Diabetes, grama e carisma: palavras masculinas...ou femininas? - por Marcos Lock

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Esta semana mais um caso foi flagrado por este jornalista e pesquisador da nossa querida Língua Portuguesa. Eu estava numa fila de banco quando ouvi uma pessoa logo atrás dizer que tinha “uma” carisma por outra ali próxima. Soou estranho? De fato, porque o correto é “um” carisma, apesar desta palavra terminar em “-a”. Este é um engano cometido por muita gente porque a questão do gênero, em nosso idioma, não é simplesmente definida pelos artigos no final das palavras. Em português, é bom frisar, não existe o¬ficialmente o gênero neutro e, por isso, os substantivos são distribuídos apenas em masculinos e femininos. 
 
Quer outro exemplo? Quem consegue no dia a dia lembrar que a palavra “grama”  (unidade de peso) também é masculina? A influência da outra grama, aquela que está no jardim, é muito forte. Esta é mais uma palavra que termina em “-a” e, assim como “carisma”, tende a ser considerada feminina.  
Outra palavrinha que o povo não engole como masculina é “dó”, no sentido de compaixão ou de nota musical. A maioria a emprega como feminina, embora ela continue sendo masculina. Então nada de dizer que você “tem muita dó dos cachorrinhos abandonados”. O correto é : “Tenho muito dó dos cachorrinhos abandonados”.
 
Veja outros exemplos: “Tenho um grande dó de quem passa fome.”; “Sinto um dó enorme quando ela está chorando.”; “O pianista tocou um dó sustenido.” Este é um erro que ocorre porque as pessoas associam, erradamente, a palavra dó a “pena”, “piedade” ou “compaixão”, que por sua vez são sinônimas e femininas. 
 
DIABETES — Mas veja o caso de “diabetes” e “personagem”. Tempos atrás ambas eram apenas masculinas e, de tanto as pessoas insistirem em torná-las femininas, hoje os dicionários Houaiss e Dicio já as tratam como substantivo de dois gêneros. E mais ainda: a forma “o diabetes” e “o personagem” estão aos poucos desaparecendo, para dar lugar somente a “a diabetes” e “a personagem”. Bom, agora acho que entendo por que Carlos Drummond de Andrade disse que brigar contra as palavras é uma luta inglória. 
 
Nomes terminados em “-e” são relutantes e se dividem democraticamente entre masculinos e femininos. Assim temos “o pente”, “o mestre”, “o dente”, assim como também “a grade”, “a mente”, “a hélice”, “a laringe”, “a neve”, “a árvore”, “a catástrofe”, e muitas outras.
 
Merece atenção especial o caso de “poeta”/“poetisa”, “mestre”/“mestra”. Apesar dos dicionários Dicio, Houaiss e o Aulete, trazerem as duas formas, há uma forte tendência em estabelecer apenas a forma masculina (ao contrário do que está acontecendo com “diabetes” e “personagem”). Alguém cismou que "poetisa" é uma forma menor de tratar Cora Coralina, Cecília Meireles ou Adélia Prado; e que “mestra” sugere diminuir o valor acadêmico das mulheres. Atenção, o alerta vale porque isso já aconteceu com “oficiala” de justiça e “generala” de exército, termos que morreram e hoje só registram a forma masculina. Talvez percebendo este processo linguístico Dilma Roussef não tenha deixado que ocorresse o mesmo com “presidenta”, termo com o qual ela fazia questão de ser chamada. 
 
Até a próxima coluna amigos leitores!
 
 
(*) Marcos Lock é jornalista profissional e professor de Língua Portuguesa pela Universidade Federal de Rondônia (Unir)
 
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DÚVIDAS E SUGESTÕES PARA ESTA COLUNA DEVEM SER ENVIADAS PARA O WHATSAPP (69) 9.9328-1521, AOS CUIDADOS DO PROFESSOR MARCOS LOCK.
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