DOCUMENTÁRIOS: Quando a extrema direita tocou o pavor na América

DOCUMENTÁRIOS: Quando a extrema direita tocou o pavor na América

Foto: Divulgação

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Dois documentários impactantes e chocantes disponíveis na Netflix evidenciam, de forma contundente, o poder destrutivo do desvio de conduta de pessoas que se identificam com a extrema direita nos Estados Unidos. Essas ações resultam em tragédias motivadas por ideologias armamentistas ou por atos de terrorismo cometidos em nome de uma suposta liberdade de expressão que beira o fanatismo — seja religioso, seja ideológico.
 
O primeiro é O Cerco de Waco: Um Apocalipse Norte-Americano, lançado em 2023 pela Netflix. Dividido em três episódios, o documentário aborda uma ação ocorrida em 1993, que envolveu o FBI — órgão do governo federal — em confronto com um culto religioso chamado “Ramo Davidiano”, liderado por David Koresh, um extremista religioso com traços psicopatas.
 
O segundo é Atentado em Oklahoma: Terror nos EUA, documentário lançado em abril de 2025, também pela Netflix. Ele retrata o maior atentado terrorista doméstico já ocorrido nos Estados Unidos antes do 11 de Setembro: a explosão do Edifício Federal Alfred P. Murrah, em 1995, que causou a morte de 168 pessoas, incluindo 19 crianças.
 
É importante contextualizar que, nos Estados Unidos, a Constituição é um documento considerado sagrado e rigorosamente respeitado pelos Estados que compõem a chamada América WASP (White Anglo-Saxon Protestant — Protestantes Anglo-Saxões Brancos). Apesar de terem ocorrido alterações ao longo do tempo, elas são mínimas em comparação ao texto original, redigido pela Convenção Constitucional da Filadélfia em 1787, aprovado em 17 de setembro do mesmo ano e que entrou plenamente em vigor em março de 1789.
 
A emenda mais sagrada para os estadunidenses é aquela que garante o direito ao porte de armas. Na polêmica Segunda Emenda, está plenamente assegurado o direito dos cidadãos de manter e portar armas, conforme o texto original:
 
"Uma milícia bem regulamentada, sendo necessária à segurança de um Estado livre, o direito do povo de manter e portar armas não será infringido."
Essa emenda foi aprovada em 15 de dezembro de 1791, como parte da Declaração de Direitos (o chamado Bill of Rights), que consiste nas dez primeiras emendas à Constituição dos Estados Unidos.
 
 
 
O Cerco de Waco: Um Apocalipse Norte-Americano
 
Talvez um dos documentários mais poderosos já produzidos pela Netflix, O Cerco de Waco: Um Apocalipse Norte-Americano é dirigido por Tiller Russell — também responsável pelo excelente Night Stalker: Tortura e Terror. Dividido em três episódios, a série apresenta imagens brutais e impactantes do confronto entre agentes federais (FBI), forças nacionais e policiais estaduais no Texas, mais especificamente em uma fazenda localizada na região de Waco.
 
 
A propriedade em questão funcionava como quartel-general de uma comunidade do culto religioso Ramo Davidiano, liderada por David Koresh, um homem que se autoproclamava profeta e exercia controle absoluto sobre os membros do grupo — homens, mulheres e crianças que viviam sob sua autoridade.
 
A série começa de forma contundente, já mostrando o início da operação do FBI, motivada por denúncias de que havia uma grande quantidade de armas armazenadas entre os membros do culto.
 
O roteiro da série, entretanto, não aprofunda de imediato a origem de David Koresh, deixando para o terceiro episódio algumas explicações sobre como ele conseguiu, em tão pouco tempo, reunir famílias em uma comunidade marcada pelo extremismo religioso.
 
O Ramo Davidiano tem origem na Igreja Adventista do Sétimo Dia — de linha protestante e restauracionista — surgida nos Estados Unidos em 1930. Em 1955, uma cisão dentro do grupo levou à formação do chamado “Davidiano”, posteriormente liderado por David Koresh. Ele se autodeclarava o último profeta e afirmava que seus seguidores deveriam se preparar para a segunda vinda de Jesus Cristo, conforme descrito no livro do Apocalipse.
Com esse desígnio religioso, o líder do culto também nutria ideias belicistas que jamais ficam totalmente claras. Além disso, havia denúncias de pedofilia envolvendo crianças cujos pais seguiam o grupo.
 
O documentário, ao longo de seus três episódios, apresenta um rico material composto por depoimentos de envolvidos — entre autoridades e sobreviventes —, além de imagens que retratam o cerco conduzido pelas forças federais na fazenda, o confronto inicial e os 51 dias de tensão até o desfecho, com ampla cobertura da imprensa e pressão crescente por parte do governo.
 
 
Nada é poupado ao mostrar como esse período foi catártico: o caso movimentou a mídia e gerou protestos e revolta, principalmente entre grupos da extrema direita, que viam em David Koresh um símbolo da liberdade de expressão e religiosa. No entanto, esses apoiadores ignoravam o viés bélico e a violência presentes nos discursos do líder, que nunca descartou o confronto direto e chegou a ameaçar um suicídio coletivo entre os seguidores — numa possível repetição do que ocorreu com Jim Jones, na Guiana.
 
As imagens, captadas sob o ponto de vista dos agentes federais e dos envolvidos, registram com detalhes as perdas humanas de ambos os lados. O final trágico do episódio é marcado por um incêndio criminoso dentro do complexo religioso, iniciado pelos próprios membros sob ordens de David Koresh. O fogo resultou na morte de 74 pessoas, incluindo 25 crianças.
 
A série também evidencia os erros e a incompetência do próprio FBI, que, temendo a repercussão de mortes de mulheres e crianças, permitiu que o cerco se prolongasse por 51 dias sem uma estratégia clara ou um plano de ação imediato. Essa inação gerou insatisfação até mesmo no então presidente Bill Clinton. O episódio foi encerrado em 19 de abril com o incêndio, causando comoção nacional e dando origem a um debate intenso sobre os limites da liberdade religiosa, especialmente quando associada ao armamentismo. As armas armazenadas na comunidade eram compradas pelos próprios membros e incluíam metralhadoras, submetralhadoras, explosivos e granadas, guardados em um cômodo da fazenda.
 
"Atentado em Oklahoma: Terror nos EUA" é um documentário impactante em formato de longa-metragem, tão surpreendente que passa rapidamente. Nele, o diretor Greg Tillman, com a produção de Tiller Russell — o mesmo responsável por “Waco: Apocalipse Americano” —, apresenta, em uma estrutura tradicional, um dos atentados terroristas mais devastadores da história dos Estados Unidos: a explosão que destruiu metade do Edifício Federal Alfred P. Murrah, em Oklahoma City, em 1995, exatamente dois anos após os acontecimentos de Waco.
 
 
A produção realiza uma pesquisa de imagens minuciosa, mostrando o fatídico dia da explosão desde antes de ela acontecer. São utilizadas imagens de câmeras de segurança e até registros de pessoas que fotografavam dentro do prédio. Logo nos minutos iniciais, fica claro que se tratava de um edifício federal comum, com repartições públicas em funcionamento, funcionários circulando normalmente pelos ambientes. No interior do prédio, também funcionavam uma escola e uma creche, destinadas aos filhos dos servidores.
 
O dia 19 de abril de 1995 — coincidentemente o mesmo dia do desfecho trágico do cerco de Waco, ocorrido dois anos antes — começa como um dia qualquer, até que um estrondo ensurdecedor e uma explosão avassaladora interrompem a rotina, provocando um choque estarrecedor. A partir daí, o documentário apresenta depoimentos de sobreviventes e testemunhas, que relembram os momentos imediatamente posteriores à explosão.
 
Com o uso de imagens de arquivo, trechos de reportagens e transmissões de televisão da época, o documentário cria uma experiência imersiva. A direção busca retratar a tragédia em tempo real, minuto a minuto, após a detonação. São inseridos áudios de policiais, ligações desesperadas acionando os bombeiros e imagens impressionantes feitas por helicópteros de emissoras locais, mostrando ambulâncias, viaturas de resgate e uma densa fumaça negra que encobria parte do centro de Oklahoma City.
 
Para intensificar o impacto visual, a produção também recorre a recriações da tragédia. Mas são as próprias imagens reais da época que mostram como, ainda durante o resgate de vítimas, os agentes policiais começaram as investigações. O ponto de partida foi uma peça de um caminhão encontrada jogada na calçada, próxima ao prédio parcialmente destruído.
 
Evito dar spoilers sobre os detalhes da investigação — ainda que os fatos já sejam amplamente conhecidos —, mas é revelado que o responsável pelo atentado era Timothy McVeigh, um extremista de direita e ex-militar dos fuzileiros navais. Ele planejou o ataque com a ajuda de um cúmplice, também ex-fuzileiro, Terry Nichols. Ambos agiram movidos por um desejo de vingança pelos acontecimentos em Waco, e escolheram a data de 19 de abril como uma das primeiras pistas simbólicas do crime, o que chamou a atenção do FBI.
 
 
Para se ter uma ideia da magnitude do ataque, foi utilizado um caminhão-bomba contendo 2.180 kg de explosivos caseiros — uma mistura de nitrato de amônio, nitrometano e diesel. A explosão causou a morte de 168 pessoas, entre elas 19 crianças, além de ferir mais de 600. O impacto foi tão poderoso que, além de destruir um terço do prédio, causou danos estruturais em mais de 300 edifícios nos arredores.
 
O documentário mostra em detalhes o processo de investigação que levou à identificação e prisão de Timothy McVeigh — que escapou por pouco de um linchamento popular —, bem como o julgamento e as sentenças aplicadas a ele e aos envolvidos na logística do atentado.
 
O mais chocante, contudo, é perceber que, assim como em Waco, os envolvidos acreditavam estar no direito de protestar contra o governo de Bill Clinton e suas decisões naquele momento da história americana. McVeigh via seu ato como uma forma de "purificação" ideológica, um manifesto extremo contra o governo federal, motivado, entre outros fatores, pelo que aconteceu com a comunidade liderada pelo fanático David Koresh.
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