No próximo domingo (13), a HBO, através do serviço de streaming Max, estreia a segunda temporada da série The Last of Us, baseada na segunda parte do game desenvolvido pela Naughty Dog — o mais premiado da história na categoria "ação narrativa" e, talvez, o jogo mais intenso do PlayStation 4.
Quiçá, para mim, o melhor jogo que já joguei na vida — bem próximo de God of War 3, Far Cry 3 e Far Cry 4.
Na produção da HBO, a série conta com roteiro e direção de Craig Mazin (responsável pela excelente minissérie Chernobyl) e de Neil Druckmann, criador e diretor dos jogos da Naughty Dog, que acompanha de perto a adaptação, permitindo algumas liberdades em relação à obra original.
A história se passa em um mundo pós-apocalíptico, onde um fungo — o Cordyceps — se espalhou de forma avassaladora, transformando pessoas em hospedeiros. O fungo manipula a mente e o corpo, causando uma doença degenerativa que transforma os infectados em zumbis e parasitas letais, cuja única função é se alimentar e contaminar mais pessoas.
Diante dessa ameaça, o governo dos EUA criou uma agência militar e científica, a FEDRA (Federal Disaster Response Agency, ou Agência Federal de Resposta a Desastres), que passou a controlar as cidades transformadas em zonas de quarentena. Nesses locais, os não contaminados — ou sobreviventes ao fungo — vivem sob um regime autoritário, numa sociedade repressora da qual não se pode sair ou escapar.
A partir desse sistema de controle governamental surgiu um outro grupo, rebelde e paramilitar, que luta contra a Fedra: os “Vagalumes”. Com uma proposta mais progressista, eles buscam uma cura para a contaminação pelo Cordyceps.
Dentro desse pano de fundo, The Last of Us constrói uma história de sobrevivência — a jornada de um homem desiludido e quebrado pelo passado, encarregado de conduzir uma garota que foi mordida por um infectado, mas que não se transformou em zumbi. Ela pode ser a chave para o desenvolvimento de um antídoto, guardado em um hospital controlado pelos Vagalumes.
A primeira temporada, baseada no primeiro jogo lançado em 2013 (que encerrou a geração do PlayStation 3), foi um sucesso. A adaptação segue — com algumas modificações pontuais que adicionaram mais peso dramático — praticamente o mesmo fio narrativo: a história de uma garota de 13 anos, Ellie (vivida brilhantemente por Bella Ramsey), que precisa ser protegida e guiada por Joel (Pedro Pascal, também excelente), um contrabandista marcado por um trauma do passado, e por Tess (Annie Wersching), até um ponto de encontro com os Vagalumes.
Quem jogou o game conhece o desfecho dessa jornada e suas consequências. Para quem assistiu apenas à série, a narrativa manteve a mesma essência, inclusive com episódios que reproduzem cenas catárticas e chocantes.
Para quem ainda não viu nenhuma das mídias, recomendo fortemente a série da HBO — uma das produções mais bem feitas do estúdio — que pode ser assistida de forma independente da obra original nos videogames.
A segunda temporada de The Last of Us continua a história de Ellie e Joel, agora vivendo na cidade de Jackson, uma fortaleza protegida por muros altos e com uma estrutura mais ordeira e comunitária. A narrativa dá um salto temporal de cinco anos em relação aos eventos da primeira temporada. Ellie agora tem 18 anos e, apesar de ainda viver próxima a Joel, os dois se distanciaram emocionalmente. Eles continuam contribuindo com a comunidade em funções diferentes: Joel trabalha no setor de engenharia, enquanto Ellie atua na patrulha e segurança da cidade.
A principal diferença que será percebida nos episódios iniciais, em comparação com o segundo jogo — já que se trata de uma adaptação — é que, enquanto no game há uma divisão clara entre personagens e ações que movem a trama da vingança (no caso, Ellie e Abby, interpretada na série por Kaitlyn Dever), na série essa construção será mais gradativa. Logo de cara, vamos entender as consequências dos atos de Joel no hospital, onde Ellie seria operada em busca da cura. (Estou evitando spoilers, prometo.)
O que é importante saber sobre a segunda temporada é que Abby será a personagem mais relevante e o principal motivo da existência do segundo jogo. Muito do que será desenvolvido em termos de ação, motivação, jornada e conflito gira em torno das decisões dela e de suas consequências. Mesmo com uma possível participação mais curta nesta temporada, a motivação da Abby será o que impulsionará a trajetória de Ellie — exatamente como no jogo.
Como o segundo game é extenso e traz muitos desdobramentos para ambas as personagens, a terceira temporada já foi confirmada e deve focar principalmente na jornada de Abby. Como isso será adaptado para o formato da série, só descobriremos daqui a dois anos.
Algumas curiosidades do jogo que devem impactar diretamente a segunda temporada da série: The Last of Us Part II foi escrito por Neil Druckmann (produtor e consultor criativo da série na HBO), em parceria com a roteirista Halley Gross — responsável por trazer inovações ousadas na narrativa das duas protagonistas. Embora o tema central do jogo seja a vingança, ele se aprofunda em questões como consequências, redenção e aprendizado. Em um mundo miserável e pós-apocalíptico, o verdadeiro perigo não está nos zumbis ou infectados — mas nas próprias pessoas que restaram.
A série também vai mostrar que, após a dissolução dos “Vagalumes”, surgiram outros grupos paramilitares, muitos deles formados por mercenários ou fanáticos religiosos — como os “Serafitas”, que estarão presentes nesta segunda temporada. Já os remanescentes dos Vagalumes deram origem aos “Lobos” — grupo ao qual Abby pertence — liderado com mão de ferro por Isaac, cujo objetivo é expandir seu território exterminando os Serafitas.
Os atores Ashley Johnson e Troy Baker repetem, respectivamente, no jogo, seus papéis como Ellie e Joel. Já a personagem Abby foi interpretada por Laura Bailey, utilizando como referência facial a gamer Jocelyn Mettler, e como modelo corporal a atleta profissional de CrossFit, Colleen Fotsch.
As performances dos atores foram realizadas por meio de captura simultânea de movimentos e voz, com as cenas encenadas em um grande estúdio, utilizando recursos técnicos criados especialmente para a geração do PlayStation 4.
A trilha sonora dos dois jogos, assim como da série da HBO, ficou a cargo do músico argentino e vencedor do Oscar, Gustavo Santaolalla. Uma curiosidade: tanto os desenvolvedores quanto os designers e programadores do jogo trabalharam em jornadas de 12 horas diárias ao longo de seis anos de desenvolvimento. O processo só sofreu alterações durante a pandemia da COVID-19, quando muitos passaram a atuar em home office — ainda assim, com metas rígidas de entrega.
O primeiro episódio da segunda temporada de The Last of Us será exibido no domingo, 13 de abril, às 22h (horário de Brasília), na plataforma Max e no canal HBO no Brasil. A temporada contará com sete episódios, lançados sempre aos domingos.