AUDIOVISUAL - Eu estava nas filmagens de 'Taba, Querida Taba', documentário da famosa boate de Porto Velho

AUDIOVISUAL - Eu estava nas filmagens de 'Taba, Querida Taba', documentário da famosa boate de Porto Velho

Foto: Divulgação

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Entre 1996 e 1997 eu já fazia minhas andanças jornalísticas como repórter do caderno de cultura do histórico e querido jornal Alto Madeira, e trabalhava também como editor das suas quase infactíveis quatro páginas diárias. 
 
Eu tinha a alcunha de “Detetive Cultural”, apelido dado pelo produtor e carnavalesco Carlinhos Maracanã, um grande parceiro na época e que estava sempre em algum evento artístico, como saraus, vernissages, estreia de peças de teatro e cobertura de shows. Em um determinado encontro com alguns produtores de audiovisual, fui abordado pelo fotógrafo Luiz Brito, que já tinha um currículo de staff muito bom na área de fotografia preto e branco, e lá estavam Berto Bertagna, Carlos Levy e Jurandir Costa – a base de criação do que depois seria o maior evento de audiovisual da região Norte, o Cine Festival Amazônia.
 
 
Quando eu soube que Luiz estava preparando um curta documentário e com insert ficcional para homenagear o saudoso empresário da noite, Carmênio Barroso, e a sua mitológica boate Taba do Cacique – point histórico e que em seu auge foi local de figuras políticas e um dos melhores fim de noite para reunir a nata da sociedade porto-velhense. 
 
Pois é, ele me convidou para participar ao lado de algumas figuras locais como figurante da parte ficcional do curta na noite em que filmaria o enredo dentro da Taba, numa única noite filmagem.
 
Na ocasião além da participação eu já teria em mãos informações para uma matéria exclusiva. Assim foi e assim topei.
 
Vamos voltar para os anos 90 e saber um pouco como funcionava a questão de financiamento e realização de produções audiovisual em Rondônia. Pois ainda era um período sem celular de última geração ou equipamentos menos leves ou portáteis em dimensões diminutas. Estamos falando de câmeras como o último elán da modernidade que era a Sony Digital, uma câmera supercara. Tinha custo e não era barato.
 
Era o primeiro governo de Valdir Raupp, quando ainda existia a Funcetur, fundação responsável pelo incentivo cultural no Estado, na época a entidade era presidida por Ruy Costa – o “Saca” – que em 1997 publicou um edital de apoio e recursos para a produção de curtas-metragens, que tinha a frente a coordenação de Flávio Carneiro. Foi um momento surpreendente e único para o audiovisual produzido em Rondônia, que vinha de forma independente lutando para se manter no panorama regional, quiçá nacional. 
 
 
Desse edital alguns produtores de audiovisual conseguiram se sobressair para realizar obras autorais, entre eles estavam Carlos Levy, o teatrólogo Alejandro Bedotti, o mobilizador de Ariquemes Lídio Sohn, Beto Bertagna – o mais experiente do grupo -, Jurandir Costa e Luiz Brito - que já tinha o seu projeto de paixão sobre a Taba do Cacique.
 
Luiz, rondoniense nativo do bairro Santa Bárbara, e que girou em diversos bairros tradicionais da cidade, sempre foi um apaixonado pelas histórias de locais que viu nascer ou conheceu. Desde cedo se apaixonou pela fotografia e depois de estudar em Belém (PA), acabou aprendendo técnicas de iluminação, luz e revelação. Com preferência por fotografia em preto e branco.
 
Ele tem o “olhar artístico”, diriam o especialistas.
 
Em “Taba, querida Taba”, Luiz montou o seu doc em dois tempos, a história ficcional de personagens da noite e que frequentava a boate; uma prostituta – vivida pela ótima atriz Ângela Cavalcante, na época parceira de Bedotti – e um bêbado, frequentador, vivido pelo ator, já falecido, Carlos Juruna – uma figura ímpar e que merece um artigo à parte. Havia o corte e entravam os depoimentos e histórias da casa noturna, com depoimentos do próprio Carmênio e do jornalista Euro Tourinho, do Manelão, além de outras figuras representativas da época, como o sambista e notória figura do carnaval local, Bainha. 
 
Um trecho seminal do documentário é a participação da jornalista Simone Norberto, hoje chefe de comunicação do Tribunal de Justiça de Rondônia, no papel de repórter que entrevista Carmênio.
 
 
Na ficcional eu estava lá entre os frequentadores da noite, dançando com uma mulher discretamente, em meio a tomadas de câmera e iluminação baixa, com tons vermelho – à meia luz. Ali ao meu lado estava também dançando o jornalista Paulo Queiroz. 
 
Sendo um documentário homenagem de uma das casas noturnas mais antigas de Porto Velho e que deixou marcas para os saudosistas, a Taba do Cacique, a memória permitida por Luiz para futuras gerações que se interessarem pelas histórias da sociedade porto-velhense, vão entender referências aos personagens típicos da cena noturna. Era um período mais inocente, mas não menos endossado pelos pecados da carne e do desejo. 
 
Carmênio Barroso, que nos anos 60 chegou a ser prefeito de Porto Velho por um curto período de tempo, no período pré ditatura militar até o dia do golpe no ano de 1964 quando foi preso, faleceu este ano no dia 02 de setembro, aos 94 anos.
 
“Taba, Querida Taba”, no mesmo ano que foi produzido e lançado, participou do Festival de Curitiba, ao lado de outra três produções rondonienses, e fez um circuito de festivais de curtas tanto no Norte quanto outras regiões.
 
O curta está disponível no Youtube e pode ser assistido abaixo.
 
 
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