Há pouco mais de dois anos, a classe política de Rondônia e as autoridades em geral anunciavam a construção das duas hidrelétricas na bacia do rio Madeira, bem como a possibilidade da chegada do gás do Urucu ao nosso Estado e começava desde então um verdadeiro frenesi na cidade de Porto Velho. A construção de dois shoppings foi anunciada, reestruturação de ruas e avenidas, investimentos em obras de infra-estrutura, redes de água e saneamento básico, duplicação da rodovia BR 364 entre o Candeias e a Unir e várias outras medidas de grande impacto foram prometidas na época. A cidade começa a se encher de edifícios num processo inédito de verticalização. O Governo Federal começaria a despejar dinheiro por estas bandas. Eram as obras do PAC, Programa de Aceleração do Crescimento.
No entanto, mal começaram algumas das anunciadas obras, eis que o fisco tomou conta de todos. A incredulidade é geral. Não seriam mais dois shoppings, apenas um. O Porto Madeira seria construído depois. A extensão da rodovia federal que corta a cidade seria contemplada com várias passarelas e cogita-se até a construção de alguns viadutos. Até agora apenas 03 passarelas estão sendo construídas, só que uma caiu matando um jovem trabalhador de 26 anos e as outras duas estão escoradas podendo desabar a qualquer momento. O edifício Aquarius, no bairro Nova Porto Velho, teve a sua estrutura comprometida e está interditado pela Defesa Civil. Na véspera da visita do Presidente da República a Rondônia, foi a vez de parte do teto de gesso do Porto Velho Shopping desabar e ferir 03 pessoas. Um escândalo maior se estivesse lotado pelos seus habituais jovens freqüentadores.
Com relação às duas hidrelétricas do rio Madeira, uma, a de Santo Antônio que teve suas obras inciadas há uns cinco meses, provocou um dos maiores desastres ambientais de que se tem notícia por aqui provocando uma grande mortandade de peixes. A segunda hidrelétrica, a do Jirau, teve recentemente sua construção embargada e pode ter que enfrentar os tribunais se quiser ter seu canteiro de obras novamente funcionando. Como se poder ver, o que seria uma grande contribuição do nosso Estado pobre para o restante do país está virando um grande pesadelo e como se não bastasse o fato de que nenhuma energia produzida ficará por aqui, os grandes centros do país estão mandando para cá mão de obra sucateada, de péssima qualidade e obsoleta. Ou então como explicar todos estes fiascos?
A propósito de tudo isto, observe-se o que escreveu um internauta num site de notícias de Porto Velho: “onde estão os órgãos responsáveis pela fiscalização? O Ministério Público, a Justiça? Onde está o CREA? O que está acontecendo com a Engenharia Civil em Rondônia? Será que o CREA só sabe fiscalizar carros alegóricos de escolas de samba e pequenas obras realizadas pelos menos favorecidos? Se alguém, pobre certamente, tentar levantar um muro ou fazer uma varanda na sua casa, lá está o CREA para aplicar uma multa e fazer valer a lei. Será que esses engenheiros foram formados naquelas faculdades de fundo de quintal? Está parecendo um complô. Parece que todos os picaretas resolveram vir fazer estágios em obras de Porto Velho. Não é possível que eles achem que aqui é terra sem lei, onde forasteiros chegam para fazer o que entenderem”.
Todo mundo sabe que em Rondônia existem políticos ladrões, mensaleiros, sanguessugas, governador que pode ser cassado a qualquer momento, senador acusado de comprar votos a cem reais, prefeito com o maior número de obras inacabadas do Brasil, avenidas da cidade doadas ao Governo Federal e aeroporto internacional que não faz absolutamente nenhum vôo para lugar algum fora do país. O que certamente nenhum rondoniense por aqui sabia é que desenvolvimento é sinônimo de prédio residencial que trinca sua estrutura, passarelas que matam em vez de salvar vidas, shopping center que aterroriza seus freqüentadores e hidrelétricas que mais se parecem piadas retiradas dos livros de humor negro. É, se desenvolvimento é tudo isto que estamos presenciando por aqui, é melhor ficar no limbo da História e se contentar em ser pobre mesmo.
*É professor em Porto Velho