A deputada Luciene Cavalcante (PSOL-SP), entrou com representação no Ministério Público Federal (PFM) e no Tribunal de Contas da União (TCU) pedindo a abertura de investigação sobre supostos pagamentos feitos a miliciano envolvido no assassinato de Marielle Franco em igrejas do pastor bolsonarista Silas Malafaia.
"A conclusão do relatório final da Polícia Federal de que um representante de Brazão recebia dinheiro em umas das igrejas do Pastor Silas Malafaia é muito grave, pois sugere o uso de templo para fins ilícitos. É necessário investigar, pois se confirmado, representa uma violação da lei e da ordem pública”, afirmou a deputada.
Na representação, a parlamentar cita o parecer da Procuradoria-Geral da República (PGR) que diz que Robson Calixto, o "Peixe", assessor de Domingos Brazão, recebia pagamentos da milícia em igreja de Malafaia.
"Segundo informações divulgadas pelo Disque Denúncia, Robson Calixto estaria recebendo dinheiro da milícia em uma das igrejas ligadas a Silas Malafaia. O relato anônimo afirmou que Robson era encontrado nos dias 15 e 30, todos os meses, em uma igreja evangélica de Silas Malafaia próxima à UPP da Taquara, na Zona Oeste, para receber a quantia arrecadada na região devida à milícia. Também foi informado que ele andava armado e atuava como “segurança informal” de Domingos Brazão", diz o texto.
"Diante da gravidade das informações apresentadas acima, a Noticiante requer que este órgão proceda com a apuração dos fatos narrados com a diligência que o caso impõe, tomando as medidas cabíveis para que seja instaurado procedimento investigatório completo e independente sobre as alegações de envolvimento do Sr. Silas Lima Malafaia em atividades ilícitas, a fim de salvaguardar os princípios fundamentais da justiça e do Estado de Direito", pede a parlamentar.
Nas redes sociais, Malafaia teve uma série de surtos e chiliques e chamou de "insinuação cretina" o suposto envolvimento da igreja com milicianos.
Ao surtar com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, Malafaia confirmou que paga policiais da ativa para fazerem bico como segurança particular de sua igreja.
"Se algum policial que presta serviço de segurança em nossas igrejas está envolvida com milícia , é problema dele ! Só na igreja sede eu tenho mais de 8 policiais que prestam serviço de segurança", escreveu.
Entenda
Informações do inquérito policial e do parecer da PGR sobre os mandantes do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes revela que o segurança de um dos mandantes, o conselheiro do TCE-RJ Domingos Brazão, identificado como Robson Calixto, o “Peixe”, recebia duas vezes por mês quantias originárias da arrecadação criminosa das milícias que operam na Zona Oeste do Rio numa igreja evangélica que é de propriedade do pastor bolsonarista Silas Malafaia.
De acordo com o documento policial, a informação apareceu na investigação após ligações anônimas para o serviço de “disque-denúncia” do estado, conforme consta em imagem reproduzida na página 170 do relatório, que teve seu sigilo levantado neste domingo (24) pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
“Na estrada citada, próxima da UPP da Taquara, localiza-se uma igreja evangélica do Silas Malafaia, onde pode ser encontrado o miliciano ‘Robson Calixto Fonseca”, de vulgo “Peixe”, nos dias 15 e 30 de todo mês, para receber a quantia que é arrecadada na região. Ele anda armado, é policial e segurança particular do deputado Domingos Brazão”, diz a denúncia anexada ao inquérito da PF, que data de 18 de junho de 2018.
A versão usada nesta reportagem do texto com a denúncia foi corrigida em seus vários erros de ortografia. No entanto, a expressão “UPP” está equivocada e se refere, na verdade, à “UPA” da Taquara, que de fato fica a cerca de 70 metros de distância da ADVEC, a “Assembleia de Deus Vitória em Cristo”, igreja da qual Silas Malafaia é dono. Não há Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na região mencionada.
“Peixe”, conforme mostram as investigações, seria um policial militar atuante na milícia de Rio das Pedras há muitos anos, além de homem de confiança de Domingos Brazão, de quem realizava uma espécie de segurança improvisada, o acompanhando constantemente. O nome dele aparece em inúmeros outros inquéritos abertos pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado), do Ministério Público do Rio de Janeiro.