MANAUS - Depois da malária, na Amazônia, a doença que mais acomete a população é a
leishmaniose. Como elas existem em dois tipos e, em muitos casos, os hospedeiros da Leishmania, um protozoário parasita, podem vir a apresentar a infecção assintomática, o perigo encontra-se na hora de diagnosticar cada caso.
*Na tentativa de melhor preparar os médico-veterinários, orientando-os a identificar com maior precisão os quadros clínicos de cada animal, acontece hoje (11) e amanhã (12), no
auditório da biblioteca do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o I Encontro Médico Veterinário de Leishmaniose da região norte.
*Segundo a médica-veterinária, doutoranda em Biotecnologia da Coordenação de Pesquisas em Ciências da Saúde (CPCS) do Inpa, Sônia Reis, esses profissionais podem correr o risco de confundir os dois tipos da doença: a Leishmaniose Tegumentar Americana (LTA) e a Visceral. Ambas são transmitidas por espécies diferentes de insetos vetores do mesmo gênero, causando conseqüências de dimensão igualmente distintas.
*Os parasitas causadores da LTA ficaram alojados nas células do organismo de animais silvestres. O desmatamento e a conseqüente diminuição das áreas verdes podem vir a modificar o hábito alimentar desses insetos vetores, passando a alimentar-se de sangue de cães, gatos e outros animais que vivem próximo ao homem, colocando este em situação de risco também. Criando-se, portanto, o seguinte ciclo: homem, inseto e cão.
*"Há muitos estudos em torno da importância do cão na transmissão da leishmaniose visceral, que é a forma mais grave. No entanto, ainda são poucas as ações de combate na área da LTA", afirma Reis. Tanto que só existe vacina desenvolvida para o combate à visceral, com utilização proibida em áreas não endêmicas.
*Ela explicou que quando uma pessoa leva seu animal para ser examinado e o veterinário aplica a vacina contra visceral, este acaba tornando-se, clinicamente, soropositivo, impossibilitando saber se o mesmo está infectado ou vacinado, dificultando a execução de medidas de controle. Isso pode tornar os exames evasivos.
*"O Estado do Amazonas apresenta-se ainda como uma região de ambiente silvestre, apesar do grande desenvolvimento das principais áreas urbanas, por isso não são tantos os casos de leishmaniose canina. Mesmo assim, eles existem, e observamos que a doença nesta área contribui com um grande número dos casos no Brasil, o que nos leva a concluir que, na Amazônia, com as mudanças ambientais, muitos desses vetores podem vir a se adaptar ao ambiente urbano. Outro problema é conhecer melhor a
sintomatologia e o curso da infecção nos animais domésticos, principalmente os cães, até mesmo para saber se eles desenvolvem a forma clínica", revela Reis.
*O evento é uma realização do Conselho Federal de Medicina Veterinária, em conjunto com a instância regional da entidade, e conta com o apoio do Laboratório de Leishmaniose e Doenças de Chagas do Inpa. A expectativa é receber pelo menos 1/3 dos profissionais da área que atuam no Amazonas, além de estudantes de graduação e pós-graduação. Estarão presentes ainda representantes do Ministério da Saúde, da Fiocruz, do Instituto de
Medicina Tropical e da Pontifícia Universidade Católica (PUC/Minas).