Por Dr. Luiz Dieckmann
A esquizofrenia costuma ser lembrada com medo e estigma, mas o conhecimento atual mostra uma realidade muito diferente. Muitas pessoas diagnosticadas estudam, trabalham, mantêm vínculos afetivos e levam uma vida plena quando recebem o tratamento correto. Entender o que a doença é, reconhecer seus sinais e saber como funciona o cuidado ajuda a reduzir o medo e aproxima quem precisa de suporte.
O que é esquizofrenia?
A esquizofrenia é um transtorno mental crônico que altera a forma como a pessoa pensa, sente, percebe o mundo e organiza o comportamento. Costuma começar no fim da adolescência ou no início da vida adulta. Surge pela soma de vários fatores, como predisposição genética, alterações neurobiológicas, infecções na infância e situações adversas importantes.
Principais sintomas da esquizofrenia
Sintomas positivos
Representam um acréscimo ao funcionamento mental típico.
• Delírios, como acreditar em algo sem base na realidade.
• Alucinações, principalmente ouvir vozes quando não há fonte externa.
• Pensamento desorganizado, dificuldade em seguir uma linha lógica.
• Comportamentos agitados ou incoerentes.
Sintomas negativos
Indicam perda ou redução de funções importantes.
• Menor expressão emocional.
• Pouca motivação.
• Redução da fala espontânea.
• Dificuldade para iniciar tarefas do dia a dia.
Essas manifestações podem ser confundidas com desinteresse ou preguiça, mas fazem parte da doença e têm base neurológica.
Sintomas cognitivos
Aparecem na rotina.
• Dificuldade de concentração.
• Falhas de memória recente.
• Problemas para organizar atividades simples.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico e feito por um psiquiatra. A avaliação considera:
• Quais sintomas estão presentes.
• Há quanto tempo eles acontecem, geralmente seis meses ou mais.
• Como afetam o funcionamento da pessoa.
Exames de sangue ou imagem não confirmam a esquizofrenia. Eles servem apenas para descartar outras causas.
Uma observação importante: um episódio psicótico isolado não define esquizofrenia. O diagnóstico depende da evolução ao longo do tempo.
Sinais precoces que merecem atenção
• Mudanças bruscas de comportamento.
• Isolamento repentino.
• Perda de interesse por atividades antes prazerosas.
• Desconfiança excessiva.
• Percepção de vozes ou sons inexistentes.
Identificar cedo facilita o tratamento e melhora muito o prognóstico.
Como é o tratamento da esquizofrenia?
Medicamentos antipsicóticos
São a base do manejo e reduzem delírios, alucinações e desorganização.
• Antipsicóticos de primeira geração.
• Antipsicóticos de segunda geração, mais modernos e com menos efeitos motores.
A resposta costuma ser gradual. O psiquiatra ajusta doses e troca medicamentos quando necessário. Podem ocorrer efeitos colaterais como sonolência, rigidez ou ganho de peso, mas existem alternativas seguras.
Psicoterapia
A Terapia Cognitivo Comportamental ajuda a lidar com sintomas persistentes, identificar gatilhos, organizar rotina e treinar habilidades sociais.
Reabilitação psicossocial
Favorece autonomia e funcionamento diário.
• Atenção multiprofissional.
• Treinamento ocupacional.
• Orientação familiar.
• Ajustes de rotina, sono e autocuidado.
Hábitos que ajudam
• Manter sono regular.
• Evitar álcool e drogas.
• Atividade física leve.
• Pequenas metas diárias.
• Família bem informada e presente no cuidado.
Vida a longo prazo
Com tratamento contínuo, muitas pessoas trabalham, estudam, constroem família e levam vida independente. O maior risco é interromper o tratamento, pois isso aumenta a chance de recaídas.
Por que ainda existe tanto estigma?
Mitos ainda circulam:
• Pessoas com esquizofrenia seriam violentas.
• Não poderiam trabalhar.
• Seriam imprevisíveis.
A ciência mostra outra realidade:
• Quem está em tratamento tem baixa taxa de violência.
• Pode estudar, trabalhar e manter relações estáveis.
• Pode planejar, assumir responsabilidades e ter autonomia.
O estigma afasta do cuidado e atrasa o diagnóstico.
Casos extremos não representam a maioria
Situações raras de comportamento arriscado chamam atenção da mídia, como o episódio do rapaz que entrou na jaula de uma leoa e morreu. Esses casos não refletem o cotidiano de quem vive com esquizofrenia. Geralmente envolvem combinação de vários fatores:
• Tratamento interrompido.
• Sintomas psicóticos intensos.
• Uso de substâncias.
• Ausência de acompanhamento.
• Estresse extremo.
Casos assim são exceção. O que não aparece nos jornais são milhares de pessoas estáveis que vivem normalmente.
Perguntas frequentes sobre esquizofrenia
1. A esquizofrenia tem cura?
Não, mas o tratamento controla os sintomas e garante boa qualidade de vida.
2. Esquizofrenia causa múltiplas personalidades?
Não. Múltiplas personalidades pertencem a outro transtorno.
3. O tratamento é só com remédios?
Não. Medicamentos são essenciais, mas psicoterapia e reabilitação ajudam muito.
4. A esquizofrenia pode surgir de repente?
Pode, mas muitos apresentam sinais precoces.
5. Quem tem esquizofrenia pode trabalhar?
Sim. Muitas pessoas mantêm emprego, estudam e vivem de forma independente.
6. Drogas podem desencadear esquizofrenia?
Podem aumentar o risco, principalmente em pessoas predispostas.
7. É possível prevenir?
Não há prevenção garantida, mas evitar drogas e buscar ajuda cedo reduz bastante o impacto.