FOLHA DO SUL ONLINE - Nesta que é a segunda de uma sequência de quatro reportagens produzidas pelo site citado sobre os trabalhos que vem sendo realizados pelo Centro de Atendimento Psicossocial (Caps) de Vilhena durante a pandemia, será abordada uma realidade preocupante, que é o aumento do atendimento psicológico a profissionais da saúde.
Em uma entrevista concedida ao site, Edna Mônica Wobeto, psicóloga do Caps e coordenadora de Residência Multiprofissional do núcleo de saúde mental de Vilhena, afirmou que, durante a pandemia, principalmente nos primeiros meses, o atendimento à profissionais da saúde aumentou cerca de 60%.
Segundo Edna, o aumento se deve ao medo, por parte dos profissionais, de se contaminarem com o novo Coronavírus, mesmo tomando todos os cuidados necessários e fazendo uso dos equipamentos de proteção individual.
“O medo de contaminação e o presenciamento das primeiras mortes agravaram o problema pré-existente de alguns funcionários, que passaram a sofrer de crises de ansiedade, sendo necessário o acompanhamento psicológico e até mesmo o afastamento de dois deles”, relatou Edna.
Apesar de não terem sido registrados casos de tentativa de suicídio na área na saúde, Edna afirmou que o medo, alto nível de estresse e as incertezas diante do desconhecido podem levar os pacientes a tentarem contra a própria vida, por não conseguirem suportar a pressão psicológica, focando apenas no problema e não vislumbrando outras possibilidades, diante de situações as vezes caóticas, quando um olhar mais ampliado permite perceber que há saídas.
“A pessoa que tenta o suicídio quer se livrar de uma dor psíquica, de um sofrimento, que pode decorrer de traumas sofridos na tenra infância, ou acúmulo vivências de insegurança, incertezas, tensões, medos e desgastes do aparelho psíquico, acionada diante de situações como a que estamos vivendo. Nesse sentido, deveremos considerar que para determinadas pessoas, o atual momento pode ser experimentado como algo que se assemelha a um cenário de guerra”, relatou a psicóloga.
Ainda segundo Edna, o aumento não é representado apenas por médicos e enfermeiros, que são vistos como os profissionais da linha de frente no combate ao vírus, mas também por outras categorias que atuam no hospital e nas unidades básicas de saúde, destinadas ao atendimento de pessoas com sintomas da Covid-19. “Só no setor de nutrição do hospital, temos quatro pacientes que já tiveram crise de ansiedade durante o trabalho”, relatou.
Por fim, a psicóloga afirmou, que todos os pacientes da saúde, que hoje recebem atendimento psicológico através do Caps, já possuíam um quadro de adoecimento psíquico pré-existentes, que apenas foram agravados pela tensão da pandemia, e que alguns já fizeram acompanhamento na unidade antes.
“Quando começamos a ser acometidos pelo vírus, a imagem que tínhamos como referência era o que estava acontecendo na Itália. Então, ao ocorrer o primeiro óbito, muitos profissionais acreditaram que o vírus seria um “rolo compressor” que passaria por cima da cidade. Entretanto, mesmo o número de mortes e de contágios estar subindo de forma significativa, a situação já está mais tranquila quanto a ansiedade e tensão entre os servidores, porque estão percebendo que é possível estar no mesmo ambiente que alguém positivado e não se contaminar”, concluiu Edna.