Sanguessugas: - deputados investigados destinaram mais de R$ 100 milhões para a saúde
*Os 16 deputados listados pela Mesa da Câmara como suspeitos de terem recebido dinheiro do esquema irregular de compra de ambulâncias apresentaram, de 2001 a 2006, 270 emendas orçamentárias que beneficiam a área de saúde. As propostas totalizam R$ 108 milhões.
*A corregedoria da Casa vai abrir investigação imediata contra os parlamentares citados na relação. Os critérios utilizados pela Mesa para a escolha dos deputados foram os diálogos transcritos pela Polícia Federal (PF), o documento enviado pela Justiça Federal, além da citação de envolvimento de parlamentares.
*Dos nomes apontados pela Câmara, Reginaldo Germano (PP-BA) foi o parlamentar que conseguiu aprovar a maior quantia em emendas para a saúde nos últimos seis anos, totalizando R$ 10,5 milhões repartidos em 11 propostas. Germano foi o único deputado citado pela Mesa que não estava na lista da PF, mas será investigado pela notícia divulgada na imprensa de que teria recebido R$ 5 mil em sua conta.
*Logo atrás de Germano, Fernando Gonçalves (PTB-RJ) aparece como o segundo parlamentar que mais beneficiou redes e unidades de saúde do estado que representa. No mesmo período, o deputado foi autor de 37 emendas de incremento à área, que juntas chegaram a R$ 9,2 milhões. O companheiro de partido e vizinho de estado Neuton Lima (PTB-SP) vem em seguida na relação, com 30 emendas que juntas somam R$ 8,8 milhões.
*Embora seja o quarto na lista dos que mais destinaram recursos à saúde, Paulo Baltazar (PSB-RJ) lidera o ranking em quantidade de emendas. Nos orçamentos de 2001 a 2006, o deputado foi autor de 56 propostas que beneficiaram o setor com R$ 8,7 milhões.
*Só este ano, os 16 parlamentares investigados pela Câmara apresentaram juntos 80 emendas para a área da saúde, totalizando um acréscimo de R$ 40,1 milhões ao Orçamento Geral da União 2006 que beneficiarão o setor. O campeão de propostas foi o deputado Reinaldo Gripp (PL-RJ), que destinou o valor total a que tem direito em emendas (R$ 5 milhões) unicamente para beneficiar redes e unidades de saúde.
*De acordo com a PF, a quadrilha dos "sanguessugas" negociava com assessores de parlamentares a liberação de emendas individuais ao Orçamento que destinariam recursos a municípios específicos. Com a verba garantida na área da saúde, o grupo manipulava licitações e fraudava a concorrência valendo-se de empresas de fachada. A PF estima que o esquema de desvio de recursos públicos detinados à compra de ambulâncias tenha movimentado cerca de R$ 110 milhões entre 2000 e 2005.
*É importante frisar, no entanto, que o fato de um deputado ou senador propor uma emenda orçamentária sugerindo a compra de ambulâncias para um determinado hospital ou entidade social não significa, necessariamente, que ele tenha qualquer relação com a máfia dos sanguessugas que saquearam o Orçamento da União. Somente as investigações poderão apontar os parlamentares que realmente colaboraram com o esquema irregular.
*A Corregedoria vai manter temporariamente em suspenso o caso de outros 11 deputados que tiveram funcionários presos ou acusados de receber dinheiro. A Mesa da Câmara decidiu arquivar a investigação contra 36 dos 62 deputados apontados na lista da PF, podendo retomá-la, caso apereçam novas informações.
*Na próxima semana a Comissão de Sindicância que apura as denúncias contra deputados suspeitos de envolvimento no esquema dos sanguessugas vai ouvir o depoimento dos delegados e do procurador responsáveis pelo caso. Também serão ouvidas as pessoas que já foram presas pela operação da PF, dentre elas a funcionária comissionada do Ministério da Saúde Maria da Penha Lino, que apontou o nome de 81 parlamentares que, segundo ela, teriam alguma relação com o caso. Passada essa etapa, será a vez dos 16 deputados que estão sob investigação prestarem depoimento à comissão.