E agora, manés? - Por Paulo Saldanha

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CRÔNICAS GUAJARAMIRENSES

E AGORA, MANÉS?

Inspirado nos versos do grande Carlos Drummond de Andrade, ouso repaginar o poema com outras interrogações. E eis que surgiu “E agora, manés?” É um mini protesto por conta da solidão que vejo pairar no horizonte rondoniense, como se nos sentíssemos relegados a último plano, posto que aqui no Município de Guajará-Mirim demos a vitória a Marcos Rogério e, agora, “esperamos” ter a esperança de não sofrermos retaliações...Afinal, o Marcos Rogério, do PL, recebeu 60% (sessenta por cento) dos votos neste município, contra 40% para o coronel Marcos Rocha, do UNIÃO.

 

E nós, Manés - segundo a debochada expressão do irritado ministro Barroso, quando em viagem aos EUA -, não nos daremos por vencidos!

 

E agora, Manés? A eleição acabou, a luz não apagou e nem o povo sumiu, a noite esquentou, e agora, Manés? E agora, você? E agora, nós? Nós que não temos nomes, mas apenas somos números no CPF, no RG, na Carteira de Trabalho, proibidos de protestar! E agora, Manés?

 

Embora reconheça que as interrogações devam ser direcionadas não à Prefeitura, mas ao Governo do Estado, ouso perguntar: e agora, sairá o novo hospital? E o Regional se tornará viável? E o Estádio Municipal será concluído nessa milionésima tentativa de recuperá-lo? O antigo Hotel Guajará, suas obras terão continuidade?

 

A administração municipal, que tanto apoiou a reeleição do coronel Marcos Rocha, será fortalecida?

 

O “Tchau Poeira” nas ruas e avenidas guajaramirenses terá continuidade?

 

Ou ficaremos sem mulher, sem discurso, sem carinho, sem bebida e sem cigarros durante a longa noite fria entre primeiro de janeiro de 2023 e 31 de dezembro de 2026?

 

O novo – porém já velho hospital - será ressuscitado? Há mais de cinco anos paralisado, em que pese restarem apenas 16% de serviços para a sua conclusão e, depois, equipá-lo, será entregue?

 

O único estádio, cujas obras suspensas, talvez por falta de orçamento e de recursos financeiros, virou um esqueleto - como todos, feioso e desengonçado, estando sem utilização. Uma caveira de burro alguém enterrou por ali...

 

Melhores dias não chegaram e o riso estancou na nossa garganta! E as obras viraram utopias nas nossas vãs expectativas.

 

Será que tudo acabou? Será que a ação fugiu e a iniciativa mofou?

 

E agora, Manés?

 

Desde há muito vivemos de promessas políticas, das doces palavras que inebriam, traem e vilipendiam, deixando-nos tão decepcionados que uma febre quase agônica será traduzida como decorrente de um jejum, de uma abstinência, consequência de uma voracidade que ostentamos desejando ser gulosos na resolução de nossos problemas sócio-econômicos e estruturais. Será pedir demais?

 

Aliás, passamos no momento por uma gula social tamanha, oriunda da carência afetiva, sentimental e político-administrativa, cujas origens remetem aos palácios dos governadores de plantão dentro de promessas que nos deixaram calejados, culminando em que nada agora nos motiva a dar crédito de confiança a quem quer que seja.

 

Imaginem, caros leitores, que o Governo Federal, de mãos dadas com os do Estado, tomou uma decisão positiva sob todos os aspectos, criando as escolas militares (inclusive noutras províncias), que, na visão de milhões de brasileiros, representou uma medida coerente, prudente e oportuna na melhor preparação do alunado tupiniquim. Mas, foi cometido o acinte de mudar os nomes de colégios, cuja tradição homenageava figuras emblemáticas. No caso de Guajará-Mirim, por exemplo, foram mudados o do saudoso Alkindar Brasil de Arouca e da Irmã Maria Celeste, esta a primeira professora de tantas linhagens de nativos que se tornaram vencedores... 

 

O senhor Alkindar Arouca foi empreendedor, comerciante, seringalista, homem público dos mais ativos e poeta dos melhores que pisaram no nosso chão. Escolhido como o primeiro-secretário da Prefeitura Municipal, teve atuação destacada da formulação de diretrizes, políticas e fundamentos durante a sua implantação, a partir de 1929. Liderou uma família ao lado de sua gentilíssima esposa, a senhora Arthemis Struthos Arouca, presenteando filhos que atuaram no serviço público desde que estas terras eram matogrossenses e guaporenses.  

 

Pois bem, o Governo de Rondônia cassou a homenagem pertinente, apropriada e oportuníssima a Alkindar Brasil de Arouca, causando desconforto aos seus descendentes, como no caso do doutor Hélio Struthos Arouca, médico competente, profissional de reconhecido valor, cujos méritos são decantados por gerações e gerações de moradores destas plagas, inclusive de Porto Velho e de todo o sagrado vale do Guaporé, lugares que mereceram a sua ação profissional e cívica. Tristeza! Falta de sensibilidade e de compromisso com a história, com a cultura... e até com a justiça...

 

E diante de tanta incoerência, vistamos um pijama de vidro em protesto contra tanta ignomínia, pois até o rio Mamoré secou tanto de tanta vergonha, demonstrando que é preciso gritar, é preciso gemer para que a gratidão jamais venha a morrer.

 

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