A sétima arte como é chamada o cinema, desde a sua criação sempre precisou se reinventar para continuar existindo. E isso nunca foi nada fácil. Se até os pais franceses do Cinema diziam que o “cinema não teria futuro, pois não passaria de uma curiosidade de feira”. Ainda bem que eles estavam enganados.
Primeiro foi à passagem do cinema mudo para o sonoro, cuja transição destruiu carreiras e consolidou outras. Nos anos cinqüenta viria o fenômeno de massa chamado televisão e com isso o público não precisa sair de casa para assistir a um filme.
No entanto os “gênios do sistema” como mágicos sempre a postos tinham um às na manga como o Cinemascope, o cinema em 3 D entre outras invenções capazes de atrair o público para as salas de cinema que diminuíam gradativamente causando assim desemprego.
O cinema é como todos sabem uma indústria que depende não apenas de astros, estrelas e diretores, mas de técnicos, extras, roteiristas e figurantes, uma verdadeira multidão que o espectador não vê, para existir.
Apesar de arrecadar milhões, isso não é garantia de que um cinema seja grande ou pequeno consiga sobreviver sem espectadores. Muitos cinemas em todo o Brasil acabaram sendo transformados em igrejas evangélicas. No entanto existe agora um perigo maior. A pirataria que acaba de fazer mais uma vítima, no caso, o Cine Brasil; e vitimas os funcionários do citado cinema.
Na tarde dessa segunda-feira (15) quando vinha para o trabalho vi uma placa que colocaram no Cine Brasil. A placa diz “CINEMA FECHADO POR CAUSA DA PIRATARIA”. Pensei comigo: “que país é este em que vivemos onde o errado impera e o certo não faz parte da realidade?”. O que diria Jack Sparrow e outros piratas do Cinema sobre os colegas em ação em pleno século XXI?
E agora José? Como diz o poema de Carlos Drummond de Andrade. E agora aquelas pessoas que não têm como pagar R$ 12,00 num ingresso no Cine Rio ou Cine Veneza como farão a partir do fechamento do Cine Brasil para assistir a um filme? Resposta simples, direta e objetiva – Vão apelar para os filmes piratas que a cada dia proliferam em Porto Velho, no Brasil e no mundo. O que não deixa de ser uma ironia. Faz lembrar os versos de Augusto dos Anjos “a mão que afaga é a mesma que apedreja...”.
No mesmo cartaz também diz que a última sessão acontece dia 30 de outubro quando o Cine Brasil fecha suas portas definitivamente deixando órfãos inúmeras fãs de cinema que por ali passaram durante todos esses anos de sua existência.
O projetor do Cine Brasil se calará para sempre deixando o vazio como lembrança no projecionista e na cabine. Nunca mais aquele brilho de sonhos na sua tela. Nunca mais o entra e sai de espectadores. Nunca mais dois ou três filmes em cartaz, para alegria dos espectadores. Nunca meia para todos em todas as sessões. Nunca mais Cine Brasil.
É triste, mas é verdade. Encerro com uma epígrafe singela “AQUI JAZ O CINE BRASIL, POIS APESAR DO NOME QUE MUITO LHE PESOU, ACABOU VÍTIMA DA PIRATARIA, DO DESCASO E DA OMISSÃO”.
Humberto Oliveira é jornalista e cinéfilo