ARTIGO - Obituários - Por Hamilton Lima

Da Redação

11 de Outubro de 2007 às 14:25

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Foto: Divulgação

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* No tempo em que estava trabalhando no jornal O Estadão do Norte recebi por uma ou duas vezes a missão desagradável de construir pequenos textos sobre falecimento de pessoas conhecidas na capital, os famosos obituários. * Pra dizer a verdade, nem lembro sobre quem escrevi coisa de menos de dez linhas, mas de qualquer forma sentia certo constrangimento, pois pensava nas famílias dos extintos, seu sofrimento, essas coisas. * Mas hoje fico imaginando que nem tão constrangedor falar sobre a morte de algumas pessoas famosas do contexto nacional. Até por uma questão ideológica. Por exemplo, o texto sobre Fernando Henrique Cardoso seria assim: ” Faleceu hoje na cidade de São Paulo o ex-presidente da república Fernando Henrique Cardoso, um dos expoentes da social-democracia, que dirigiu o país entre os anos de 1994 e 2002, estabelecendo uma política de privatizações que encolheu o Estado sem nada oferecer em troca à população brasileira. Os poucos projetos realizados pelo sociólogo que tão brilhantemente passou pela Sorbonne acabaram engolidos pela sua soberba. O velório do excelentíssimo ex-professor da USP será realizado na Assembléia Legislativa de São Paulo, seguindo o féretro para o panteão dos heróis do neoliberalismo, situado num cemitério norte-americano.” Confesso que o texto ficaria interessante, sem constrangimentos. * Outro que poderia ser citado, Antônio Carlos Magalhães, seria assim: “Faleceu hoje em Brasília o senador baiano Antônio Carlos Magalhães, um dos políticos centenários do Brasil. Antônio Carlos, também conhecido popularmente como Toninho Malvadeza, ficou conhecido por sua atuação conservadora, mantendo estreitos laços com a ditadura militar e Roberto Marinho, também falecido, que inaugurou um dos maiores impérios midiáticos da América, a Rede Globo de Televisão. Antônio Carlos Magalhães teve o mérito de ajudar a eleger Fernando Collor de Mello, o primeiro presidente escolhido diretamente pelo voto popular ou quase isso. Depois ficou conhecido também por criar a CPI do Poder Judiciário, descortinando um poder que sempre esteve envolto em mistérios na história do Brasil. O velório de ACM será realizado na Feira de Santana, e o féretro segue após uma semana de carnaval e axé music para Salvador, onde o ilustre senador patriarcal repousará (depois de uma semana de carnaval vai precisar mesmo) eternamente nas proximidades da praça Castro Alves. * E assim procederia. Tantos personagens ilustres para citar no obituário. Paulo Maluf, Collor, Itamar, Lula, Alckmin, os governadores do Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia. Deveria me especializar na arte de homenagear esta gente. Quem sabe seja contratado só pra isso? *Hamilton Lima é professor universitário

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