POLÊMICOS: Cinco filmes que venceram o Oscar e hoje causam vergonha

Premiação de Hollywood já elegeu como melhor filme produções que mais tarde foram "canceladas", muitas acusadas de racismo; veja exemplos

POLÊMICOS: Cinco filmes que venceram o Oscar e hoje causam vergonha

Foto: Divulgação

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O Oscar chega este ano à sua 94ª edição com uma história de altos e baixos. A falta de diversidade em seu grupo de votantes – questão que levou a Academia de Hollywood a passar por modificações recentes – se refletiu nesses quase 100 anos em filmes vencedores que hoje fazem parte de uma vitrine de vexames. Curiosamente, muitos dos longas mais controversos não são dos primórdios da premiação, mas sim recentes – entre eles o vencedor de 2019, que já subiu ao palco com aplausos comedidos. Confira a seguir 5 filmes que não envelheceram bem — ou já eram questionáveis na época em que foram lançados.

 

…E o Vento Levou

 

Vencedor do Oscar de melhor filme em 1940, o longa foi o responsável por dar também a primeira estatueta a uma pessoa negra – para Hattie McDaniel, na categoria de melhor atriz coadjuvante. Na época, porém, ela não pôde se sentar com os demais indicados por causa da cor de sua pele: só brancos participavam da cerimônia. Apesar de carregar consigo esse marco, o filme há décadas é criticado pelo modo como retrata a escravidão. No roteiro, as pessoas negras escravizadas são felizes, servis e bem tratadas. A própria personagem de Hattie é um estereótipo da mulher negra feita para servir os brancos com afinco, sem nunca reclamar. O modo como a Guerra Civil é apresentada também revela-se historicamente problemático, pois assume a bandeira da defesa das tradições e dos bons costumes quando, na verdade, o conflito foi motivado pelos que não aceitaram o fim da escravidão. Recentemente, as polêmicas em torno do filme voltaram e a HBO Max adicionou uma explicação antes da exibição do longa em sua plataforma de streaming.

 

Coração Valente

 

Dirigido e protagonizado por Mel Gibson, o filme que levantava a bandeira da liberdade na verdade defendia uma das personas mais brutais da história da Europa. Vencedor do Oscar em 1996, o longa apresenta, de forma romantizada, a jornada de William Wallace, cavaleiro que liderou a guerra de independência da Escócia. Hoje em dia, até Gibson reconhece que errou no trato ao personagem. “Wallace não foi uma pessoa tão boa quanto retratamos no filme, romantizamos sua história um pouco. Na verdade, ele foi um monstro. Ele cheirava a fumaça, pois queimava com frequência vilarejos com civis. Era um bárbaro”, disse o diretor e ator. O filme ainda traz outros erros históricos, como o fato de que ele não era pobre, mas sim um membro da elite escocesa. E tem altas cenas de machismo e flagrante homofobia.

 

Beleza Americana

 

Protagonizado por Kevin Spacey, ator que caiu em desgraça após acusações de abuso sexual e assédio moral de jovens rapazes menores de idade, o filme aclamado pela premiação em 2000 foi imortalizado pela cena da jovem Mena Suvari nua e coberta com pétalas de rosas. No filme, a sequência era parte das fantasias do personagem de Spacey, que desejava a jovem amiga de sua filha. Mesmo que o filme não endosse o relacionamento ilegal, o roteiro também não rechaça totalmente a possibilidade e ajuda com cenas do tipo a sexualizar a infância para que o público entenda o desejo do quarentão.

 

Crash – No Limite

 

Sob um disfarce de tolerância racial, o filme vencedor do Oscar em 2006 faz uma salada sem profundidade de tipos diversos convivendo, ou melhor, se debatendo em Los Angeles. Enquanto se propõe a derrubar estereótipos, o longa que traz no elenco nomes como Sandra Bullock, Don Cheadle e Matt Dillon acaba ao mesmo tempo limpando a barra de preconceituosos. Caso do policial racista que abusa sexualmente de uma mulher negra numa batida e, mais tarde, salva a mesma de um acidente, terminando o longa mais como herói que como criminoso.

 

Green Book – O Guia

 

Mais recente da lista, vencedor do Oscar de 2019, o filme narra a história real e a amizade improvável de um músico negro e seu guarda-costas branco durante uma turnê em 1962 pelo Sul racista dos Estados Unidos. Em plena época de segregação, na qual negros e brancos não ficavam nos mesmos hotéis ou comiam no mesmo restaurante, o músico Dr Don Shirley precisa da proteção de um homem branco para transitar pelo país e poder se apresentar, ironicamente, para plateias brancas. Apesar de se tratar de uma história real, o filme foi criticado já na época do lançamento pelo roteiro no qual a trajetória de Don é deixada de lado para que ele exerça apenas a função de transformar o seu empregado racista Tony em uma pessoa melhor. Há ainda outro problema: a trama incorreria no pecado de glorificar o white saviour (salvador branco, em português), termo sarcástico usado para denominar pessoas brancas que gostam de se gabar por ajudar negros, como turistas tirando foto com crianças na África. Ou, nesse caso, o homem branco que mantém a integridade do negro ao longo de 90% do filme.

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