CARTA ABERTA
Cremos que, como representantes legítimos da população rondoniense, os/as senhores/as não se furtarão de dialogar aberta e responsavelmente conosco.
Estamos num momento histórico delicadíssimo para o nosso estado de Rondônia e para a Região Norte. A tentativa de construção do Complexo Madeira (
que muitos o chamam só de "Hidrelétricas do Madeira") é o marco sensitivo de tudo aquilo que virá depois com o nome de "desenvolvimento" e “progresso”. Se esse projeto passar, desrespeitando princípios básicos e fundamentais, tanto legal quanto democrático, abrirá um precedente histórico de ilegalidade e agressões contra o povo amazônida. Da afirmação da nossa autonomia e soberania, passaremos à subordinação como Região Norte e, particularmente, estado de Rondônia, ao interesse do mercado internacional.
A população está desinformada sobre o complexo ou sabe-o limitadamente. Isso, graças aos Meios de Comunicação Social do nosso estado que, na sua maioria, estão comprometidos com o tal "desenvolvimentismo" ou mesmo financeiramente atrelados a grupos interessados no projeto. Alguns chegam a apoiar abertamente as hidrelétricas, apostando nas falácias do “apagão” e do “emprego”. Há uma manipulação muito grande das informações, como se não houvesse alternativas, e essas hidrelétricas fossem a salvação do Brasil. Sabemos, assim como os senhores (
as), que existem saídas muito mais viáveis, em menor prazo, menos impactantes e menor custos do que as Usinas do Madeira. Como, por exemplo, a repontenciação das usinas com mais de vinte anos - substituição das turbinas, rotores e geradores -, os programas de eficiência energética, as centenas de pequenas hidroelétricas (
muitas já licenciadas pelo IBAMA) e fontes alternativas (
solar, aeólica, biomassa...), que podem alcançar a meta energética com muito mais segurança.
Não podemos prescindir, achar que os iluminados (
as) que arquitetaram esses projetos, tomarão decisões que favoreçam verdadeiramente a população, população essa que sempre esteve à mercê de todo “desenvolvimento”. Essa pauta não é nossa e nem do Brasil. É uma pauta imposta pelo capital internacional no sentido de aumentar a escala de exportação e o acesso à exploração dos recursos naturais, sem nenhum tipo de reciprocidade com o país. Precisamos resolver primeiro os problemas que já temos (
isso se chama sensatez), ao invés de criar obras impactantes, que vão gerar mais problemas e de toda ordem, e que não serão resolvidos como os outros. Por exemplo, não temos saúde pública com um mínimo de dignidade em nosso estado (
não dá pra considerar ambulânciaterapia como serviço de Saúde) e isso vai piorar muito... Não é questão de vir ou não mais recursos para o Estado, é questão de competência mesmo. Igualmente, a tarifa de energia é absurda e não vai diminuir com a hidrelétrica, sabemos disso como dois e dois são quatro. O que está em questão não depende somente de mais energia e, sim, para quê e onde ela é direcionada. Trata-se, sobretudo, de fortalecer um modelo que vem aprofundando a concentração de renda e de poder. Uma concepção equivocada de República.
Nesse sentido, estamos nos reportando aos senhores (
as), desejosos de que considerem essas questões profundamente relevantes, e que as mesmas estejam pautadas nas suas ações de parlamentares. Afinal, como nós, cidadãos comuns, vamos conseguir dar vazão a tudo isso?
Pedimos, ainda, que não omitam informações à população, nem que os fins justifiquem os meios, pois serão eternamente responsáveis pelas conseqüências desse projeto. Poderão ter mais apoio empresarial nas vossas campanhas eleitorais, no entanto, existem danos que valor nenhum pode remediar.
Então, senhores (
as), considerem isso! Não vamos permitir que pressões econômicas falem mais alto que a razão, a justiça e a lei. Não vamos permitir tamanho “experimento” num berçário delicado de vida, como o é a Bacia Hidrográfica do Rio Madeira.
O pior crime é o da ignorância. Seremos julgados (
as) por aquilo que poderíamos ter feito e não o fizemos. "Ter olhos e não ver".
Contamos com a atenção e vosso discernimento.
Setor Cidadania/ Projeto Padre Ezequiel/ Diocese de Ji-Paraná
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