O Brasil está deixando de investir o suficiente em pesquisas sobre os diversos tipos de malária existentes no país para aplicá-los em outras doenças mais “na moda”, como a dengue, alerta Ulisses Confalonieri, pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que qualifica tal tendência como “negligente”.
De acordo com o especialista, a malária precisa ser mais estudada porque tem muitas formas diferentes nos diversos pontos da Amazônia em que ocorre. “Precisamos fazer estudos multiplicados por toda a Amazônia. Em Rondônia, por exemplo, se estuda malária há 30 anos. Já no Amapá e no Acre, a doença não é muito bem conhecida”, comenta.
Para o pesquisador, somente um investimento prolongado pode resolver o problema. “Em 2001 o Banco Mundial investiu no combate à malária no Brasil e o índice de contaminação pela doença caiu em 50%”, exemplifica, explicando que, com a diminuição dos recursos, os números voltaram a subir.
Colafonieri diz que falta investimento para conhecer melhor a doença porque as políticas de saúde não são formuladas numa perspectiva de longo prazo. “Precisaríamos construir um cenário futuro de 10 ou 20 anos, mas as políticas públicas não têm esse interesse. O panorama longo é apenas de interesse acadêmico”, reclama.
O cientista da Fiocruz apresenta fatores positivos e negativos em relação à disseminação da malária no Brasil. “O garimpo diminuiu muito. Há 20 anos tínhamos 500 mil garimpeiros que disseminavam a doença”, cita. Por outro lado, o avanço do desmatamento estaria contribuindo para espalhar a infecção: “O desmatamento tem um efeito inequívoco sobre a disseminação da malária. O mosquito transmissor muda seu perfil natural, pois passa a ter habitats artificiais para viver”.
Colafonieri está em Manaus para a Conferência Científica Internacional Amazônia em Perspectiva, que acontece até quinta-feira (20).