Nove pessoas ligadas à equipe do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin --candidato do PSDB à Presidência -- terão de prestar esclarecimentos nas próximas semanas sobre supostas irregularidades envolvendo verbas de publicidade durante a gestão do tucano.
*A Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia Legislativa de São Paulo aprovou na quinta-feira a convocação de funcionários e ex-funcionários do governo e até mesmo de um secretário de governo. Eles devem falar aos deputados dentro de 30 dias. A convocação contrariou a base governista.
*As suspeitas, levantadas por parlamentares da oposição e investigadas pelo Ministério Público, é de que o banco Nossa Caixa -do qual o Estado é o maior acionista- direcionou verbas de publicidade e patrocínio para veículos de comunicação e programas de TV e rádio de deputados da base governista em troca de apoio na Assembléia entre os anos de 2003 e 2005.
*"Isso seria o mensalinho deles aqui em São Paulo", disse nesta sexta-feira à Reuters o deputado estadual Ênio Tatto, líder do PT na Assembléia, numa referência a escândalo do mensalão que envolveu seu partido em esfera nacional e também deputados federais da base do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
*Para a equipe de campanha de Alckmin, as denúncias têm interesse eleitoral e são infundadas.
*Os deputados também questionam outro fato, o de agências de publicidade terem prestado serviço no ano passado para o governo sem que tivessem contrato.
*Há ainda mais um caso ligado à equipe de Alckmin. Diz respeito a um patrocínio pago pela Sabesp e pela Companhia Elétrica Paulista (Cteep) à revista do acupunturista de Alckmin, o médico e professor Jou Eel Jia. O patrocínio custou 120 mil reais ao Estado.
*A revista Ch´´an Tao publicou em um de seus números nove páginas sobre o candidato tucano, que também aparecia na capa da publicação.
*Tatto critica. "A suspeita é de que se usou recursos públicos como forma de patrocínio da revista, e que na verdade foi uma forma de promoção pessoal e eleitoreira do governador."
*A promotora Andrea Chiaratti encaminha até segunda-feira um questionamento aos diretores-presidentes das duas empresas sobre o gasto.
*QUATRO DEPUTADOS DA BASE
*Entre os convocados pelo comissão da Assembléia, estão o secretário de Recurso Hídricos, Mauro Arce; o presidente da Nossa Caixa, Carlos Eduardo da Silva Monteiro; o ex-presidente do banco Valderi Frota de Albuquerque e o ex-assessor de imprensa do governo Roger Ferreira.
*O ex-gerente de marketing da Nossa Caixa Jaime Castro Júnior -que afirmou em uma sindicância interna do banco ter sido pressionado por superiores para direcionar verbas publicitárias- também foi convocado.
*A compra de espaço publicitário pelo governo Alckmin em veículos e programas de quatro deputados da base do governo está sendo investigado pelo promotor Sérgio Turra, da Promotoria da Cidadania.
*Os deputados são: Afanázio Jazadi (PFL), que tem programa de rádio; Vagner Salustiano (PSDB), que tem uma revista um programa de rádio; Edson Ferrarini (PTB), que possui um programa de TV; e Bispo Gê (PFL), também da TV. Este último, segundo o promotor, foi o único que negou ter recebido verbas publicitárias do governo.
*"A Nossa Caixa faz publicidade normalmente, mas a questão, nesses casos, é saber se houve finalidade política", disse Turra à Reuters "Essa é a tese da denúncia e é o que vamos investigar."
*A Nossa Caixa também rebateu as suspeitas. "Os veículos de comunicação, eventos e patrocínios incluídos no plano de marketing são escolhidos com base em regras técnicas, que analisam os públicos de interesse comercial do banco", informou o banco por meio de nota.
*As denúncias vieram à tona no fim do mês, poucos dias depois do lançamento oficial de Alckmin como candidato do PSDB à Presidência da República.
*O assessor do candidato tucano, Luiz Salgado Ribeiro, descartou, em entrevista à Reuters, qualquer irregularidade na publicidade na revista Ch´´an Tao e disse que o fato de o ex-governador aparecer na capa e em uma longa matéria se explica pelo interesse noticioso em torno de seu nome. O próprio Alckmin declarou recentemente que se está procurando "pelo em ovo".
*A expressão, segundo assessor, também vale para outro caso que virou notícia nas últimas semanas envolvendo a mulher do tucano. Lu Alckmin teria ganho de presente de um estilista 40 peças de roupa -o que, para alguns, configuraria uma falha ética.