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JANETE CORTEZ
(para Marie-Madeleine e Antoine de Saint-Exupéry)
Foi quando te soube entre as tílias
naquela tarde de vento
soprando vida, alisando o tempo.
Foi ali, no instante exato
em que o silêncio se fez presente
e as folhas das árvores estáticas,
o vento já emudecido,
revelaram tua presença.
Ali te encontrei.
Soube que me espreitavas
com teu olhar secreto e doce.
Poderia te tocar não fossem
os véus de luz que te encobriam
ofuscando meus olhos pequenos.
Ali soube o meu destino.
Ali me encontrei.
Queria poder ficar e ouvir o teu canto
me integrar na paisagem
que tanto amavas.
Mas a vida me chamava
fora daquele parque,
longe das janelas que abrigaram
teu olhar antigo.
Entre lágrimas de saudade
mais uma vez parti.
Desta vez carrego comigo
certezas e gratidão eterna.
E essa imensa ternura
colorindo os dias e as noites
desta alma pequena
que apenas espera.
26/09/2014
*****
Debruço sobre minhas penas,
minhas mágoas, meus enganos.
Tento soltar-lhes os laços,
o peso, as algemas,
enxugar-lhes as lágrimas que correm
e corroem nervos de aço.
Então, furto-me um instante,
permito-me estar entre as nuvens e as estrelas,
deixo-me conduzir pelas asas de um anjo.
Encontro-me só e única
no imenso Universo Divino.
Avisto e acolho minha alma pequena,
beijo-a ternamente,
afago suas faces eternas,
perdoo seus erros e abraço seus sonhos.
Encontro meu norte, meu centro.
Todas as minhas vidas ali
debruçadas sobre meu colo,
todas elas sedentas do meu toque,
meu abraço amigo, meu carinho.
Carrego, então, minha alma pequena
sob o luar e as estrelas,
deixo que ela fale seus poemas,
aponte as nebulosas,
desenhe no vento paisagens e flores.
Percebo-a frágil, sonhadora e bela.
Talvez pudesse contar-me suas histórias,
revelar-me segredos,
riscar na terra meus rastros.
Mas como criança pequena e frágil
ela enlaça meu pescoço e sorri,
olhos nos olhos, ternamente.
Permite que eu a ame como a um filho
e que eu esteja em paz com Deus.
28/11/08
*****
Pequenas flores
pequenos sonhos.
Vida pequena
que segue
o rumo
e o ritmo
da espera
grandiosa.
E crescer
servindo
e morrer
amando...
11/5/1989
*****
Solta-me as âncoras
fincadas nessas tristes águas.
Desfaça-me as amarras
para que eu deslize
em meio às ondas
para que eu me perca
neste oceano de gestos e brisas
para que eu voe livre
em velas içadas
em ventos mornos
para que eu me encontre
no avesso de quem hoje sou
e me desfaça em prantos de alegria
e me permita, ternamente, amar-te
como se fosse a única e fresca fonte
perdida num deserto sem sombras.
*****
O trem desliza sobre os trilhos
rijos, metálicos, infindos.
Nuvens desfilam ante meus olhos
sedentos de encontro e risos.
Meu olhar cruza e penetra
pesadas sombras no céu de outono.
Agarro-me ao poente.
Submeto meus sonhos
à maciez e à mansuetude
desta brisa cálida
desta tarde que chega ao final
destes trilhos que me levam
e me espreitam.
******
Antes eram as pedras
suspensas no tempo
parte imersa do templo
dos deuses, dos homens.
Pedra por pedra
gota d'água refinada
caída dentre os sulcos
pequenos, minúsculos,
amasiada, enlaçada
por pedra.
E a água era pura.
Vinha das chuvas
lavadeiras
que varriam o pó
do templo.
Gota a gota.
Água e pedra.
Assim era no passado
dentro do templo,
longe dos homens.
25/07/1989
*****
Eu escuto o tempo
e grito ao vento
meus versos brancos.
Como andarilha que sou
percorro os becos
perscruto a noite
abafo meus passos
no silêncio torpe.
E meus olhos insones
se perdem e confundem
estrelas cadentes.
*****
As palavras oscilam
vacilam, indecisas,
imprecisas, inexatas.
Corro meu olhos
na tela do tempo
e me perco
entre tantas frases
caladas
entre tantos sonhos
mortos
Teço meu véu
minha sombra
oculta
na sombra dos dias
em que vivo.
*****
* O resultado da enquete não tem caráter científico, é apenas uma pesquisa de opinião pública!