AVANÇOS: Saiba detalhes dos relacionamentos abertos e trisais

Cada vez mais surgem casais a três ou que preferem relacionamentos mais flexíveis e que envolvam mais pessoas

AVANÇOS: Saiba detalhes dos relacionamentos abertos e trisais

Foto: Divulgação

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Tem gente que é extremamente conservador e acha que casal bom é casal que tem apenas duas pessoas unidas por sentimento e relacionamento, resumida por uma palavra meio complicada: monogamia.
 
Já alguns preferem que mais de uma pessoa esteja envolvida no amor ou na paixão na convivência diária. A partir daí é que surgem os relacionamentos abertos ou uma novidade que começa a ganhar adeptos em Rondônia: os trisais. 
 
E o que seria um trisal? No sentido literal da palavra, um relacionamento à três. E para alguns, é o número ideal em um relacionamento romântico.
 
No triângulo amoroso do bem, consensual, com regras bem definidas, e acima de tudo, respeito, é que surgem os trisais. O termo também é derivado do termo casal e segue os mesmos moldes do namoro ou casamento tradicional, mas com três pessoas.
 
Trisal é a modalidade ideal de relacionamento para alguns
 
O Rondoniaovivo tentou contato durante vários dias com pessoas que assumem que têm relacionamentos abertos, são adeptos do poliamor ou são trisais, mas por medo do julgamento da sociedade, preferiram continuar no anonimato.
 
Se engana quem acha que os trisais são baseados apenas em curtição; há regras definidas e muito respeito entre os envolvidos
 
Detalhes
 
O trisal é uma das formas de romance baseados no poliamor: conceito de que o amor afetivo e romântico não precisa ser compartilhado apenas entre duas pessoas, mas por quantas os envolvidos desejarem.
 
É fundamental destacar que tanto no trisal quanto nos outros formatos de poliamor, o conhecimento e o consentimento de todas as partes são itens inflexíveis. Diferente de todas as outras regras, que podem variar em cada relação.
 
E como o assunto vem despertando curiosidade e muitas dúvidas, trisais começam a dividir parte da rotina nas redes sociais e mostrando que o casamento é composto de amor e não um pecado. Lógico que há muitos “haters” por aí, com a intolerância sendo a maior dificuldade.
 
Muita gente que prefere apenas um parceiro ou parceira, critica quem é adepto do poliamor ou participa de um trisal
 
É o caso do o “Trisal Brasília”, que faz lives, caixinhas de perguntas e até mesmo o “tinder de trisal”, toda sexta-feira, quando buscam reunir interessados.
 
Dicas de como entrar em um trisal, lidar com o ciúme e outras demandas emocionais também fazem parte do perfil. Debates e troca de informações sobre os aspectos legais, jurídicos e outras burocracias também acontecem.
 
Opiniões
 
Anne Cleyane, fundadora da Associação Filhas do Boto Nunca Mais, entidade que luta pelos direitos das mulheres em Rondônia, acredita que o preconceito impede que mais pessoas sejam livres em seus relacionamentos. 
 
“A sociedade ainda traz sobre a mulher o julgo da ‘mulher’ direita, que precisa ser associada a casamento e filhos para poder ser considerada de sucesso. Quando se trata da liberdade sexual da mulher, a sociedade já se arma de argumentos para tentar marginalizar a mulher que sai da cartilha de casamento/monogamia/ filhos”. 
 
E segue: “Ela começa a ser vista de modo carregado de estigma ao declarar que prática poliamor, que fazem parte de trisais ou que se abriram para experiências sexuais diversas, são vistas como mulher que não se valoriza. São apontadas como mulheres sem juízo, alguns as julgam perdidas”. 
 
“Tudo isso porquê a sociedade emite sua opinião pautada em um conservadorismo que muitas vezes só servem para vida do próximo e com a própria régua. As pessoas geralmente renegam de cara essas práticas. Por pensarem no ‘medo’ de traição, pensando em seus ciúmes, necessidade de controle do/da parceira/o e assim julga a vida dessas mulheres baseadas em seus próprios medos”, disse a fundadora da Associação Filhas do Boto Nunca Mais. 
 
Anne Cleyane destaca as diferenças do tratamento entre homens e mulheres quando declaram que são à favor de formas diferentes de se relacionar. 
 
“Homens que praticam poliamor e outros modelos de relacionamentos, geralmente são alvo de piadinhas no máximo. As mulheres são alvo de xingamentos, julgamentos e até exclusão social de alguns círculos”, explicou ela.
 
Para que as pessoas entendam como funciona um relacionamento aberto ou trisal, o ideal é buscar informações, principalmente com pessoas que gostam da modalidade
 
Convivência
 
O psicólogo Rafael Pires, que é especialista em comportamento humano, faz uma rápida análise demonstrando ao Rondoniaovivo que o poliamor/trisais já existem no Brasil há muito tempo. 
 
“As relações de poliamor no Brasil não deveriam chocar para quem de fato olha para fora de sua própria bolha, não preciso mencionar a cultura indígena brasileira que antes da colonização branca europeia já mostrava dentro de sua avançada filosofia que a família não era somente o progenitor, mas todos aqueles que compartilham os afetos com a criança. Se formos olhar a nossa sociedade, o poliamor sempre existiu a nossa frente”.
 
E segue com a explicação: “No Brasil, o poliamor ganhou vários nomes assim como os trisais. Nomes como amigos, companheiros, grupinho de amigos que vivem juntos, que constituem famílias. As amantes, que são amigas dos nossos pais, quando não se existe uma rivalidade, mas um companheirismo. Quantos homens e mulheres não sabem sobre o tabu daquela pessoa que atravessa o relacionamento de alguém e convive com laços de amizade aquela relação dos casais?”.
 
Rafael Pires também acredita que pode existir hipocrisia ou falso moralismo quando as pessoas mudam o significado do poliamor ou dos trisais. 
 
“Não sei é hipocrisia ou falso moralismo, encobertar aquilo que já se é óbvio. Mas quando se muda o sentido do signo que já existe para dar um outro nome, e consequente significado, isso causa um burburinho social, logico. Mas, é evidente que são essas relações atravessadas por amores ditos proibidos ou levianos, que sustentam a família nuclear brasileira”.
 
Para Anne Cleyane, o melhor caminho para derrubar as barreiras que cercam o tema ainda é a informação de qualidade aliada com muita educação. 
 
“Informação é a base de toda evolução social. Os coletivos feministas com vídeos didáticos e chamativos podem divulgar dados sobre essas práticas, exemplificando a construção social em volta da monogamia e toda carga histórica que leva a mulher a propriedade de um homem, para garantir que seus filhos fossem deles de fato para perpetuar suas posses, é possível abordar essas questões de várias maneiras”.
 
Para os especialistas ouvidos pelo Rondoniaovivo, ainda há muito preconceito sobre o assunto, já que os relacionamentos abertos ou trisais existem desde o começo do Brasil
 
Termos
 
Definições para as várias formas de relacionamento segundo a página Poliamor Brasil:
 
Amor livre — Nome criado pelo movimento hippie nos anos 1960. Se refere ao sexo recreativo entre pessoas não envolvidas sentimentalmente. Atualmente, abarca também questões afetivas.
 
Amor romântico — Refere-se ao sentimento afetivo entre pessoas que se relacionam romanticamente, ou até mesmo ao sentimento de um para o outro, sem que exista necessariamente a reciprocidade.
 
Amizade colorida — Tradução aproximada de friends with benefits (amigos com benefícios). Trata-se de amizades onde existem interações sexuais, sem qualquer outro vínculo afetivo.
 
Metamor — O amor de meu amor. Metamor é uma pessoa com quem meu parceiro se relaciona, mas que não tem relações comigo.
 
Mono-normatividade — Normas culturais e sociais que defendem e perpetuam a monogamia, muitas vezes excluindo os relacionamentos não monogâmicos.
 
Não-monogamia — Ideologia que defende a opção de manter, simultaneamente, mais de uma relação sexo-afetiva. Não é o mesmo que poliamor, pois engloba outras formas de se relacionar, como a troca de parceiros ou relacionamentos abertos.
 
Poliamor — Modelo sexo-afetivo não-monogâmico em que as pessoas envolvidas têm sentimentos profundos. Envolvem simultaneamente várias pessoas, com o consentimento e o conhecimento de todos seus membros. Alguns desses relacionamentos têm também o nome geométrico. Um poliamor a quatro pessoas pode ser um quadrado.
 
Polécula (polycule) — Molécula poliamorosa. Representação geométrica de redes relacionais. Os mais comuns são a relação em V, o triângulo e o quadrado, mas existem muitas outras configurações.
 
Trisal — O trisal ou triângulo é uma configuração do poliamor que envolve três pessoas.
 
Trisal em V — Um dos membros mantém um relacionamento com os outros dois, mas estes dois não têm relação entre eles. Nesse caso, o vértice do V é chamado de pivô e as extremidades são conhecidas como braços. Cada braço é o metamor do outro. Esse formato é comum quando os poliamoristas são heterossexuais.
 
Trisal em triângulo — Cada um dos membros está relacionado aos outros dois. Neste caso, cada metamor é também amor do outro.
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