A mãe de santo Tawannah Silva relatou na manhã da quarta-feira (25) os constantes ataques que o seu terreiro tem sofrido. Em reunião com representantes do Ministério Público Federal (MPF), Defensoria Pública do Estado (DPE), OAB/RO e Conselho Estadual de Promoção da Igualdade Racial, ela informou que já ocorreram três invasões com depredações no terreiro.
Um dos vizinhos disse que daria um tiro de revólver nela, após reclamar do som dos tambores e de carros estacionados na rua. O terreiro existe há cerca de dois anos na Zona Leste de Porto Velho, com cultos às segundas e quintas-feiras, das 20h às 22h.
A procuradora da República Gisele Bleggi disse que o MPF vai atuar em ação coordenada nas esferas civil e criminal, abrindo procedimento administrativo para acompanhar o caso, e seus desdobramentos legais. Ela e os defensores públicos estaduais Eduardo Borges e Fábio Roberto de Oliveira Santos informaram que vão enviar ofício ao MP Estadual, órgão responsável pelo controle externo da atividade policial no âmbito estadual, pedindo apuração sobre a atuação da Polícia Militar (PM).
Segundo as vítimas, integrantes da corporação são omissos na segurança dos membros da comunidade religiosa e não conduzem adequadamente a investigação dos graves fatos já ocorridos no local. Até agora, ninguém nunca foi responsabilizado pelos atos de violação que ocorreram tempos atrás.
A presidente da Federação dos Cultos Afro-religiosos, Umbanda e Ameríndios do Estado de Rondônia (Fecauber), mãe de santo Ana, reclamou que não há proteção.
“Está havendo uma escalada de agressão à nossa religião. O vizinho não gosta do meu tambor. A polícia não registra como intolerância religiosa as nossas ocorrências. Muitas vezes nem aparece quando chamamos. E é por isso que nas estatísticas não há dados disso em Rondônia”.
MPF e DPE também enviarão ofícios à Secretaria de Segurança Pública e ao comandante da PM para que os policiais sejam capacitados para atuar em casos de combate à intolerância religiosa e que seja criado um grupo especializado neste tema na corporação.
Racismo
O professor William Nogueira Lima, do Instituto Federal de Rondônia, também participou da reunião e disse que “a religião de matriz africana é vista como satanista, o que não é verdade. Há uma visão equivocada de que há uma religião pura, branca, em detrimento das religiões de origem africana, negras. O Brasil é negro, em sua maioria. É preciso uma política antirracista. É preciso lutar contra esse avanço ultraconservador religioso”, ressaltou.
O defensor público Eduardo Borges afirmou que “não há como dissociar a intolerância religiosa do racismo porque tudo isso decorre do passado escravagista brasileiro”. O representante da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da OAB/RO, Gabriel Souza, alertou que “vivemos tempos em que algumas pessoas se sentem confortáveis em expressar ódio e isso não pode acontecer, não podemos normalizar violações de terreiros”.