A prisão na terça-feira, 17, em Minas Gerais, de seis membros da mais poderosa quadrilha de roubos a bancos e carros fortes do Brasil parece ter elucidado o assassinato do então senador Olavo Pires, que à época (1990) disputava o segundo turno das eleições para governador de Rondônia, pelo PPB (hoje PP).
Cabe uma indagação: não fosse o assassino João Ferreira Lima, o João de Goiás, qual teria sido o destino do estado?
Rondônia não teria tido nunca o governo Osvaldo Piana (que na ocasião havia ficado em terceiro lugar na disputa, passou para o segundo turno por causa d amorte do primeiro e acabou vencendo Valdir Raupp). Piana foi o mais medíocre e desastroso dentre todos os que já passaram pelo palácio Presidente Vargas.
Sozinho, João - bem ou mal - faz parte da história de Rondônia, apeando do poder, à bala, aquele que à época era o mais popular político rondoniense, no ápice dos seus 40 e poucos anos de idade. Assistencialista, carismático,destemino e empreendedor, Olavo nunca foi experimentado no Executivo.
Depois do crime, o bandido João de Goiás (aliás, Goiás era também a terra de Olavo Pires) continuou fazendo e acontecendo, não só em Rondônia. Ele expandiu os seus “negócios” criminosos a cinco outros estados.
Bandido audacioso a ponto de ter disparado uma rajada de metralhadora num senador da República, em pleno centro de Porto Velho, virou o mais procurado e temido ladrão de banco de todo o Brasil.
E é este homem que garante ter mantido negócios com Olavo, que lhe comprava carros roubados (na versão do marginal). Eram, pois, bem próximos. E na época, João era um jovenzinho mais atrevido ainda, que não suportava ser contrariado. Colecionava armas, contava vantagens e não gostou nada quando Olavo o desaforou quando foi cobrado para quitar uma certa dívida com negócios sujos que tinha com o João.
A resposta para o suposto desaforo agora todos sabem: uma rajada de metralhadora em pleno centro de Porto Velho, que matou na hora o senador-candidato a governador.
Existe na política, infelizmente, este emaranhado que envolve bandidos comuns – da marca deste João – e outros de colarinho branco, de gabinete, refinados. Pelo jeito, Olavo era uma simbiose das duas coisas. Ou seja, era um político duvidoso e duvidoso o era também em seus negócios privados. Com todo o respeito à sua memória! Mas, o que se faz aqui é tão somente uma análise criteriosa da história e dos fatos que se apresentam. E a estas alturas parece-me que o bandido já não tem mais nada a esconder e nem ninguém a proteger.
O certo é que a partir desta semana o famigerado João, que também era tratando pela bandidagem mineira como “O Professor”, passa a figurar na história de Rondônia como o autor da rajada que calou um dos políticos mais promissores desta terra, não aqui entrando no mérito de sua conduta moral e dos fundamentos da sua trajetória eleitoral vitoriosa.
Este esclarecimento alivia muita gente influente do Estado, em cujos ombros pesou, ao longo destas quase duas décadas, a suspeita da morte do senador. Um capítulo encerrado da história recente do estado, que mistura a crônica policial com a vida política, assuntos que, aliás, andam próximos nestas paragens pródigas povoadas de políticos velhacos (infelizmente!).
Júlio Olivar
Radialista e escritor em Rondônia