SAÚDE: Especialistas dão dicas de como cuidar da mente antes de ter filhos

Depressão, estresse pós-traumático e transtorno de pânico podem surgir após a chegada de um novo membro à família

SAÚDE: Especialistas dão dicas de como cuidar da mente antes de ter filhos

Foto: Quando a angústia e o medo forem maiores, não custa nada procurar ajuda profissional para evitar doenças mais graves

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Ao receber a notícia de que seremos pais ou mães pela primeira vez, surgem várias emoções: medo, angústia, insegurança, alegria, euforia, pavor, entre outras. Em etapas ou tudo junto. 
 
Temos a sensação que o turbilhão de sentimentos só acontece conosco. Mas isso deve ocorrer 233 mil vezes, que é o número de nascimentos que ocorreram no Brasil em março de 2022. 
 
“É importante que pais e mães cuidem da sua saúde mental para evitar o aparecimento de algumas doenças, como: depressão, fobias, ansiedade, psicose pós-parto (em mulheres), transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de pânico, entre outros”, explicou a pediatra e consultora médica, Michelli Rodrigues.
 
"Todas as pessoas passam por momentos tristes, mas a depressão é quando domina o seu dia e te faz exatamente quem você não quer ser", explica a psiquiatra Aline Canavez
 
E durante e após uma pandemia da Covid-19, com vários sentimentos aflorados, se torna cada vez mais necessário que as pessoas (principalmente os pais de primeira viagem) olhem para si.
 
“Depressão é um estado de humor do nosso cérebro. Existem várias formas da gente se conectar com o mundo e uma delas é o humor. A depressão é uma desregulação da tristeza. Todas as pessoas passam por momentos tristes, mas a depressão é quando domina o seu dia e te faz exatamente quem você não quer”, pontuou a psiquiatra Aline Canavez. 
 
Psiquiatras não servem apenas para tratar pessoas já com doenças diagnosticadas, mas ajudam que estes problemas não se tornem mais graves
 
Depressão 
 
Um estudo do Ministério da Saúde divulgado no final de abril aponta que Porto Velho é a segunda capital da região Norte com maior número de adultos que afirmaram ter diagnóstico de depressão. A capital contabiliza 10,6% de frequência na população acima de 18 anos. O fato virou notícia recentemente no Rondoniaovivo.
 
Os dados foram coletados a partir de uma pesquisa da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vitigel), que falou com 27 mil brasileiros.
 
Pelo menos 11,3% dos entrevistados afirmam ter um diagnóstico de depressão. A taxa mais baixa foi entre os homens, com 7,3% e a maior taxa entre as mulheres, totalizando 14,7%.
 
Na região Norte, a capital de Rondônia tem o percentual de 10,6% de adultos que relatam diagnóstico de depressão, ficando atrás somente de Palmas (TO).
 
Pais e mães de primeira viagem podem pedir ajuda sempre que sentirem necessidade, apontam especialistas
 
Segundo a psiquiatra Aline Canavez, os cuidados ainda devem ser ainda mais redobrados quando começam a surgirem os primeiros sintomas de uma depressão.
 
“Os sinais mais fortes são quando você começa a faltar o trabalho, não se conecta mais com os amigos. Se você era um esportista, perde o interesse por isso. É quando você vê tudo cinza ou quando você tem alterações no apetite. Quando não come ou come demais. Ou tem alterações no sono, quando dormem menos, se sentem desanimadas, acordam cansadas”.
 
E para quem acha que é doença de mulheres ou de idosos, ela não escolhe faixa etária e nem sexo, segundo a médica. 
 
“É uma doença que não tem critérios. Atinge crianças, idosos. Existe uma taxa grande entre idosos. A gente acaba não olhando muito para eles. Nos últimos 20 anos também vem crescendo bastante entre os adolescentes, de todos os sexos. A depressão entre as crianças não é a mesma entre os adultos”.
 
Michelli Rodrigues auxilia aqueles que vão receber um novo membro na família - Foto: Divulgação
 
Dicas 
 
Como a paternidade e a maternidade são assuntos que trazem muitas dúvidas, Michelli Rodrigues dá algumas dicas para que essa fase seja mais leve: 
 
- O que fazer quando uma mulher (ou casal) descobre a gravidez?
 
O primeiro passo é a grávida começar a frequentar as consultas de pré-natal. Lá, ela vai ter orientações sobre todas as mudanças que o corpo passará nesse período, ver como está sua saúde, além de tirar dúvidas e falar sobre suas preocupações. 
 
- Como pais e mães do bebê devem cuidar da sua própria saúde física e mental?
 
Para cuidar da saúde física, a recomendação é ir ao médico com regularidade, fazer os exames indicados por esse profissional e realizar as vacinas de acordo com o calendário da gestante, puérpera e do adulto. 
 
Sobre a saúde mental, o ideal é conversar, fazer terapia e ter uma rede de apoio, pedindo ajuda da família e amigos na divisão das tarefas.
 
- Quais são as principais dicas para o pré-natal?
 
O ideal é que a mulher faça, no mínimo, 6 consultas de pré-natal durante toda a gravidez: no mínimo uma no 1º trimestre, duas no 2º trimestre e três no 3º trimestre. 
 
Essas consultas são importantes, pois a gestante e seu bebê serão avaliados em vários aspectos, como o peso, a aferição da pressão arterial, suas condições clínicas, além de saber quais exames e vacinas são necessários nesse período.
 
- Como planejar o parto?
 
O primeiro passo é fazer um plano de parto: documento que une todos os pedidos da grávida relacionados ao momento de dar à luz. 
 
Nele, a gestante pode anotar se prefere cesárea ou parto normal e se quer que alguém a acompanhe na hora do nascimento do bebê, por exemplo. O ideal é preenchê-lo logo no início da gravidez e em acordo com o médico(a). 
 
- Quais vacinas e exames devem ser feitos quando o bebê nascer?
 
Assim que o bebê nasce, é preciso realizar as vacinas BCG e contra hepatite B. No período entre 2 e 5 dias de vida da criança, deve ser feito o teste do pezinho (triagem neonatal). Esse exame serve para rastrear doenças endócrinas, metabólicas e/ou genéticas.
 
- Como oferecer uma alimentação saudável?
 
Se o bebê tem até 6 meses de vida, só amamentar já é suficiente. Depois dessa idade, é mantida a amamentação, mas iniciada também a introdução alimentar, com os diferentes grupos alimentares, como: frutas, legumes, verduras, tubérculos, cereais etc. 
 
O ideal é que eles sejam oferecidos amassados e que progressivamente sua consistência aumente, de acordo com as aquisições da criança.
 
A Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda que esses outros alimentos devem ser inseridos na dieta da criança, em média, 3 vezes ao dia (se o bebê ainda estiver mamando) e 5 vezes ao dia (se ele não estiver mais tomando o leite materno). 
 
Outra dica fundamental é evitar dar qualquer alimento ultraprocessado, à base de açúcar, café, fritura, entre outros.
 
- O que fazer quando há febre?
 
É importante tentar manter a calma. Pode ser dado um banho morno, vestir a criança com roupas leves, hidratar e deixá-la fazer repouso. Você também não deve agasalhar muito o bebê. Caso perceba que a febre ainda não diminuiu, é possível usar remédios antitérmicos, sempre com a orientação do pediatra. 
 
Se a criança estiver com o estado geral bom e agindo normalmente - apesar da febre -, não é necessário ir imediatamente para a emergência. 
 
A exceção a essa recomendação ocorre se ela tiver menos de 3 meses, pois os bebês pequenos precisam ser avaliados no consultório pelo pediatra da família ou por algum médico no pronto atendimento. 
 
Crianças com estado geral ruim, enfraquecimento extremo (prostrada) e/ou sem querer/conseguir mamar ou ingerir líquidos precisam ser avaliadas. Em todas essas situações, faça contato com o pediatra da família para ter a orientação dele.
 
- Como aliviar as cólicas?
 
Algumas ações simples recomendadas pela SBP são: dar banho na criança em uma temperatura morna, colocá-la no seu colo, aplicar uma compressa morna na barriga, cobrir (enrolar) em um cobertor/edredom e manta. Caso essa situação persista, a orientação é fazer contato com o médico para uma melhor avaliação. 
 
- O que fazer quando o bebê chora muito?
 
É importante que os pais tentem manter a calma e, aos poucos, consigam decifrar o motivo desse choro, que pode ser: fome, desconforto pela fralda suja ou por querer evacuar, sensação de frio ou de calor ou vontade de ficar perto dos pais. 
 
Nessas situações, faça contato com o pediatra, pois ele vai avaliar se está tudo bem. Medidas como: oferecer colo, ficar pele a pele com o bebê, colocar sons tranquilizantes e fazer movimentos delicados, como dança, podem ajudar a acalmar a criança. 
 
- É importante pedir ajuda de outras mulheres mais experientes?
 
É muito importante que a mãe tenha uma rede de apoio, principalmente no início da vida do bebê. As demandas da criança nos primeiros três meses de vida, por exemplo, são grandes e cansativas. 
 
O bebê está aprendendo a viver fora da barriga da mãe e os pais estão aprendendo a cuidar do seu filho. São muitas novidades e o aprendizado é diário. Receber apoio facilita um melhor cuidado para os pais e o bebê nessa fase. 
 
- É bom receber muitas visitas ao bebê após o parto? Por quê?
 
O recém-nascido é imaturo e tem maior risco de adquirir alguma doença infecciosa do que uma criança mais velha. Além disso, bebês menores de 2 meses ainda não receberam vacinas importantes para sua proteção. Por isso, o ideal é não receber muitas visitas nesse período. 
 
Se quem for visitar estiver com qualquer sintoma de um resfriado, por exemplo, é importante evitar ver o bebê para não correr o risco de passar algum vírus para ele. É essencial também manter a higiene adequada das mãos e uso de máscara, se for do desejo dos pais.  
 
- Depressão e outros transtornos relacionados à saúde mental dos pais podem interferir em seus filhos?
 
Diante de um quadro depressivo dos cuidadores, é possível ter um comprometimento nos vínculos estabelecidos com seus filhos e na capacidade de um apego seguro. Uma das consequências é o aumento na vulnerabilidade da criança ao estresse.
 
Mesmo nas mães com sintomas subclínicos de depressão e controladas todas as outras possíveis influências, os efeitos desses sintomas podem comprometer as relações afetivas da criança desde o primeiro ano de vida.
 
Vale lembrar que a depressão, a ansiedade e outras condições mentais não ocorrem por escolha ou desejo de alguém. É importante que essas doenças sejam reconhecidas - e não negadas - para ser possível a busca por ajuda, orientação e tratamentos adequados.
 
O diálogo e a busca por apoio, muitas vezes profissional, se tornam peças importantes na prevenção desses transtornos em crianças, adolescentes e adultos.
 
Diálogo, informações e cuidados ajudam a tratar mais rápido de problemas como depressão, estresse pós-traumático e transtorno de pânico
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