'Usar o ponto final é um ato de coragem' - Por Rodrigo de Souza

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Dias atrás li a seguinte postagem: "Usar o ponto final é um ato de coragem". 
 
Fiquei pensando, pois sempre achei que a vírgula nos dava uma nova oportunidade, mas será que o ponto final também não nos dá? Será ele o fim? Ou será ele o marco para um novo início? Um recomeço? Quem sabe, talvez, o start rumo ao nosso futuro ainda não escrito.
 
O ponto final denota uma pausa mais longa, mas não necessariamente um fim, pode ser usado tanto para uma conclusão de uma frase quanto em uma oração declarativa ou em um raciocínio, enfim, o ponto final está mais para demarcar um início do que para um encerramento.
 
Também me ocorreu pensar acerca da pulsão de morte da psicanálise que em grande medida precisa da pulsão de vida para impulsioná-la. Lembrei que o fim, quando a busca acaba, quando não temos mais nada a conquistar é a volta ao início, ao momento em que estávamos no útero materno.
 
Outro ponto importante diz respeito à palavra “Coragem”, termo incrustado em nosso inconsciente desde que nascemos, onde ao ouvi-la já vem a nossa mente algum ato heroico, um super-herói, alguém que se destacou por alguma ação em prol dos demais, mas será só isso mesmo? Será que apenas os heróis, sejam os da ficção ou mesmo, os "da vida real" (bombeiros, policiais, enfermeiros, médicos, aqueles que realizam algum ato para salvar o outro) têm coragem?
 
Afinal, qual a definição de coragem, ou melhor, o que define um ato de coragem? Na psicanálise poderíamos dizer que a coragem seria a tentativa de vencermos a angústia do viver, afinal, é preciso ter coragem para viver e principalmente, para ser. Diante disso, me pus a pensar.
 
Será que conseguir dar fim a uma relação abusiva, colocando um "ponto final", não é um ato de coragem? Ou ainda, se assumir homossexual para os amigos, colegas e familiares, colocando um "ponto final" em tanta humilhação, tristeza por não poder mostrar quem você verdadeiramente é e ser aceito, não é um ato de coragem?
 
Ou, alguém que resolve pedir ajuda para acabar com um vício ou uma compulsão, dando um “ponto final” nesse círculo nefasto, assumindo que tem um problema, não é um ato de coragem?
 
E aquele que procura tratamento por estar em depressão e não conseguir vence-la sozinho. Será que decidir colocar um "ponto final" nesse desespero, nessa desesperança, não é um ato de coragem? E os que lidam com a obesidade ou com a
anoxeria, que perdem a própria identidade, mas antes de sucumbir, pedem ajuda para dar um "ponto final" a tudo isso, não é um ato de coragem?
 
Como será a vida daqueles que têm ansiedade patológica ou crises de Pânico frequentes, será que reunir forças para procurar ajuda colocando um “ponto final” nos medos, crises e inseguranças não é um ato de coragem?
 
E o que dizer daqueles que têm ideação suicida, não saber lidar com tal situação, não ver razão para continuar, conjecturar uma atitude extrema. Será que romper esse ciclo e procurar ajuda, se expor, dizer o que sente, buscar forças onde não acredita ter mais e colocar um “ponto final” nesse sentimento não seria um ato de coragem?
 
Tomar a decisão de doar algumas horas do seu dia ou da sua semana para fazer caridade ou simplesmente, para parar e ouvir alguém na rua, oferecer um abraço, rompendo esse ciclo de falta de empatia, de bondade, de pouca compaixão pelo
próximo colocando um "ponto final" nisso, não é um ato de coragem?
 
Ou você se olhar no espelho, assumir as suas rugas, se aceitar como você é, fazer um mea culpa, ver onde está falhando, no que pode melhorar, e principalmente, ser menos crítico com você mesmo, permitir se amar, ter mais autocompaixão, aceitar o mundo real, sem dor, culpa ou frustração, entendendo que o mundo idealizado só existe na nossa mente ou nas redes sociais, colocar um "ponto final" nesse relato, aceitando que você é em parte a soma das suas ações, do que você pensa e faz e podendo finalmente ser feliz com o que tem e com o que você é, não é um ato de coragem?
 
Cada momento histórico tem a sua ideia de coragem, de êxito e de fracasso, e por assim dizer, de ponto final.
 
Hoje, vivemos em uma sociedade focada no parecer, muito além do ser, até a ideia de sucesso está distorcida, são clicks, likes, curtidas, “fotos bafônicas” e rells viralizantes ou puxadores de cancelamentos que estão na moda, e é preciso coragem para colocar um ponto final e resolver acreditar que o mundo real pode ser satisfatório.
 
O problema é que no mundo real há riscos e riscos envolvem possibilidade de fracassos e o fracasso nos dá medo e a ideia de que não somos bons, e para evitar correr riscos e não “sermos bons”, abandonamos a coragem de tentar acertar e
optamos por ficar estagnados não colocando um ponto final nesse círculo odioso.
 
Vencer, crescer, evoluir requer disposição para errar e cair e eventualmente, fracassar, as pessoas confundem o fracasso com a derrota, quando na verdade cada fracasso nos ensina e nos prepara para a vitória; se achar um fracassado, isto sim é um sentimento de derrota.
 
Ter coragem para por um ponto final, é também renunciar a certos desejos, pulsões e demandas que normalmente se resiste em abrir mão.
 
Fazer terapia, qualquer uma, e a psicanálise em especial, é crescer, mas também é perder e se reinventar, alias, a vida também é assim, e para isso tudo é necessário ter coragem, a cada passo, um ponto final e um acerto de rota.
 
Enfim, eu poderia ficar horas dando exemplos de atos de coragem realizados diariamente por pessoas como você, como eu, sem nunca nos darmos conta que os verdadeiros heróis somos nós, os comuns, os normais, aqueles que lutam diariamente contra as probabilidades.
 
Seja como for, acredito que o ponto final nunca indica um fim absoluto, e sim, um novo recomeçar.
 
Como bem disse Freud, “...vivemos de pequenos gozos”, ou seja, de pequenos pontos finais. Isso quer dizer que estamos em constante evolução e sempre conquistando e buscando algo novo.
 
No fim, cada derrota, cada perda, cada obstáculo é uma oportunidade para recomeçar, e não tendo medo de ser piegas e ou lugar comum, depois de toda longa e escura noite, sempre nasce um novo dia.

Pense nisso.
 
Namastê....

Rodrigo de Souza
Psicólogo Clínico Mestre em Psicologia e Processos Psicossociais
@psicologiaempilulas
Direito ao esquecimento

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