece no computador como beneficiário dos pagamentos ilegais. Mas três deputados do partido dele, Edézio Martelli, Carlos Henrique e Nereu Klosinski, receberam respectivamente, R$ 598 mil, R$ 299 mil e R$ 182 mil entre maio de 2004 e abril de 2005.
*O total desviado dos cofres da Assembléia no período, segundo a Polícia Federal, chegou a R$ 14,97 milhões.
*Já foram identificados alguns dos laranjas usados pelos deputados para receber as quantias.
*"Algumas das pessoas que já foram ouvidas pela PF são pessoas humildes, simples, que moram em locais e residências simples e que jamais teriam ou ostentariam um padrão de vida compatível com uma remuneração de R$ 6,5 mil, por exemplo", conta o superintendente Joaquim Almeida.
*É o caso de uma mulher, que aparece na lista de laranjas do deputado Kaká Mendonça, como assessora de gabinete, com um salário de R$ 6,5 mil. Por motivos de segurança, não vamos revelar sua identidade. Quando perguntada sobre sua reação quando soube que seu nome estava como funcionária da Assembléia Legislativa de Rondônia, a mulher diz ter ficado chocada.
*"Em um primeiro instante, fiquei muito chocada, pois nem imaginava que isso aconteceria comigo".
*Outro exemplo de laranja: uma costureira lotada como assistente do gabinete do presidente da Assembléia, Carlão de Oliveira. No contra-cheque, a quantia mensal destinada a ela também era de R$ 6,5 mil líquidos.
*O deputado João da Muleta, que desviou R$ 240 mil em 11 meses, usou entre os seus laranjas a sogra e uma sobrinha dela.
*A PF está apenas começando a periciar o material apreendido na Assembléia Legislativa de Rondônia. Além da lista, feita no computador portátil, existe também a contabilidade em papel.
*"Nós apreendemos documentos no setor financeiro a partir de 2001, de acordo com a ordem do juiz. E, naquela época, já havia indícios de pagamentos diretamente ao deputado, e não aos funcionários", explica Marcos José de Souza Neto, perito criminal federal.
*A Polícia Federal já pediu a quebra do sigilo bancário das contas da Assembléia para rastrear os pagamentos. O delegado responsável pelo caso também irá ouvir deputados, funcionários e todas as pessoas que tiveram os nomes usados no esquema. Ele quer saber quanto foi desviado, quem embolsou e onde foi parar esse dinheiro.
*Procuramos todos os 23 deputados estaduais acusados pela Polícia Federal de envolvimento no esquema da folha de pagamento paralela. Nenhum quis gravar entrevista.