ARTIGO: "É Constrangedor!" - Por D. Antonio Possamai

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Foto: Divulgação

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Graças a Deus iremos receber mais uma vez o sucessor de S. Pedro no governo da nossa Santa Igreja Católica. Sem dúvida é uma bênção não só para o povo católico mas também para todos os que acreditam nos ensinamentos da Papa no que toca à justiça, à solidariedade, no amor. Que seja bem vindo! Entretanto, esta visita vai ser curta. Curta porque tem um objetivo bem definido: abrir oficialmente a Vª CONFERÊNCIA DO EPISCOPADO LATINO AMERICANO E CARIBENHO. Todos nós conhecemos o quanto estas Conferências foram benéficas para nossa Igreja presente neste continente. Apesar de tantas forças que lhe querem impedir a ação profética e missionária, nossa Igreja Católica caminha com muito entusiasmo e com muita criatividade. Basta lembrar o que foram principalmente as Conferências de Medellín, de Puebla e de Santo Domingo. O Espírito Santo se manifestou e fez nascer as Comunidades Eclesiais de Base, a opção pelos pobres, pela justiça, pela paz, pela juventude, por uma Igreja toda ministerial, para apenas citar alguns exemplos. E agora o Papa vem novamente e vai abrir mais uma Conferência. Caminhou-se muito, mas o mal também progrediu. Os rostos de Cristo sofredor aumentaram, e muito; as CEBs estão necessitando de uma forte injeção de coragem e de fidelidade à sua identidade; há uma tendência bastante acentuada de voltar a uma Igreja apenas preocupada com o espiritual com o perigo de esquecer a opção pelos pobres; a estrutura paroquial necessita de revisão; a população urbana agora predomina, para só citar algumas urgências. Bem, e diante de tudo isto, onde fica o constrangimento que deu o nome a este artigo? Explico: o enfoque que está circulando por todo o Brasil está muito distante da razão de ser da visita do Papa. Constrange, e deixa má impressão o enfoque sobre o estilo e a qualidade dos móveis e do apartamento onde o Papa irá pernoitar; a qualidade e variedade da comida com que irá se alimentar; o carro em que vai circular e outros pormenores totalmente desfocados do sentido da visita que nos vai fazer o discípulo de Jesus, pobre e sem casa onde morar, que se alimentava daquilo que os discípulos pescam no mar da Galiléia ou compravam na feira; o sucessor de Pedro, pobre pescador e, provavelmente analfabeto; o seguidor de Paulo, este sim, doutor, mas que fabricava tendas para se sustentar e não ser de peso às comunidades.. Tenho certeza de que Bento XVI ficaria muito mais feliz se a notícia da sua visita enfocasse os grandes desafios que nossa Igreja e nossa sociedade enfrentam para que nosso povo seja tratado com mais justiça, mais dignidade e com mais respeito. Certamente ele se sentiria mais em casa sabendo que sua visita está sendo noticiada como a do bom pastor que quer vida abundante para os moradores desta casa sul americana e caribenha, casa de gente injustiçada, explorada, pobre, sofredora e martirizada. - D. Antonio Possamai, bispo da Diocese de Ji Paraná (RO).
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