Momento Lítero Cultural - Por Selmo Vasconcellos

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Foto: Divulgação

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POESIAS

(Colaboradores de 1991 a 2000)

 

DILERCY ADLER ARAGÃO – São Luís, MA.

MERGULHO

 

Aquela sensação de perda

já conhecida

bate outra vez

Não abro

Mergulho!

***

ILKA BRUNILDE LAURITO – São Paulo, SP.

ADÁGIO

 

Devagar

não vim ao longe.

Nem sequer cheguei aonde.

Eu me quebrei

buscando a fonte.

Mas inteira é a sede

do meu cântaro.

***

NINA TUBINO – Brasília, DF.

IPÊ

 

À sombra deste ipê

Um dia sonhei

Um dia amei...

Ipê amigo,

Onde está o sonho

Que aqui deixei ?

***

ANDERSON BRAGA HORTA – Brasília, DF.

ARCO-ÍRIS

 

A chuva

o áureo espectro do Sol

nos dedos quebrados.

***

MÁRCIO CATUNDA – Lisboa, Portugal.

Zen

 

Enquanto referve o ódio dos poderosos

corto papéis com calma :

a tesoura desliza em linha reta.

***

MARIA DE LOURDES BRANDÃO – Nine, Portugal.

FRIO NA ALMA

 

Minha casa está vazia

sinto frio...

Onde o calor que sentia

vindo de ti ?

***

AMARYLLIS SCHOLOENBACH – São Paulo, SP.

DISTÂNCIA

 

Ponte impossível

que atravesso rápido

nas asas da imaginação.

***  

WILSON PEREIRA – Brasília, DF. 

AMANHÃ

 

Quando o dia estiver abrindo a porta

varrendo o pó das ultimas estrelas

eu talvez ainda esteja dormindo

como um menino que não foi à escola.

***

NORA RONDEROS – Bogotá, Colômbia.

Soñar

No es visualizar un futuro

Sino conseguir atrancar

Es un puerto

Que parecía imaginario.

***

SALOMÃO SOUZA – Brasília, DF.

VÔO

 

O homem é a porta

O gesto é a chave

O homem é o pouso

A palavra é a ave.

***

ANAIR WEIRICH – Chapecó, SC.  

ACONCHEGO

 

Cama em alvoroço.

louça na pia

até o pescoço...

Quando se é feliz,

até bagunça

fica bem...

***

ALCEU BRITO – Brasília, DF

HEAVY CHRYSTUS

 

hoje, Ele seria talvez

um astro de tv

então não O crucificariam

no máximo seria desligado :

Clic.

***

LAU SIQUEIRA – João Pessoa, PB

VOYEUR

 

debaixo

das laranjeiras

há um jeito

de flagrar

o amor

das lagartas

 *** 

ÁNGELES DALÚA  - Zamora, Espanha.

Crepúsculo

 

el sol agoniza

destrojando

flores de ciclâmen

en las nubes.

***

DINOVALDO GILIOLI – Florianópolis, SC.

 

de lírio

em lírio

delírios.

***

RENATA PACCOLA – São Paulo, SP.

A noite guarda com ela

os sonhos dos poetas,

o descanso dos trabalhadores,

as mulheres quietas,

as minhas dores.

***

JUJU CAMPBELL – Rio de Janeiro, RJ  

POEMA DE VERÃO

 

As frondosas arvores do passado arqueiam-se

sobre os jardins repletos de sedentas flores do presente,

e generosas vertem abundante selva.

Que em cada flor desabrochem favos de mel.

E canalizem-se as águas das chuvas

contra os braseiros do sol ( e da lua incandescentes ).

Quando a área! Sem oásis arde e se estende

que espalhem fresca e façam sombras

as sementes das flores do presente !

as frondosas arvores do passado

que se arqueiam sobre as sedentas flores do presente.

***

DORONI HILGENBERG – Manaus, AM

Terraço

o último andar

é dos poetas

que mesmo distante da lua

estão mais perto dos sonhos.

***

VIRGÍNIA VENDRAMINI – Rio de Janeiro, RJ.

AFIRMAÇÃO

 

A mente turvou-se

E a noite se fez vermelha.

Houve rosas macias

Em seu leito de pedras

E a vida escorreu-me pelo corpo.

Depois o silêncio

Imobilidade estelar...

E a certeza inevitável de ser mulher.

*** 

IVONE VEBBER – Caxias do Sul, RS

O FEITICEIRO

 

Me conquistou captando e

falando o que penso e sinto,

como se fosse meu espelho.

Esperto !

A paixão é assim ?

Agora corro atrás dele ou de mim ?

***

EUNICE ARRUDA – São Paulo, SP  

CONSTATAÇÃO

 

diante do morto :

como fiz

pouco.

***

ALICE SPÍNDOLA – Goiânia, GO>

OFÍCIO DE POETA

 

se amarro símbolos

em cabalas inéditas

escavo a linguagem perdida

no verso verde

da ponte

ou viaduto para onde

caminha a sentença

ou mensagem perfeita

oficio de poeta

em dia de chuva.

***

JORGE TUFIC – Fortaleza, CE.

OS DEDOS DA MÃO

 

Agulhas com som de chuva

tecem, lá fora, os vitrais

da noite, talvez, que desce.

Mas é o silêncio que tece

a urtiga dos vendavais.

***

JOSETTE LASSANCE -  Belém, PA.

APOCALIPSE

 

Nosso pulmão cinzento é o caos  nascendo

De um planeta pirata

Os motores nos acertam com suas

Serras elétricas

As pústulas estão sujas de óleo

As estradas nos consertos

O que viver então após holocaustos ?

Suásticas vivas em roupas mortas

De nazistas podres ?

Envenenamento em massa

Ou esperar pelo blue sky e clones

De butterflys robóticas ?

***

LUÍS TURIBA  - Brasília, DF.

MADRUGADA EM BEIRUTE

 

Noite fulmínea

permitir-se

soprar a ultima vigilância da lucidez

a Deus.

 

LETICIA HERRERA ALVAREZ – México, México.

LA MUSA

***

-Ay de mi !

cuántos edipos me

habrián hecho la víctima

de su amor platónico.

***

ANA HELENA RIBEIRO SOARES – Rio de Janeiro, RJ.

...E DEIXOU TUDO IR EMBORA

 

Minha infância

sem memória

escorregou

por entre os dedos do tempo.

Que não teve dó

e deixou

tudo ir embora

sem juntar um só

fragmento.

***

OLGA MEYER – Petrópolis, RJ.

Pisou de leve o chão,

mas a terra era boa

e guardou para sempre

a marca dos seus sapatos.

***

ROSÁLIA MILSZTAJN – Rio de Janeiro, RJ.

CANSEIRA

 

Queria descansar

nos teus braços

esquecer.

Queria esquecer

dos teus braços

descansar. 

***

FLÁVIA SAVARY – Teresópolis, RJ  

SENZALA DE SHERAZADE

 

Por não saber lidar

Com essa fala vária,

Cubro-me com o véu

Do avental.

E certo,

Enquanto cato perdas

Em meio aos feijões.

***

TÂNIA GABRIELLI-POHLMANN – Osnabrück – Alemanha

FECHADO POR LUTO

 

fechou o livro sagrado

por ocasião da morte

de sua ignorância.

***

TANUSSI CARDOSO – Rio de Janeiro, RJ.

NATUREZA MORTA

 

A aranha tece a vida

e espera a mosca

Como a raiz se enterra

e aguarda a arvore e os frutos

Só eu não espero

nem a mosca nem os frutos

Só eu teço o nada

***

EUGÉNIO DE ANDRADE – Lisboa, Portugal.

Num exemplar das Geórgicas

 

Os livros. A sua cálida,

terna, serena pele. Amorosa

companhia. Dispostos sempre

a partilhar o sol

das suas águas.tão dóceis,

tão calados, tão leais.

Tão luminosos na sua

branca e vegetal e cerrada

melancolia. Amados

como nenhuns outros companheiros

da alma. Tão musicais

no fluvial e transbordante

ardor de cada dia.

***

EDIVAL PERRINI – Curitiba, PR.

TOM

 

Quando a noite invade os pássaros,

voos derramam-se em luz :

manhas da manhã,

pouso feito a bico

com mil gravetos de som.

***

ALCIDES BUSS – Florianópolis, SC.

O poema : surdez

encobrindo a matéria

da vida.

Nudez

que se vê.

***

CHARLES ASTRUC – Paris, França.

COMMUN NAUFRAGE

 

Mais qui, vous aussi,

Vous savez ce qu’il en est :

Amis, c’est l avie.

Inutile de traduire,

Entre naufragues du revê.

***

ENZO BONVENTRE – Firenze, Itália.

La morte della morte

Giá prevista la morte dell’inverno

Che sarà mai la primavera ?

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